É já esta sexta-feira que arranca a edição 2024 do mítico Rali Dakar. Será a 46.ª edição daquele que é, seguramente, o mais mítico de todos os ralis de todo o terreno, pela sua história e pela sua dureza. Mesmo estando longe do que já foi.
Tudo começou a 26 de dezembro de 1978, com a primeira edição a ligar Paris, França, e Dakar, no Senegal. Nasceu, aí, o mítico Paris-Dakar, aberto a profissionais e amadores, que representam uma grande percentagem dos participantes.
Com uma ou outra mudança no percurso, essa ligação manteve-se até 1998 (em 1994 a prova começou e terminou em Paris depois de passar por Dakar). Em 1999 a partida foi de Granada, Espanha, e em 2000 correu-se do Dakar ao Cairo, no Egito. Lisboa também foi palco da partida do Dakar, em 2006 e 2007, mas em 2008 a prova entrou numa espécie de declínio.
Devido à falta de segurança na Mauritânia, os organizadores viram-se forçados a cancelar a disputa da edição desse ano, realizando depois os eventos seguintes, de 2009 a 2019, na América do Sul. Uma mudança que levantou muitas críticas. O Dakar manteve o nome, mas perdeu alguma da sua mística ao deixar os desertos africanos, mas a dureza manteve-se e aos poucos a prova voltou a ganhar visibilidade.
A partir de 2020 o Dakar passou a ser realizado na Arábia Saudita, depois das dificuldades sentidas pela organização para realizar a edição de 2019 (face às recusas de Chile e Argentina em pagar os valores pedidos pela ASO, entidade organizadora do evento). Esta será então a quinta edição em que a prova vai decorrer em exclusivo nas areias (e não só) sauditas.
Quando começa e quando acaba?
Desta feita, a prova decorrerá entre 5 e 19 de janeiro, num total de 12 etapas. Tudo começa com um prólogo, em Al-Ula, a 5 de janeiro, para depois acabar a 19 de janeiro, em Yanbu. Ao todo, a prova é composta por um prólogo, 12 etapas e 14 dias de corrida. Pelo meio haverá um dia de descanso, a 13 de janeiro.
Qual o percurso?
O percurso terá uma distância de aproximadamente 5.000 quilómetros de troços cronometrados (de um total de 7.891 quilómetros, 4.727 serão), com 60 por cento das secções a serem totalmente novas em relação às anteriores edições, cobrido uma grande faixa que vai de oeste para leste e atravessando o percurso em ambas as direções até ao final, em Yanbu, nas margens do Mar Vermelho.
No primeiro dia, um pequeno prólogo em Al-Ula, com um total de 158 km, ams apenmas 28 km de especial cronometrada. Seguir-se-á a 1.ª etapa, com a ligação de Al-Ula a Al Henakiyah (405 Km de especial), por entre vulcões, numa mistura de tons de cinza. A 2.ª etapa ligará Al Henakiyah a Al Duwadimi (Total 662 km / Especial 470 km), com cerca de 30 km de dunas de areia à espera dos pilotos logo na primeira metade do percurso.
A 3.ª etapa será entre Al Duwadimi e Al Salamiya (Total 733 km / Especial 440 km), numa mistura de zonas de pedras, vastas extensões de areia e ainda sequências de dunas. Depois, a Etapa 4, a 9 de janeiro, entre Al Salamiya e Al-Hofuf (Total 631 km / especial 299 km) será corrida num oásis repleto de palmeiras, com um percurso um pouco mais rápido, mas que será um autêntico desafio em termos de navegação.
A Etapa 5, com um total 727 km mas apenas 118 km de especial cronometrada, pode parecer mais fácil, pela sua extenção, mas por entre um mar de dunas a velocidade média vai baixar. A 6.ª etapa, entre Shubaytah e Shubaytah (Total 766 km / Especial 532 km) estender-se-á por dois dias, num desafio totalmente novo no Rali Dakar. A 7.ª etapa será depois do dia de descanso e ligará Ríade a Al Duwadimi (Total 873 km / Especial 483 km), num labirinto por entre ravinas, antes de uma secção de dunas.
A 8ª Etapa, a 15 de janeiro, ligará Al Duwadimi a Hail (Total 678 km / Especial 458 km), não se esperando dificuldades de maior. O mesmo não se pode dizer da 9.ª etapa, entre Hail e Al-Ula (Total 639 km / Especial 417 km), com a navegação a ser primordial por entre planícies rochosas. A 10.ª etapa voltará a ser corrida em Al-Ula, em loop em torno das rochas monumentais daquela zona.
A 11.ª e penúltima etapa vai ligar Al-Ula a Yanbu (Total 587 km / Especial 480 km), numa zona particularmente dura em termos de piso. Vai ser o último grande desafio em termos físicos para carros e pilotos. Por fim, a 12.ª e última etapa, em Yanbu (Total 328 km / Especial 175 km) não apresenta grandes dificuldades, embora esteja longe de poder ser considerada como apenas de consagração.
