Gianni Infantino era um dos poucos que acreditava, mas, diante das dificuldades, acabou por desistir: O Mundial de futebol em 2022 no Qatar não passará de 32 para 48 seleções. Esta é uma derrota para o presidente da FIFA, a duas semanas da sua reeleição.
"É claro que não é fácil. Mas a decisão de jogar com 48 seleções já está tomada, para 2026. Por que não tentar antes?", argumentava Infantino, na esperança de romper com o embargo imposto ao Qatar por vários dos seus países vizinhos para receber algumas jogos, como eram os casos do Kuwait em Omã.
Mas, a duas semanas do congresso em que Infantino será reeleito sem oposição, em 5 de junho em Paris, a FIFA anunciou que o Mundial de futebol de 2022 no Qatar será disputada como inicialmente previsto, com 32 seleções e em apenas num país, de 21 de novembro a 18 de dezembro de 2022.
"Um tiro no pé" de Infantino
"Infantino conseguiu dar um tiro no pé", analisou um conhecedor do futebol mundial, em declarações à AFP. Para outro analista, não há nenhuma urgência "e pouco a ganhar a não ser problemas" em aumentar o número de seleções no próximo Mundial.
"Infantino era o único que acreditava, a ideia foi apoiada pela CONMEBOL após pedido da FIFA, e há um ano tentam defender essa proposta", completou outra fonte.
O sucessor de Joseph Blatter no comando da FIFA teve que 'mergulhar de cabeça' na diplomacia do futebol, multiplicando as viagens ao Golfo Pérsico para tentar convencer os envolvidos.
Blatter, de 83 anos e suspenso desde 2015, atacou esta quinta-feira Infantino, em conversa com a AFP.
"Infantino não podia mudar por um capricho as decisões tomadas pelo Comité Executivo. Querer a qualquer custo organizar um Mundial de Futebol na região do Golfo Pérsico, sabendo que é complicado o envolvimento das outras nações,... este não é papel do futebol", criticou o ex-presidente do organismo.
"Embora o futebol consiga ultrapassar muitos obstáculos, Infantino não percebeu que o futebol não pode passar por cima dos conflitos geopolíticos", analisou outro especialista do mundo desportivo.
Outro problema, segundo fontes consultadas pela AFP, é que "Infantino cercou-se de dirigentes que trouxe da UEFA, como o escocês Alasdair Bell, ex-diretor jurídico do organismo do futebol europeu, nomeado secretário-geral adjunto da FIFA e que nunca discorda dele, mesmo sabendo que este caso parecia complicado desde o início".
Para defender o seu projeto, Infantino tinha encomendado um estudo interno de viabilidade, cujas conclusões positivas permitiram-lhe obter um voto favorável na reunião do Conselho da FIFA de março, em Miami.
Este estudo, ao qual a AFP teve acesso, garantia que um Mundial de fuebol no Catar com 48 seleções geraria "entre 300 e 400 milhões de dólares [268 a 358 milhões de euros] em receitas adicionais".
Especialistas em marketing e direitos de televisão mostraram-se pouco crentes com as previsões "otimistas" da FIFA sobre estes valores.
"Seria até o contrário, acredito que um Mundial com 48 seleções no Qatar iria dar prejuízo", completou um especialista. Um déficit que a FIFA poderia cobrir com as suas enormes reservas de mais de mil milhões de dólares.
'Pagou pela sua arrogância'
Após a rebelião da UEFA contra o seu projeto de criar um Mundial de Clubes com 24 equipas a partir de 2021, que finalmente foi adotado sem os votos europeus, esta renúncia ao Mundial de 48 seleções já no Qatar "parece uma derrota. "Infantino paga pela sua arrogância e ignorância. É também a vitória do Qatar sobre a FIFA e os seus vizinhos, uma vitória do pequeno contra os grandes", segundo uma fonte que pediu anonimato.
Além das promessas eleitorais de aumentar os prémios para cada federação, resta saber qual é a verdadeira popularidade de Infantino entre as 211 federações nacionais.
"Será muito interessante ver se Infantino será reeleito em 5 de junho por aclamação ou por voto. No segundo caso, qualquer abstenção poderia soar como um ato desafiador", completou outro analista.
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