O árbitro internacional FIFA Halim Shirzad refugiou-se em Portugal quando os talibãs tomaram o poder no Afeganistão e agora está integrado na Associação de Futebol de Santarém, dirigindo na próxima época jogos da II Liga e Liga 3.
Halim Shirzad é árbitro internacional desde 2019, mas com a saída do Afeganistão teve que recomeçar a vida em Portugal. E, para voltar a arbitrar, mesmo com as insígnias da FIFA, teve novamente que prestar provas.
Na época passada dirigiu jogos dos campeonatos distritais pela Associação de Futebol de Santarém. Em meados de junho, a convite do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, pelo facto de ser árbitro FIFA estrangeiro, integrou o curso de formação de elite de árbitros de futebol, realizado em Rio Maior.
Na temporada que se avizinha fará parte do quadro de árbitros de categoria C2, passando a arbitrar jogos da II Liga e Liga 3. A meta, assegura, é chegar ao topo da arbitragem em Portugal.
“Deram-me muita confiança quando cheguei. Todos procuraram ajudar, mesmo os árbitros com que convivi. Estou muito feliz e agradecido pela oportunidade que a Federação me deu. Sei que não será fácil, mas o objetivo é chegar ao nível mais alto em Portugal”, admitiu, em entrevista à agência Lusa.
Surpreendido com a gentileza e hospitalidade do povo português, Halim também não se esquece de quem o ajudou a adaptar-se quando chegou, principalmente o amigo José Silva.
“Foi um pai para mim. As nossas famílias estão juntas regularmente. Encontrei pessoas que nunca me viram na vida interessadas em ajudar, sem querer nada em troca. Acho isso uma coisa incrível do vosso povo”, vincou.
Jorge Maia, presidente do Conselho de Arbitragem da AF Santarém, iniciou o processo de transferência de país para que Halim Shirzad pudesse voltar a apitar em Portugal.
“Apoiou-me muito, ele e todas as pessoas da AF Santarém, foi fantástico. Aliás, se ainda estou em Portugal, é devido a ele”, reconhece.
Halim Shirzad jogou futebol em Cabul, mas garante que não estava nos seus planos tornar-se árbitro. Era para seguir ciências da computação e até esteve um período curto na universidade.
A convite de um amigo tirou um curso de futuros árbitros da AFC (Confederação Asiática de Futebol), projeto para a deteção dos árbitros mais talentosos da continente asiático.
Selecionado para integrar a academia durante dois anos, no final de 2018 foi um dos dez árbitros que concluiu o curso. Um ano depois tornava-se árbitro FIFA.
Em 2021, a vida de Halim Shirzad mudou repentinamente, quando decidiu abandonar o Afeganistão.
“Não tinha necessidade de sair, tinha a vida estabilizada. O povo perdeu a esperança. A minha mulher já trabalhava, voltou a haver privação dos direitos das mulheres. Tenho um filho pequeno (Yosuf) e por eles, por temer pelo futuro deles, decidi sair”, lamentou.
Esteve para se fixar no Canadá, mas a oportunidade de se refugiar em Portugal surgiu com a deslocação da seleção afegã de futebol feminino de sub-14 ao nosso país.
A esposa (Shabana) trabalhava para a AFF (Federação de Futebol do Afeganistão) e decidiram ficar em Portugal, juntamente com duas dezenas de famílias afegãs.
Os primeiros tempos em Portugal não foram nada fáceis. Teve de arranjar trabalho para sustentar a família, mas manteve sempre a esperança de um dia poder continuar a carreira de árbitro fora do país de origem.
Atualmente a vida de Halim em Portugal começa bem cedo. Treina duas horas de manhã, entre corrida e ginásio, e à tarde trabalha numa instituição bancária.
Em casa a alimentação é tradicionalmente afegã, mas o jovem árbitro de 31 anos diz-se fã de bacalhau à brás.
Ainda não teve tempo para descobrir Portugal, e afirma que o maior problema, para já, é entender a língua de Camões.
“Sinto-me mais pressionado do que os árbitros portugueses. Dentro e fora do campo todos falam muito rápido e eu só falo inglês (risos)”, explicou.
Algo que espera superar com a maior brevidade possível. “Vou aprender rapidamente português”, admitiu com um sorriso de orelha a orelha no final da entrevista.
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