Diz a sabedoria popular que 'se não está estragado, não se tenta arranjar', e a verdade é que, há poucas semanas atrás, a máquina leonina parecia carburar e funcionar em pleno, e bastaria a João Pereira deixar tudo exatamente como estava.

Contudo, o novo engenheiro foi perdendo muitas das suas mais importantes peças, o que o obrigou a apresentar um modelo improvisado; modelo este que, no papel parecia igual ao anterior, mas que na prática mostrava muita areia nas engrenagens.

E como um mal nunca vem só, João Pereira teve também de lutar contra todo um rol de imprevistos: fosse a perda de Gonçalo Inácio à última da hora, um golo sofrido através de um ressalto e quando nada o fazia prever, ou ainda uma grande penalidade a seu favor transformada em livre por meros milímetros.

Mas a quarta derrota do Sporting não se explica só com o azar. Com efeito, os leões voltaram a não conseguir dar seguimento a uma boa entrada em jogo, mostrando, especialmente na segunda parte, pouca ou nenhuma capacidade para criar perigo junto da baliza belga. A juntar a isso, os minutos finais trouxeram consigo mais um momento de desconcentração que levou a novo desaire...e já vão quatro seguidos.

A série de episódios inusitados obrigam definitivamente o leão a ir à bruxa, ou a um exorcista. Mas a resolução do problema não se fica por aqui, já que a equipa mostra um claro síndrome de abandono, que só poderá ser resolvido no divã.

O jogo

Para o desafio na Bélgica, João Pereira fez cinco mudanças na equipa, em comparação com o último jogo...cinco, que se transformaram em seis. Para além das previstas entradas de Israel, Quaresma, Maxi, João Simões e Quenda, o treinador dos leões foi forçado a trocar Gonçalo Inácio, lesionado no aquecimento, por Matheus Reis.

O azar começava ainda o jogo não se tinha iniciado, contudo, os primeiros minutos pareciam mostrar algo diferente nos campeões nacionais. Três minutos de posse de bola total, colmatadas com o golo de Geny Catamo que fez a recarga após o remate ao poste de Maxi Araújo, melhor início não se poderia pedir.

Não só o golo marcado, mas a forma como o leão controlava a partida pareciam indicar o tal 'clique' que há muito se procurava, trazendo de volta boas memórias do início de temporada. Mas quis a sorte que este cenário não durasse muito mais tempo...

Perto dos 25 minutos, um cruzamento na direita de Skov Olsen encontrou Tzolis no coração da área; o remate do grego não parecia, inicialmente destinado ao sucesso, contou com um precioso desvio em Eduardo Quaresma, que acabou por trair Israel e restabelecer uma igualdade totalmente caída do céu.

Ao contrário do que sucedera anteriormente, o Sporting reagiu bem ao golo sofrido, de tal forma que, na jogada seguinte parecia ter conseguido uma grande penalidade; todavia, o VAR acabou por transformar essa oportunidade soberana apenas num livre direto.

O golo marcado e a reversão do penálti deram ao Brugge a serenidade que nunca tinham tido desde o início do jogo, produzindo o efeito contrário do lado verde e branco. De tal forma que, até ao intervalo apenas os belgas criaram verdadeiras oportunidades de golo, todas travadas por Franco Israel.

Pelo meio, João Pereira foi forçado a nova mudança na defesa, fazendo entrar St.Juste para o lugar de Quaresma, vítima de um arrepiante choque de cabeças com Tzolis.

Na segunda parte o jogo pautou-se pelo equilíbrio, que, por vezes, parecia mais um armistício. A iniciativa de jogo ia alternando, mas sem que qualquer uma das balizas fosse ameaçada, exceção feita para um remate de Tzolis que tirou tinta do poste de Israel.

Com o avançar do relógio dava a ideia de que o leão parecia satisfeito com o resultado, isto apesar das várias e pacientes tentativas de construção ofensiva, que nunca chegaram a ser devidamente finalizadas. E para juntar à inoperância ofensiva, eis que, num momento de desconcentração (mais um), os verdes e brancos acabaram por deitar tudo a perder.

A defesa não conseguiu neutralizar o gigante Nilsson, que deu tempo a Vanaken para ver o buraco deixado na retaguarda leonina, aproveitado devidamente por Nielsen que, em velocidade e na cara de Israel, fez o 2-1 final.

Com este resultado o Sporting cai para o 12º lugar, uma queda que pode ser ainda maior, consoante os resultados desta quarta-feira.

O momento

O jogo caminhava para o seu término e tudo parecia apontar para um empate, tal a maneira como as duas equipas se anulavam uma à outra. Contudo, aos 84 minutos, o Brugge viu espaço e oportunidade para criar perigo e aproveitou. Nilsson segura a bola perante dois adversários e dá a Vanaken que serve Nielsen em velocidade; o dinamarquês foi mais rápido que Esgaio e, na cara de Israel, fez o golo do triunfo belga.

O melhor

Quando o jogador e maior evidência de uma equipa é o guarda-redes, tal não costuma ser o melhor dos sinais. Todavia, foi isso mesmo que sucedeu em Brugge. Apesar de não ter sido chamado muitas vezes, Franco Israel foi o elemento mais consistente e eficaz do Sporting, tendo conseguido manter a equipa no jogo nas fases de maior aperto do adversário com um par de boas defesas, especialmente na primeira parte.

Nos lances dos golos, o uruguaio pouco ou nada poderia fazer, quer perante o desvio traiçoeiro em Quaresma, quer perante um embalado Nielsen que surgiu isolado à sua frente.

O pior

Perante as várias ausências por lesão, Geovany Quenda surgiu neste jogo no lado esquerdo do tridente ofensivo dos leões. Contudo, o jovem extremo não se mostrou muito à vontade numa posição onde nunca tinha jogado esta temporada; o '57' ia tentando combinações com Maxi no corredor ou procurar movimentos internos, mas o seu desconforto era notório.

Independentemente do esforço, a verdade é que Quenda nunca conseguiu criar os desiquilíbrios habituais e simplesmente não conseguiu carburar e fazer funcionar o lado esquerdo do ataque verde e branco; não era por acaso que grande parte das iniciativas atacantes do Sporting eram conduzidas pela direita.

O que disseram os treinadores

João Pereira, treinador do Sporting