Quando o Al Nassr abordou Cristiano Ronaldo no verão do ano passado para o sondar de uma possível transferência, o emblema saudita sabia ao que ia. Contratar Cristiano Ronaldo é fazer um investimento com retorno garantido, dentro e fora das quatro linhas.
Só nos últimas dias de 2022 a transferência foi confirmada, após o internacional português desvincular-se do Manchester United. Os rumores começaram durante o Mundial2022, no Qatar e, assim que a mudança foi consumada, os sauditas começaram a sentir o efeito de ter entre eles o mais mediático jogador do Mundo.
A começar nas redes sociais. O Al Nassr passou de 834 mil seguidores na rede social Instagram para 12, 7 milhões (números do dia 03 de fevereiro). Um aumento que se explica pelo facto de Cristiano Ronaldo, a maior personalidade naquela rede social, contar com 547 milhões de seguidores. Quando o clube anunciou o acordo com Cristiano Ronaldo, ganhou três milhões de seguidores em 24 horas. A publicação que anunciou a contratação ultrapassou os 34 milhões de 'Gostos'.
Nos dias seguintes ao anúncio da transferência, o Al Nassr passou a vender cerca de 400 camisolas com o número 7 do craque português, de acordo com uma reportagem do jornal espanhol 'Marca', em Riad. A contratação ajudou e muito ao crescimento da marca que veste o clube saudita, a Dineus que, de repente, passou a estar ao lado das gigantes como Nike, Adidas e Puma.
Neste momento, uma camisola do Al Nassr custa entre 75 e 92 euros mas se for estampada com o 7 e o nome de Cristiano Ronaldo, o preço é ainda maior. Para se ter uma ideia, uma camisola oficial da seleção portuguesa de futebol custa 89,99 euros no site da Federação Portuguesa de Futebol.
O clube saudita já vendeu 2,5 milhões de camisolas desde o anúncio da contratação de Cristiano Ronaldo, o que dá algo como 230 milhões de euros (se o preço da camisola for 92 euros). De recordar que Al Nassr vai pagar 500 milhões de euros ao português, entre salários, bónus de assinaturas e outros prémios, pelos dois anos e meio de contrato.
O efeito de Cristiano Ronaldo já se tinha verificado em 2018 quando transferiu-se do Real Madrid para a Juventus. Assim que chegou, os os Bianconeri assinaram um novo contrato de patrocínio de sete anos com a Adidas, por 357 milhões de euros, o dobro do valor do contrato anterior. A Jeep, outra das patrocinadoras da Juventus, prolongou o seu vínculo com a Vecchia Signora em 2019 por 42 milhões de euros, 25 ME a mais em relação ao vínculo anterior.
E, de repente, todos querem ver a Liga Saudita
O impacto também se nota nos direitos de transmissão dos jogos da Liga Saudita de futebol. Para se ter uma ideia do fenómeno Cristiano Ronaldo, a sua apresentação foi transmitida em 37 canais de televisão no mundo inteiro. A Sport TV Portugal, que transmitiu o dia 1 de CR7 no Al Nassr, garantiu também os direitos de transmissão dos jogos da Liga saudita. Além de Portugal, mais 35 países compraram os direitos de transmissão da mesma liga.
A nível local, o campeonato é transmitido pela Saudi Sports Company, que aproveitou a chegada do português para renovar os contratos de transmissão dos jogos até ao final da ligação do português com o Al Nassr (2025).
Uma empresa de transmissão de eventos que tem acompanhado sempre Cristiano Ronaldo é a IMG, que já tinha comprado os direitos da Liga Italiana, entre 2018 e 2021, quando CR7 trocou o Real Madrid pela Juventus.
A IMG comprou os direitos internacionais de transmissão da Saudi Pro League para 37 países. A beIN Sports pagou 74,4 milhões de euros para os mesmos direitos para África e Médio Oriente.
De recordar que em 2022, Cristiano Ronaldo foi eleito o atleta mais comercializável do mundo pelo site britânico SportsPro. CR7 bateu ícones como Serena Williams, Lewis Hamilton, Lebron James e Lionel Messi, as estrelas que figuram no top-5.
MLS perde, Arábia Saudita marca posição no mundo
Quem perde com a transferência de Cristiano Ronaldo para a Arábia Saudita são as ligas periféricas emergentes, como a Major League Soccer dos Estados Unidos da América, que vê ameaçada a sua aposta na estratégia de fomentar a popularidade do futebol, com a contratação de estrelas na fase descendente da carreira, como foram os casos de David Beckham, Thierry Henry, Wayne Rooney, Zlatan Ibrahimovic entre outros. Esta é, pelo menos, a conclusão da DBRS, a agência de notação financeira.
A Arábia Saudita quer tornar-se numa potência desportiva a nível de organização de eventos. Nos últimos meses, houve especulação sobre o interesse do país em receber um Mundial de Futebol da FIFA e se fala em uma eventual candidatura conjunta com Egito e Grécia, mas segundo o príncipe Abdelaziz, Ministro dos Desportos, o projeto pode não ser imediato.
"Não temos candidatura para um Mundial de Futebol", disse à AFP no final do Congresso. "Mas tudo é possível, tudo o que nos for apresentado e que considerarmos viável no âmbito da nossa visão e da nossa estratégia, vamos fazê-lo", disse à AFP o Ministro dos Desportos.
A Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo bruto e maior potência económica do mundo árabe, recebeu nos últimos anos eventos desportivos importantes como o rali Dakar, um Grande Prêmio de Fórmula 1, o Circuito Saudita de Ciclismo e as Supertaças de Espanha e de Itália de futebol, entre outros.
Em outubro, também foi designada como sede dos Jogos Asiáticos de Inverno de 2029, uma decisão amplamente criticada por defensores do meio ambiente devido às condições climáticas desérticas do país.
A contratação do português será benéfica a nível financeiro mas também de prestígio do país. Aquando da sua apresentação, Musalli Al-Muammar, presidente do Al Nassr deixou isso bem claro: "O acordo não se limita ao futebol… é comercialmente benéfico para nós em termos de rentabilidade", começou por dizer,
"[Cristiano Ronaldo ajudará] a alcançar mais sucesso para o clube, para o desporto saudita e para as gerações futuras", terminou.
Comentários