O português David Patrício tornou-se aos 38 anos o treinador mais jovem da Superliga da China e quer manter o recém-promovido Nantong Zhiyun no escalão principal, com “espírito de missão” para desenvolver o futebol chinês.
“Apesar da idade, já tenho 20 anos de experiência como treinador”, disse hoje à Lusa. “Estou confiante que [o Nantong] poderá ser uma lufada de ar fresco”, nomeadamente graças aos “adeptos mais fervorosos” do futebol chinês, acrescentou.
Patrício foi nomeado na terça-feira treinador da equipa principal do Nantong, clube do leste da China, ao qual chegou em 2019, tendo desde então desempenhado funções de adjunto, treinador das reservas e diretor técnico.
Depois de conseguir em dezembro o terceiro lugar na Liga I chinesa, o segundo escalão, o Nantong foi promovido à Superliga da China, tendo como melhor marcador o luso-guineense Zé Turbo, com 20 golos.
O avançado formado no Sporting e no Inter de Milão “terminou contrato e vai seguir um outro caminho, mas em breve teremos novidades sobre novos estrangeiros e poderá haver jogadores lusófonos na equipa”, disse Patrício.
“Queremos fazer uma época tranquila, sem grandes sobressaltos, apesar do orçamento mais reduzido”, sublinhou o português.
“A nossa realidade é diferente do normal na China: os clubes são liderados por grandes empresas que fazem grandes investimentos e que por isso conseguem sempre ser muito competitivos”, lembrou.
Longe vão os tempos de 2016, quando as 16 equipas que disputaram a Superliga chinesa investiram cerca de 460 milhões de euros na contratação de jogadores estrangeiros, abalando o mercado de transferências.
“As três equipas que desceram de divisão apresentaram muitas dificuldades financeiras e um deles, um histórico, está para acabar”, confirmou David Patrício, referindo-se ao Hebei, por onde chegaram a passar os argentinos Javier Mascherano e Ezequiel Lavezzi.
A pandemia da covid-19, que obrigou o treinador a ficar quase dois anos em Portugal, desferiu um rude golpe no futebol chinês, cujos jogos em 2019 atraíam em média mais de 24 mil adeptos aos estádios, o valor mais elevado na Ásia.
Os clubes passaram três anos a jogar em estádios vazios e a treinar em ‘bolhas’ anti-covid-19, praticamente sem receitas de bilheteira ou de transmissão televisiva.
Patrício espera que, este ano, com o alívio das medidas da política 'zero covid', os adeptos voltem: “acredito que será a liga mais competitiva dos últimos três anos”.
Nos últimos anos, Pequim assumiu o desejo de converter o país numa potência futebolística. O líder chinês, Xi Jinping, disse que quer ver a China qualificar-se para a fase final de um Mundial, organizar um Mundial e um dia vencer.
“Há muito trabalho para fazer, mas a China tem um potencial enormíssimo e uma das coisas que me fez vir foi o sonho que o país tem de desenvolver o futebol”, disse o treinador.
A China ocupa o 80.º na classificação da FIFA e a única vez que participou na fase final de um Mundial, em 2002, perdeu os três jogos que disputou e não marcou um único golo.
“Não acredito que nestes 1,3 mil milhões de pessoas não haja talento. O que falta é criar infraestruturas”, disse o português.
“Só na zona de Lisboa há dezenas de clubes. Aqui a cidade de Nantong, que tem sete milhões de pessoas, tem dois clubes. É manifestamente pouco”, sublinhou.
A China precisa também de mais treinadores “com espírito de missão”, acrescentou o português. “Muitos estrangeiros com quem me cruzei admitiram que vieram para a China só para receber o dinheiro”, disse.
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