A ligação de Portugal com o futebol da Arábia Saudita vai para lá de Cristiano Ronaldo, Jorge Jesus ou Vítor Pereira. O novo El Dorado do futebol mundial tem atraído futebolistas e jogadores do quatro cantos do Mundo, entre eles portugueses que mostram a sua qualidade no relvado e no banco.
É precisamente do banco que João Mota vai tentar levar o Al-Jabalain à elite do futebol saudita. Aos 57 anos, o antigo futebolista com formação no Barreirense e Sporting, deixou o conforto da Jordânia para voltar à Arábia Saudita, num projeto onde terá a oportunidade de deixar a sua marca. Com contrato, para já, até ao final de maio, o antigo defesa central do União da Madeira, Elvas, União Leiria, Louletano, Montijo, Torreense, Câmara de Lobos, Desportivo Beja e Lagoa quer ter o seu dedo no desenvolvimento do futebol saudita, país que organizará o Mundial2034.
Numa carreira que começou em 2008/2009 nos juniores do Farense, a única experiência como técnico em solo lusitano, João Mota já levou a escola portuguesa de treinadores à África, Brasil e Médio Oriente.
A carreira de João Mota em imagens
Em terras das arábias, quem tem um brasileiro (ou três) é rei
Com o Al-Qadisiyah, de Luciano Vietto e André Carrillo disparado na liderança da Segunda Liga saudita para subir, as restantes duas vagas serão disputadas entre o Al-Orobah, o Al Kholood, o Al Arabi, o Al-Faisaly FC, e o Al-Jabalain, com o Al Adalah ainda à espreita. João Mota assumiu o "risco" e, com ajuda do seu fiel escudeiro, Marco Delgado, leva uma vitória, dois empates e uma derrota, nos quatro jogos já realizados.
Deixar o líder do principal campeonato da Jordânia, país finalista da Taça Asiática, para orientar o quarto colocado da Segunda divisão da Arábia Saudita não foi fácil. A visibilidade da segunda liga saudita e a possibilidade de poder colocar o Al-Jabalain na elite pesou na decisão.
"Balançando o valor da Liga da Jordânia e subir à principal Liga saudita, poderá ser mais valioso a nível de carreira subir na Arábia Saudita, onde está o dinheiro e muito prestígio", conta ao SAPO Desporto, em conversa telefónica desde Hail, uma pequena cidade bem no meio da Arábia Saudita, com menos de 500 mil habitantes.
O curto plantel e o pouco tempo para colocar os jogadores a "assimilar conceitos" são barreiras a ultrapassar no imediato. Mas João Mota terá de partir muita pedra. Nada que não esteja habituado.
"O mundo do futebol está virado agora para Arábia Saudita por causa dos jogadores que tem vindo para cá", diz João Mota
Numa Segunda Divisão onde os jogadores estrangeiros fazem a diferença (cada equipa pode ter cinco no onze), o técnico português de 57 anos conta com o sérvio Miodrag Gemovic, o neerlandês Mohammed Rayhi, o senegalês Mamadou Thiam, o marroquino Iliass Bel Hassani, o espanhol Israel Puerto e o brasileiro Nailson para meter o seu clube entre os maiores do futebol saudita.
"Os estrangeiros que vêm para cá são bons. Uma equipa da parte de baixo da tabela, com um estrangeiro ou dois, podem resolver o jogo. Por isso os resultados desta liga são estranhos, há muita qualidade nos jogadores. Vejo um dos últimos e vejo um brasileiro a rebentar com aquilo, a marcar um golo de livre direto... Não há jogos fáceis. As melhores equipas são as que tem os melhores estrangeiros e os melhores jogadores locais, com qualidade", detalha.
"O treinador e forma de jogar também influenciam", claro.
Cristiano Ronaldo abriu as portas. E agora? Desconfianças e resistências podem travar crescimento
A abertura da Arábia Saudita ao Mundo através do futebol teve grande impacto com a chegada de Cristiano Ronaldo, em janeiro de 2023. Depois do português, craques como Neymar, Benzema, Sadio Mané, Roberto Firmino, Rúben Neves, Otávio, Mahrez, Brozovic, Laporte, N'Golo Kanté, Kalidou Koulibaly, Jordan Henderson, Yannick Ferreira Carrasco, Rakitic, Fabinho, entre outros reforçaram e deram uma visibilidade nunca antes sonhada ao futebol local.
