Equipas que jogam em ligas estrangeiras, seleções que optaram por competir em outras federações. A globalização trouxe alguns casos sui generis também no futebol. O jornal espanhol ´Marca` fez o levantamento de alguns casos de equipas que competem em ligas fora do seu país de origem. Há até casos de um emblemas que foram campeões por dois países diferentes.
Neve obriga equipa espanhola a competir em França
O Unió Sportiva Bossost, uma equipa de futebol do vale de Arán, na região da Catalunha, joga em França. E a culpa é da neve. "Nos primeiros anos não podíamos passar para o outro lado do vale por causa da neve. E como não nos construíram um túnel, não podíamos passar para o outro lado no inverno", contou Jordi Delaurens, diretor desportivo do pequeno clube catalão que compete no ´Excellence do Haute-Garonne, uma categoria da região de Toulouse, comparada a terceira divisão catalã. Perto desta região, nos Pirinéus, está o FC Andorra, que joga na primeira divisão da Catalunha.
Os ´divórcios` provocados pelos Alpes
Na outra grande cadeia montanhosa da Europa, nos Alpes, há uma situação idêntica ao do Bassost. O SV Kleinwarsertal, da Suíça, compete nos campeonatos alemães porque a única forma de sair do seu vale é atravessando a fronteira da Alemanha. Mas também a Suíça recebe equipas de outros países nos seus campeonatos. O Busingen e o Campionese jogam nas ligas helvéticas apesar de pertencerem a um enclave alemão e italiano, respetivamente.
As sete equipas do Principado do Liechtenstein jogam na Suíça porque não tem uma liga própria, mas não podem apurar-se para as provas da UEFA por esta via. O seu apuramento para as provas europeias é determinado pela sua participação na Taça do Liechtenstein que determina quem vai a Europa. O Mónaco é outro caso de uma equipa de um Principado que joga na Liga de outro país, neste caso, na Ligue 1 de França.
Derry City: primeiro clube a pedir asilo desportivo
É o primeiro caso de um clube que pediu asilo desportivo e está relacionada com o conflito entre Irlandas. Fundado em 1928, competiu na liga da Irlanda do Norte até 1972 e chegou a ser campeão uma vez. Com a chegada do conflito religioso, o Derry City, católico, teve de se mudar para a República da Irlanda para poder competir porque foi expulso pela Federação de Belfast, que era protestante. Na República da Irlanda o Derry City já ganhou 17 títulos. Tornou-se no primeiro clube a pedir asilo desportivo.
Em Inglaterra há mais casos de clubes de outros países a competir nos campeonatos ingleses. Os casos mais conhecidos são os dos galeses do Swansea e do Cardiff que jogam em Inglaterra já que, até 1992, não havia uma liga no País de Gales. O mesmo se passa com Colwyn Bay, Merthyr County, Wrexham e Newport County que no país que lhes acolheu.
Na Escandinávia, há o caso de duas equipas finlandesas que jogam nas camadas inferiores da Suécia, mas por uma questão cultural.
Derry City não é caso único de clube campeão por dois países
O Derry City não é o único clube a sagrar-se campeão em dois países diferentes. Durante a Segunda Guerra Mundial, Alemanha e Hungria obrigaram alguns clubes a competirem nas suas ligas. Em 1938 os nazis criaram a Gauliga Ostmark, a liga de futebol do território da Áustria que ocuparam. O Rapid Viena, histórico clube austríaco, venceu a Tschammerpokal - a competição que viria a dar lugar a Taça da Alemanha - e o campeonato. O First Viena também tem uma Taça da Alemanha. Por outro lado, a Hungria, com a anexação da Roménia em 1940, o IC Oradea passou a competir em território húngaro onde venceu uma liga e duas taças do país. Outro caso semelhante é o do Albirex Niigata, clube do Japão que competiu na Liga de Singapura, por convite da federação do país.
Os clubes deslocados pela guerra
Durante crise política na Crimeia em 2014, com o território ucraniano a ser anexado pela Rússia, três equipas da Crimeia passaram a jogar na Liga russa. A Federação Ucraniana queixou-se na UEFA, que proibiu os três clubes de jogar na Rússia. Então criaram um órgão de futebol da Crimeia. Alguns clubes desapareceram, outros jogam na federação entretanto criada.
Nos Balcãs está o Kosovo, com o caso de Trepca. O clube competia nas ligas sérvias e kosovar. Quando a Jugoslávia ainda não estava dividida, o Trepca era o único clube da cidade de Mitrovice. Com a segregação do território, os adeptos kosovares do clube reclamaram-no como seu. Os adeptos sérvios do clube fizeram o mesmo. Para evitar problemas, permitiu-se que o Trepca, de ascendência sérvia, jogasse no outro lado da fronteira. O Mokgra Gora é outro clube kosovar a jogar na Sérvia.
O Chipre está dividido e essa divisão também se reflete no futebol. Há duas ligas, mas só a da parte greco-cipriota é reconhecida pela UEFA. E é aí que jogam o Anorthosis Famagusta e o Ethnikos Achna, duas equipas da parte turco-cipriota. Achna e Famagusta são dois emblemas do território cipriota controlado pela Turquia. Durante a guerra, os gregos que aí viviam, fugiram e levaram com eles as duas equipas que agora jogam na liga greco-cipriota.
Outros casos pelo mundo fora
Em África, por exemplo, o Jeunesse, clube do território do Sahara Ocidental, joga na principal liga de Marrocos. No continente norte-americano, as equipas dos EUA e Canadá jogam na mesma liga: a Major League Soccer. O Puerto Rico FC joga nos Estados Unidos da América já que a liga do seu país desapareceu em 2016. O DPMM de Brunei joga em Singapura por razões desportivas, depois de competir na liga da Malásia até 2009. O Wellington Phoenix, da Nova Zelândia, não só joga na liga australiana como compete por oura confederação já que os australianos abandonaram a Oceânia, por motivos desportivos, para passarem a jogar com as equipas asiáticas.
*Adaptado de um artigo original do jornal espanhol ´Marca`
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