O advogado João Medeiros, assistente no processo ‘Football Leaks’, expressou hoje, na terceira sessão do julgamento, ter vivido em “sobressalto constante” durante a difusão dos emails alegadamente alvos de intrusão por Rui Pinto, criador da plataforma.
João Medeiros explicou que foram publicados nove ‘gigas’ de documentos, que corresponde a cerca de 29 mil emails, datados até 23 de dezembro de 2018, que continham informação respeitante a vários processos “’apetitosos’ a nível mediático”, como o caso EDP, os Vistos Gold, o caso das Secretas/Jorge Silva Carvalho, a Operação Marquês – que contou terem sido “vazados todos os volumes que tinha digitalizado” -, entre outros.
“Foram momentos muito difíceis. Senti o meu computador completamente devassado, emails expostos, clientes a ligarem a perguntar o que se tinha passado. Eu, por aquilo ser divulgado a ‘conta-gotas’, vivia num sobressalto constante”, afirmou, considerando que “foram tempos de grande incerteza” e que, ainda hoje, não se sente tranquilo, admitindo inclusive ter recorrido aos serviços de uma psicóloga.
Apesar de o impacto da divulgação dos emails não o ter afetado do ponto de vista dos clientes, João Medeiros frisou ter sentido uma “grande repercussão” na sociedade de advogados PLMJ, para a qual trabalhava à data dos factos, que encarou “com seriedade” e onde “não se olhou a meios para tratar o assunto de forma profissional”.
“Não conseguia pensar em outra coisa, estava permanentemente em ansiedade. É uma sensação de uma pessoa ser ‘desventrada’, terem entrado na nossa vida pessoal e profissional”, sublinhou, contando que os seus colegas passaram a olhar para ele como se o “culpabilizassem por isto”.
O julgamento, a decorrer no Tribunal Central Criminal de Lisboa, prossegue na quinta-feira, com a quarta sessão, na qual serão ouvidos os restantes dois assistentes no processo, Rui Costa Pereira e Inês Almeida Costa, da parte da manhã, e o inspetor da Polícia Judiciária Miguel Amador, da parte da tarde.
Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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