Mas tantas portas abertas nem sempre é bom sinal. "Há sempre os olhares desconfiados" dos jogadores locais que olham para os estrangeiros como alguém que " vêm para lhes tirar os lugares e ganhar mais do que eles" , explica-nos João Mota.
Os adeptos, estes, agradecem. Os craques que ainda há um ano viam às terças e quartas-feiras pela TV em jogos da Champions europeia, agora desfilam classe nos seus estádios, dão-lhes autógrafos, tiram selfies com eles. É a montanha a ir até Maomé.
Os olhares desconfiados e o descontentemente dos jogadores locais não é novidade, até porque a forma de distribuição dos craques pelos clubes não foi uniforme. O PIF (Public Investment Fund), fundo do governo saudita, comprou os clubes importantes da Arábia Saudita (Al Nassr, Al Ittihad, Al Hilal e Al Ahli) e distribuiu os melhores jogadores entre eles.
João Mota garante que essa destruição dos craques "torna o jogo um pouco injusto, porque os jogadores é que fazem a diferença". E deu o exemplo do Al-Qadisiyah, líder da Segunda Liga, que tem nas suas fileiras o André Carrillo, extremo peruano que esteve no Sporting, Benfica e no Al Hilal, "ganhar um poço de dinheiro" na segunda divisão, e ainda o argentino Luciano Vietto, também ele um ex-Leão. Todos eles jogadores acima da média para uma segunda liga saudita.
"O Carrillo ganha quase o mesmo que o nosso plantel todo, apesar de ter aqui jogadores caros. São apostas desvirtuais em relação às capacidades, mas isto é assim, faz parte do mundo árabe", detalha.
Com o país a garantir a organização do Mundial2034 de futebol, a chegada dos estrangeiros pode ajudar os jogadores locais a crescer. Há capacidade e qualidade, garante Mota, mas tudo irá depender da aposta que se fizer na nível técnico, até porque "a evolução do jogador depende muito do treino e da mentalidade dos treinadores".
João Mota, que já treinou a seleção sub-20 saudita, entende que se deve apostar em treinadores capazes de ensinar os princípios básicos do futebol desde cedo e capazes de jogar um futebol positivo.
"O nosso Cristiano Ronaldo iniciou aqui uma fase. O futebol está mais apaixonante, as pessoas estão mais apaixonadas, vão mais ao futebol", testemunha
Numa liga onde vê mais medo de perder do que a vontade em ganhar, "exceptuando Al-Qadisiyah e mais duas ou três equipas", o treinador português quer criar uma equipa que joga bom futebol, compacta, junta, que defenda e ataca em bloco e não um futebol com seis a defender e três rápidos na frente para o chutão e seja o que Deus quiser que se vê em muitos clubes.
Mas incutir princípios e comportamentos em atletas com entendimento do jogo reduzido não é tarefa fácil. Os mais novos querem aprender, os mais velhos, nem tanto.
"A longo prazo, se a Arábia investir na formação com treinadores que conhecem e ensinam o que é o jogo - porque jogamos assim, os movimentos, o que, quando, como -, ensinar isso desde jovens, com a qualidade intrínseca que o [jogador saudita] tem, quando chegar a profissional [...] é um jogador mais evoluído porque ele sabe porque faz as coisas. Por isso digo que o treinador é muito importante", atira.
O que leva um treinador a trocar o líder da Liga da Jordânia pelo 4.º colocado da Segunda Liga saudita?
João Mota garante que não foi pelo dinheiro. Claro que no Al-Jabalain não está a ganhar mal mas, diz-nos, podia ficar a ganhar o mesmo na Jordânia onde ia lançado para o título. Mas o futebol não é só números.
A saída do Al Hussein estava a ser 'cozinhado' há imenso tempo, por "alguns rapazes da direção" que já tinham pedido a sua saída.
Durante a Taça da Ásia, em que o campeonato da Jordânia esteve parado, João Mota foi acompanhando o fantástico percurso da seleção (vice-campeã, ao mesmo tempo que via os principais rivais a preparem-se para o derrubar.
