Protagonista de grandes emoções para os adeptos do Santos e da seleção brasileira que o viram jogar como nunca antes outro futebolista havia feito, a despedida Pelé está a causar hoje grande pesar entre os seus admiradores.

O velório de Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, que decorre na Vila Belmiro, estádio imortalizado pelos golos que marcou, sucede entre muitas manifestações de emoção e tristeza pelos seus admiradores, autoridades e familiares.

“Estou muito emocionada, não estou conseguindo raciocinar direito. O Pelé é o nosso legado. Deixou um legado lindo para os nossos netos, um legado lindo para esta molecada [crianças] que está começando agora. Longe das drogas, longe das bebidas”, contou Maria Lúcia Serafim, 61 anos.

A adepta do Santos disse à Lusa que veio ver o ídolo maior da sua equipa e referência do futebol mundial para lhe dar o último adeus, afirmando ter chorado muito.

“Fiquei emocionada por estar perdendo um ídolo desses, mas isso acontece mesmo com todos. Eu fiquei muito emocionada, muito triste de saber que o nosso futebol perdeu mais uma estrelinha”, relatou.

Já o jovem adepto do Santos Luís Mendes, de 44 anos, lamentava ser de uma geração que não viu Pelé jogar, mas explicava que passou a admirá-lo pelos relatos dos seus pais, que testemunharam o futebolista encantando adeptos do Santos mais velhos e, portanto, aprendeu desde criança a reconhecer a dimensão que ele teve.

“Ele [Pelé] ultrapassou os limites do clube. Ele não é só um ídolo de um clube [equipa], ou apenas um ídolo de um país, de uma nação. Portanto, é muito difícil, porque tive a oportunidade como residente daqui, em várias oportunidades, de vê-lo em vida”, afirmou o 'santista'.

“Infelizmente eu pude vê-lo agora quando já não está nesse mundo, não está mais aqui entre nós, mas, particularmente, como torcedor [adepto] foi difícil, complicado”, acrescentou.

Um adepto que viu Pelé em campo no final da década de 1960 na Vila Belmiro, Luís Carlos Alberto, 72 anos, lembrou que frequentava o estádio da sua cidade essencialmente para ver Pelé.

“Eu dou graças a Deus de ter participado da vida dele, de ter visto ele ao vivo e ver as maravilhas que ele fazia. Agora, eu me senti muito emocionado por ter visto ele morto. Eu sei que a marca Pelé continua, mas o Edson Arantes do Nascimento, o cara que fazia as maravilhas para a gente, ele não está mais aqui”, afirmou, emocionado.

“É uma emoção muito forte. A gente se lembra dele vivo, fazendo o que ele fazia com a bola, não só dentro de campo, como fora de campo também. Então, agora, vê-lo ali deitado (...) Eu nunca imaginei que o rei do futebol fosse morrer um dia. Nunca imaginei. Então eu fiquei muito emocionado”, concluiu.

A despedida do 'rei do futebol' brasileiro atraiu autoridades ligadas ao desporto e política brasileiros.

Os presidentes da FIFA, Gianni Infantino, da Confederação Sul-Americana (CONMEBOL), Alejandro Dominguez, e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, compareceram na despedida de Pelé.

Entre as autoridades políticas brasileiras compareceram o prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, e o governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Ex-futebolistas do Santos que atuaram com Pelé como Clodoaldo Tavares de Santana e Manoel Maria Evangelista Barbosa dos Santos também foram prestar homenagem ao amigo.

O velório de Pelé começou às 10:00 (13:00 em Lisboa) de hoje e prossegue até às 10:00 de terça-feira, quando será realizado um cortejo pelas ruas da cidade de Santos antes do enterro, que será fechado para amigos e familiares num cemitério vertical da cidade.

Pelé, nascido em 23 de outubro de 1940 na cidade Três Corações, em Minas Gerais, foi o único futebolista três vezes campeão do mundo, em 1958, 1962 e 1970, marcou 77 golos nas 92 internacionalizações pela seleção brasileira e jogou pelo clube brasileiro Santos e pelo Cosmos, dos Estados Unidos.

Foi ainda ministro do Desporto no governo de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 1998, e eleito o desportista do século pelo Comité Olímpico internacional (1999) e futebolista do século pela FIFA (2000).

A lenda do futebol brasileiro e mundial, único jogador tricampeão do Mundo, ficou internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, em 29 de novembro, quando se submeteu a uma reavaliação do tratamento ao cancro de colón detetado em setembro de 2021, e ao tratamento de uma infeção respiratória, agravada pela covid-19, com antibióticos.

A saúde de Pelé piorou nos últimos anos também por outras causas, como problemas na coluna, na anca e nos joelhos, que reduziram a sua mobilidade e o obrigaram a ser operado, além de ter sofrido uma crise renal, o que reduziu drasticamente as suas aparições públicas, embora tenha continuado ativo nas redes sociais.