Nos próximos dias deverá ser executado o futebolista iraniano Amir Nasr-Azadani, condenado a pena de morte no Irão por ter participado numa manifestação em prol dos direitos das mulheres daquele país. Uma condenação que está a chocar o mundo e que já mereceu o repúdio por parte de várias figuras ligadas ao futebol.

Sebastian Strandvall, que jogou com Amir Nasr-Azadani, nem acredita que o seu antigo colega será morto por participar numa manifestação pacífica.

"Amir era um dos jovens da nossa equipa [Rah-Ahan, do Irão] na altura. Ele tinha 19 ou 20 anos e era uma pessoa muito tímida e muito querida. Era um rapaz normal e bom. Conhecendo o caráter de Amir, acredito que ele iria a um protesto, que iria defender direitos básicos das mulheres, porque ele é o tipo de pessoa que se preocupa com os outros. Mas não o imagino a travar uma luta contra Deus ou algo assim…", começou por explicar, em declarações à 'Sky Sports'.

"É difícil descrever este sentimento, o choque. Custa aceitar que é realmente ele, porque parece tão afastado da realidade… Como é que alguém pode enfrentar a pena de morte por participar num protesto pacífico…?", questionou Strandvall, capitão dos finlandeses do VPS Vaasa.

Nasr-Azadani, defesa de 26 anos, foi acusado e declarado culpado de "rebelião armada contra o estado ou república islâmica", um crime punível com pena de morte no Irão. A imprensa internacional avança que a execução será efetuada por via de enforcamento.

O sindicato internacional de futebolistas - FIFPro - lançou um apelo ao Irão para anular o castigo mas, sem efeito.

O defesa de 26 anos é uma das 28 pessoas condenadas à execução, divulgada pelo portal IranWire. Os condenados participaram nos protestos um pouco por todo o Irão onde pediam mais liberdade e respeito pelos direitos das mulheres, após morte de Mahsa Amini, uma jovem curda de 21 anos, quando se encontrava sob custódia da polícia da moralidade. Acusada de não usar o hijab da forma correta, Mahsa Amini foi presa e morta pela Polícia.

Os protestos no Irão começaram com a morte, a 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos que fora detida três dias antes pela polícia da moralidade, que a manteve sob custódia, sob a acusação do uso indevido do ‘hijab’, o véu islâmico. Os protestos, entretanto, evoluíram e agora os manifestantes, principalmente os jovens, pedem o fim da República Islâmica, fundada pelo ayatollah Ruhollah Khomeini em 1979 e liderada hoje por Ali Khamenei.

Após três meses de mobilizações, com mais de 400 mortos e milhares de detenções, as autoridades começaram a executar manifestantes para tentar controlar as mobilizações, protagonizadas principalmente por jovens e mulheres. O Irão anunciou 11 sentenças de morte por envolvimento em "motins” e acusa "inimigos estrangeiros", incluindo Estados Unidos e Israel, de estarem a fomentar a sublevação.

Segundo a Amnistia Internacional (AI), são 11 pessoas já condenadas, sendo que 15 estão indiciadas por crimes puníveis com pena de morte. Grupos de direitos humanos acreditam que os procedimentos legais foram forjados e estão preocupados com as confissões obtidas sob tortura.

Segundo a ONU, as autoridades do regime teocrático iraniano já prenderam cerca de 14 mil pessoas desde meados de setembro, enquanto a organização Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, dá conta da morte de pelo menos 469 manifestantes. As autoridades reportaram oficialmente mais de 200 mortes, incluindo membros das forças de segurança, desde o início dos protestos.