"Vi o Al-Faisaly [2.º colocado] a reforçar-se, o Al-Wehdat [3.º] a reforçar-se, queria alguns jogadores e ninguém respondia às minhas mensagens e tinha os gajos do Al-Jabalain a massacrarem-me a cabeça, o presidente do clube a querer reuniões todos os dias e a querer dar-me muito mais dinheiro. Houve uma altura que disse ao presidente do Al Hussein, 'Olha, tenho uma proposta, se calhar vou sair', ele ficou louco e disse, 'Olha Mota, se é por dinheiro, dou-lhe um cheque em branco e você põe no seu contrato quanto quere ganhar, se é 30, se é 40, não quero saber você tem de ficar'".
O técnico natural do Barreiro acabou por ficar no Al Hussein, onde liderava com 10 vitórias e um empate, 24 golos marcados e apenas dois sofridos. Mas nova incursão de alguns dirigentes no seu trabalho fizeram transbordar o copo da sua paciência. Desta vez disse 'sim' à nova chamada da Arábia Saudita.
"Foi uma situação que me custou muito [...] Mas se ficasse iria contra os meus princípios, perdia qualquer credibilidade como homem", frisa, afirmando que "só Deus é que sabe" se fez "mal ou bem".
Saiu "de consciência tranquila" e a bem com o líder do Al Hussein, que prometeu pagar-lhe o bilhete de avião para a Jordânia para festejar o título se o clube for campeão.
Na Jordânia, o técnico luso encontrou "jogadores com uma capacidade de luta inacreditável", que "dão tudo em campo", mas com evidentes lacunas de entendimento do jogo. A campanha da seleção local na Taça Asiática, onde só perdeu na final com o Qatar na final, não fazia parte das expetativas do treinador português.
"Fiquei surpreendido, não pelo valor dos jogadores, porque eles são muito bons, [...] mas pela campanha que fizeram antes de chegar a Taça Asiática, com um futebol esquisito, maus resultados, jogadores insatisfeitos como me confidenciaram alguns jogadores meus,... Os jogadores não estavam com o treinador, um homem que não se via os dentes, muito disciplinado... pensávamos, 'os jogadores não estão com os treinador, aquilo não vai dar certo'", recorda.
Sudão: Dos tiros de rajada de uma G-3 à zanga com Ricardo Formosinho
João Mota deixou o Brasil no final de 2020 e aterrou em Omdurman, Cartum. Uma chamada do técnico Ricardo Formosinho convenceu-o a mudar-se para o Sudão para trabalhar no maior clube do país. A posterior separação entre os dois não se daria nos moldes desejados.
"O Ricardo Formosinho ligou-me quando eu estava no Botafogo da Bahia, a parte financeira foi um aliciamento muito bom. Estarei sempre agradecido por me ter convidado mas não foi uma experiência muito boa ter trabalhado com ele. Isso não tem a ver com a parte humana, mas sim profissional. Ele não quis ficar [no Al Hilal], todos nós saímos com ele. Estava pronto para ir para um clube de Santa Catarina, no Brasil, já tinha tudo acertado com o presidente. E então ligou-me o vice-presidente do Al Hilal a perguntar-me se não queria assumir a equipa como principal, porque tinham visto o meu trabalho, no nosso último jogo eu é que estive ali na linha a orientar a equipa", começa por contar.
Falei com o Formosinho a explicar-lhe a situação, ele não gostou muito. Aceitei porque era uma grande oportunidade, até porque eu não era da equipa técnica dele. Tentei ser o mais leal possível com ele, a dizer-lhe sobre a oportunidade e ele, 'se achas que está bem, então aceita'. E aceitei", explica.
O "trabalho espetacular" e o "futebol praticado no Al Hilal" do Sudão acabaram por valorizar muito a sua carreira e abrir as portas ao seu ingresso para os trabalhos seguintes, como no Al-Jabalain.
É do Sudão que João Mota guarda uma das histórias mais marcantes da sua carreira, quando apanhou um susto com disparos de uma espingarda G-3.
"O trabalho no Al Hilal teve a ver com a minha ida para a Jordânia também. Foi um dos melhores trabalhos na minha carreira", garante.
