O desporto não conseguiu resistir ao avanço da inteligência artificial e, o maior de todos, o futebol, está a beneficiar dos dados que a IA pode fornecer e que o olho humano não consegue detetar.

A empresa Re.Spo Vision, com sede em Varsóvia, que afirma ser única na recolha de dados através de IA, tem dois objetivos imediatos: o futebol feminino e reacender o interesse da Geração Z em acompanhar eventos desportivos, disse o cofundador Pawel Osterreicher à AFP.

A empresa, que tem a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) e a Confederação da América Central e do Norte (CONCACAF) entre os seus clientes, consegue captar dados de jogos utilizando apenas um único ângulo de câmara.

Isto torna a recolha de dados muito mais barata, já que os jogadores não precisam de usar tecnologia no corpo como os GPS, nem é necessário utilizar várias câmaras para capturar as informações, graças à IA.

Futebol feminino: Benfica-Sporting
Futebol feminino: Benfica-Sporting Futebol feminino: Benfica-Sporting

O programa da Re.Spo Vision, que foi usado na Copa América do ano passado, recebeu recentemente a certificação da FIFA.

Osterreicher afirma que a IA pode fornecer dados sobre aspetos do futebol que os humanos não conseguem detetar, como aceleração, linhas de passe, mapas de calor e zonas de controlo.

Segundo o cofundador da Re.Spo Vision, os dados podem ajudar tanto os 'Golias' como os 'Davids', tal como aconteceu recentemente quando ajudou o Wisla Cracóvia, equipa da segunda divisão polaca, na sua surpreendente campanha rumo à conquista da Taça da Polónia em 2024.

Os jovens esperam ser cativados imediatamente... 'Tenho cinco segundos e, se não me interessar, deslizo para o lado', conta Osterreicher

No entanto, apesar deste sucesso, o empreendedor de 36 anos diz que ele e os colegas não têm como objetivo o Campeonato do Mundo nem o Mundial de Clubes masculino deste ano.

Em vez disso, estão a direcionar os seus esforços para a cobertura da edição inaugural do Mundial de Clubes feminino em 2028, o que se alinha perfeitamente com outro dos seus objetivos: travar a perda de interesse da Geração Z (pessoas nascidas entre 1997 e 2012) em acompanhar eventos desportivos.

"O que vemos atualmente no mercado desportivo em geral é que o desporto feminino está a crescer a um ritmo muito mais rápido. Claro que a partir de uma base mais baixa, mas está a crescer muito mais depressa do que o desporto masculino. Pode-se argumentar que o desporto masculino está saturado. Mas, atualmente, uma das melhores oportunidades de investimento e desenvolvimento no desporto são as ligas femininas, o desporto feminino e todos os meios de comunicação à sua volta", analisou.

Fazer mais com menos

Osterreicher acredita que isto pode ser uma forma de reativar o interesse dos espectadores mais jovens, "que estão a afastar-se em massa" do desporto.

"Os jovens esperam ser cativados imediatamente... 'Tenho cinco segundos e, se não me interessar, deslizo para o lado'. Por isso, o desporto feminino é também uma oportunidade para atrair audiências mais jovens, porque talvez já seja demasiado aborrecido ver sempre os mesmos esquemas, os mesmos jogadores", apontou

"Por isso, há muito investimento a ser direcionado para o desporto feminino — e da nossa parte também. Somos neutros. Humano é humano. Captamos dados sobre pessoas, não sobre géneros. Mas, definitivamente, cada vez mais clientes pedem-nos para cobrir apenas ligas femininas", detalhou ainda.

Wisla Cracóvia
Wisla Cracóvia Wisla Cracóvia créditos: x@Wisla Cracóvia

Osterreicher, que fundou a empresa com os colegas há cinco anos, diz ser um "realista", acrescentando que nem todos devem usar esta tecnologia, pois "é algo complexo e requer certos recursos".

Ainda assim, a vitória do Wisla na Taça da Polónia em 2024 mostrou que se pode "fazer mais com menos".

"Pode-se ter uma equipa mais pequena a usar a tecnologia de forma inteligente e depois derrotar os gigantes", afirmou.

Contudo, acrescenta que isto não é uma "poção mágica", pois as fragilidades humanas continuam a existir.

"Um jogador pode ter discutido com a mulher e estar desconcentrado", disse.

Apesar de esta tecnologia já estar testada e aprovada, Osterreicher e a sua equipa estão a poucos meses de lançar uma nova inovação para tentar reconquistar o público jovem, cuja lealdade passou para o TikTok, Netflix e outras plataformas.

"A forma como o desporto pode responder a isto é criar conteúdos muito mais adaptados aos gostos deles. Então, podes recriar um jogo em 3D — e é isso que estamos a planear fazer.", disse.

"Imagina um golo lendário a ser marcado, ou qualquer golo, e mudares para uma repetição a partir da perspetiva do jogador. Estamos, potencialmente, a entrar num mundo onde o desporto precisa de se reinventar um pouco, mudar a forma como é apresentado, para não perder esse público para os TikToks, videojogos e jogos mobile do mundo", finalizou.