Quem são os favoritos?
Até às verificações, estavam inscritos 778 participantes, 135 deles estreantes, em 434 veículos - 137 motas, 10 quads, 72 ultimates (carros) e 46 camiões. A estes juntam-se 42 veículos challenger (antigos T3) e 36 SSV (antigos T4), estando ainda inscritos 66 carros clássicos e 14 Dakar classic.
Nos carros, a ‘dança de cadeiras’ nas equipas de topo e a provável despedida da Audi após três anos de projeto híbrido marcam esta 46.ª edição do Dakar. Vencedor das duas anteriores edições nos automóveis (de um total de cinco vitórias que já tem), Nasser Al-Attiyah trocou a equipa oficial Toyota por um lugar na Prodrive, que a partir de 2025, assume a preparação da equipa oficial da Dacia.
Na Prodrive, o príncipe qatari, de 53 anos, encontra o francês Sébastien Loeb, um dos seus principais rivais nos últimos anos e que tem, atualmente, no Dakar o principal objetivo de carreira.
Sem Al-Attiyah, a Toyota mantém a aposta no saudita Yazeed Al-Rajhi e no sul-africano Giniel de Villiers, vencedor em 2009, tendo ainda contratado a jovem ‘estrela’ norte-americana Seth Quintero. Já a Audi que nesta edição se deverá despedir das dunas sauditas com o seu projeto híbrido RS Q e-Tron, terá entre os seus pilotos os experientes e conceituados Carlos Sainz, Stéphane Peterhansel e Mathias Ekstrom.
Já nas motos, nomes como Luciano Benavides (Husqvarna), Toby Price (KTM), Sam Sunderland (GasGas), Daniel Sanders (GasGas), Pablo Quintanilla (Honda), Ricky Brabec (Honda), Skyler Howes (Honda), José Ignacio Cornejo (Honda), Adrien van Beveren (Honda) são nomes a ter em conta.
Kevin Benavides (KTM) defenderá a vitória na edição anterior do Dakar, e é bom não esquecer Joan Barreda (Hero), de volta para mais uma tentativa de vencer a prova, agora numa nova equipa, bem como o jovem Mason Klein (Kove).
Há novidades?
A Etapa 6, de 48 horas, num novo formato, disputada em dois dias e com as restrições de uma etapa maratona, irá certamente marcar esta edição da prova. Será um desafio totalmente novo para os pilotos, que terão de passar pelos vários bivouacs colocados pela organização ao longo da etapa, nos quais recebem apenas os equipamentos e suplementos suficientes para passarem a noite no 'Empty Quarter' (Bairro Vazio) sob as estrelas. Dormirão em tendas fornecidas pela organização e não terão assistência exterior. A comida também será distribuída pela organização e consistirá em rações militares.
Os pilotos não terão oportunidade de escolher companheiros para os ajudarem nas tarefas de manutenção, nem ajuda exterior. Vão estar completamente isolados. A navegação será fator crucial e os pilotos dos automóveis terão de encontrar o caminho sem a ajuda dos trilhos deixados pelas motos, que terão um percurso separado.
E dos pilotos portugueses, o que esperar?
As maiores ambições portuguesas na 46.ª edição do rali Dakar de todo-o-terreno, que arranca na sexta-feira, na Arábia Saudita, estão concentradas nas categorias das motas e dos SSV, os veículos ligeiros.
Ao todo, estão inscritos 23 pilotos portugueses, sete deles nas motas, com destaque para os ‘oficiais’ Rui Gonçalves (Sherco) e Joaquim Rodrigues Jr. (Hero). Aos 38 anos, o transmontano Rui Gonçalves ambiciona um lugar entre os 15 primeiros classificados.
Nos automóveis, o experiente Paulo Fiúza navega o lituano Vaidotas Zala (Mini), e Gonçalo Reis o espanhol Pau Navarro (Mini). Reis participou de mota em 2017, quando foi 26.º e segundo da classe maratona. No ano passado navegou Hélder Rodrigues, que este ano não participa. José Marques navega o lituano Petrus Gintas (MO).
Nos Challenger (antigos T3), destaque para a duplas Mário Franco/Daniel Jordão (Can-Am), que irá partilhar com crónicas regulares no SAPO Desporto as suas aventuras na prova, e para a dupla João Monteiro/Nuno Morais (Can-Am), às quais que se junta o antigo campeão nacional de todo-o-terreno, Ricardo Porém (Can-Am), navegado pelo argentino Augusto Sanz.
Nos SSV, o também leiriense João Ferreira faz dupla com o experiente Filipe Palmeiro, num Can-Am preparado pela South Racing, com ambições à vitória. Fausto Mota (que corre com licença espanhola) navega o brasileiro Cristiano Batista (Can-Am).
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