"O Al Hilal do Sudão tem 20 milhões de adeptos, são muito fanáticos. Houve treinos em que encheram a bancada, com cânticos. Quando vamos jogar a 10 horas de Cartum, em cidades do interior, no meio deserto, eles ficam loucos. [Numa dessas saídas] parámos em várias cidades para sermos recebidos pelos presidentes de Câmara, e quando estávamos quase a chegar [ao destino], começaram a juntar cada vez mais pessoas, começamos a ficar assustados no autocarro, não conseguíamos andar. Apareceu uma pessoa a disparar com uma G-3 [espingarda], a polícia agarrou-o logo, aquilo assustou-me, nunca tinha visto. Mas estava a disparar de alegria. Parámos em algumas cidades, eles chamavam por um jogador, saia, eles andavam com ele às costas, depois ele voltava para o autocarro", conta, entre risos, ao recordar este episódio.
Uma lição para a vida no Brasil e um despedimento quem nem devia estar no currículo
Depois de treinar as camadas jovens do Farense, João Mota recebeu um convite de João Deus (atual adjunto de Jorge Jesus no Al Hilal) para ser seu treinador-adjunto nos séniores do emblema de Faro. Foi do sul do país que partiu para a primeira aventura no estrangeiro, mais precisamente no Hatta Club, dos Emirados Árabes Unidos. Findo o trabalho, a necessidade e as saudades de casa de casa deviam levar-lhe de volta a Portugal. Mas o amor desviou-o da rota, para o outro lado do Atlântico.
Na primeira experiência no Médio Oriente, conheceu a atual esposa, brasileira, e com ela foi tentar a sorte no país do futebol. O caminho haveria de ser penoso, num país onde ninguém sabia quem era João Paulo Mota Maria.
"Tive dois anos sem trabalhar, nunca mais quero lembrar daquilo que passei. Não conseguia trabalho porque as pessoas não me conheciam de lado nenhum", começa por contar. A sorte haveria de mudar
"Até que, através de algumas pessoas que fui conhecendo, consegui entrar nos sub-20 da AD [Associação Desportiva] Guarulhos, de São Paulo, a coisa foi um salto, porque correu muito bem. Fiquei na história do clube porque nunca tinham passado da primeira fase na Copinha [n.d.r. torneio de sub-20 organizado pela Federação Paulista de Futebol com equipas de todo o Brasil e, ocasionalmente, algumas estrangeiras convidadas], fomos eliminados pelo Grêmio mas com um futebol que encantou. Depois fui para os sub-20 da Portuguesa dos Desportos. Depois fui para o Rio Branco do Acre, correu bem, fui ganhando o meu nomezinho, fui chamado para cursos de treinadores onde fui dar palestras sobre tática, fui ficando conhecido no Brasil", recorda.
Depois de "andar a partir pedra, a subir rocha, a ir para cima, a descer" em emblemas como Aparecida, Guarulhos, Portuguesa dos Desportos, Rio Branco, Operário, Tigres e Botafogo Bonfim, João Mota não descarta um dia voltar ao Brasil que considera já a sua casa, mas nunca para trabalhar nos estaduais. Diz-nos que estes trabalhos ajudaram-no "a crescer muito como treinador e como homem" porque o "ultrapassar obstáculos, torna-nos melhores pessoas, melhores profissionais e melhores homens".
É com uma voz já mais pesada, do outro lado da linha, que João Mota nos detalha uma história que lhe marcou nos primeiros anos no Brasil.
"Quando comecei nos sub-20 do Guarulhos, ainda não estava muito por dentro da realidade do futebol do Brasil, a treinar às 11h da manhã, um calor infernal. Há um miúdo, um central de segundo ano, com uma garra incrível que levava a equipa às costas. Nesse dia ele não corria, estava triste, e eu dei-lhe dois berros, 'O que se passa contigo, estás a brincar, não te apetece treinar, queres ir embora?', eu a tentar puxar por ele. E um colega dele passou por mim assim baixinho e disse, 'Professor, ele está em jejum, ainda não comeu nada'. Parei o treino, e perguntei, 'Mas porquê está em jejum? Estupidamente não estava a perceber porque ele estava em jejum. E disse, 'Vocês sabem que vêm treinar, sabem que treinamos com muita intensidade, vocês não sabem que têm de comer'? E foi aí que fui ouvindo uns e outros, uns a chorar já, a dizerem-me que não tinham nada em casa para comer. Um [não foi treinar] porque a mãe foi trabalhar para tentar arranjar comida, outro não treinava há dois dias porque se fosse treinar, o pai iria bater na mãe, então tinha de ficar em casa para proteger a mãe...", diz.
"Às vezes falo com eles e eles dizem-me, 'Amigo, aqui ganho mais e ainda divirto-me. Aqui é que estou bem'", conta Mota
Foram histórias que mexeram com o técnico português. João Mota exigiu que o clube lhes providenciasse, ao menos, pão com manteiga e café de manhã, antes do treino. Depois veio a saber que muitos deles viviam em favelas, no meio da criminalidade, de muitos problemas.
No país do futebol, João Mota recorda os craques que lhe passaram pelas mãos. Jogadores tecnicamente muito evoluídos que, "por falta de oportunidade", ou por vontade própria jogam em equipas de Várzea [futebol totalmente amador] onde ganham mais dinheiro do que nos clubes profissionais. Nesses campeonatos amadores em São Paulo, o treinador português encontrou atletas a ganharem dois mil reais (371 euros no câmbio atual) por jogo, enquanto nos clubes alguns ganham 1500 reais (278 euros no câmbio atual) por mês.
"Depois acaba o jogo e vai beber umas cervejinhas, come uma carninha...", conta.
Das várias experiências no Brasil, João Mota sentiu na pele a falta de condições para se organizar um clube e a falta de paciência dos dirigentes para com os treinadores. Ali, o estalar do chicote não avisa. Chega quando menos se espera.
"No Mato Grosso do Sul, no Operário, contrataram-me e fui para começar a pré-época, a dez dias do início do campeonato. O primeiro jogo do campeonato era contra o Cuiabá, a melhor equipa de Mato Grosso. Aceitei, estava sem trabalhar, ... não tínhamos jogadores, a três dias do início do campeonato ainda estávamos a tentar inscrever jogadores. Começamos a ganhar 2-0, tudo muito admirado, mas os miúdos começaram a ter câimbras, um calor desgraçado, perdemos 4-2 e não levámos mais porque não calhou. Na altura a equipa não se mexia, os jogadores não se conheciam. Eu queria falar com os jogadores mas não sabia o nome deles. Acabou o jogo e fui despedido. Acho que foi a única vez que fui despedido. E eu, 'Espera aí, está a falar a sério?', o rapaz que me contratou estava maluco, ele a dizer, 'Eu não acredito nisto, o presidente deve estar maluco'. 'Mas estou aqui há uma semana e vocês querem já mandar-me embora?', questionou, na altura. De nada lhe valeu.
Saudades de um bom bacalhau
A carreira feita no estrangeiro encha-lhe de orgulho mas Mota não põe de parte um regresso a Portugal.
"Tenho muitas saudades, tenho lá os meus filhos, tenho muitas saudades da gastronomia, que é das melhores do Mundo, adoro quando vou a Portugal matar saudades", confessa.
Mas, treinar, só se for nas ligas profissionais.
"Gostaria muito de voltar a treinar em Portugal mas, logicamente, não vou voltar para treinar numa quarta liga [n.d.r. Campeonato de Portugal] ou uma Segunda B [n.d.r. Liga 3] porque acho que, não sendo melhor do que ninguém, já atingi um patamar de que, só porque quero treinar em Portugal, não vou voltar para treinar uma equipa da Distrital ou algo assim", diz.
Lá fora, quando tem oportunidade de voltar ao Brasil, de vez em quando gasta "um dinherinho para ir comer um bacalhau porque há bons restaurantes portugueses" em São Paulo. Ali pode beber a sua taça de vinho, que também aprecia. Mas no Médio Oriente a realidade é outra.
"Vamos nos adaptando a aquilo que é a cultura árabe. Ainda no outro dia fiquei quase todo roto dos joelhos, tive de comer no chão porque eles comem no chão, aqueles jantares na casa do presidente. E eles dizem, 'Coach, tem de ser assim, aqui não mesas'. E eu, 'Não tem problemas, faço como vocês. Não consigo é comer com a mão'. Mas adaptamo-nos, então logo nós, os portugueses, temos uma história pelo mundo...", explica.
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