Um golo do Tottenham no Vélodrome aos 85 minutos, a mais de 1300 quilómetros de Lisboa, foi a única coisa de positiva na noite de terça-feira para o Sporting. A derrota por 1-2 em Alvalade diante do Eintracht Frankfurt afastou a equipa dos oitavos de final da Liga dos Campeões e impediu Portugal de colocar, pela primeira vez, três equipas nos 16 melhores da Liga milionária.

Com a derrota do Marselha, o Sporting terminou em terceiro lugar do Grupo D, caindo assim para a Liga Europa, onde vai medir forças no play-off com um dos segundos colocados da fase de grupos da Liga Europa. Union Berlin, PSV, Fenerbahçe (de Jorge Jesus), Roma (de Mourinho), Manchester United, Feyenoord e Mónaco são possíveis adversários.

Foi a oitava derrota da época em 18 jogos, a quarta nos últimos seis jogos, onde o Sporting só venceu por uma vez (3-1 ao Casa Pia). A crise veio para ficar no reino do Leão.

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Pedia-se ADN de Leão, alma e coração. Pedia-se pressão, precisão e acerto na decisão. Era um Sporting a precisar de um Paulinho para aguentar a bola e esperar pela equipa. Por um Ugarte a 'comer' mais de meio-campo na pressão, por Pedro Gonçalves a organizar mas também a aparecer em zonas de finalização.

Era preciso as arrancadas do Arthur a meter alemães em sentido. Um Leão a necessitar do melhor Edwards de sempre. E que o trio de centrais - Coates, Gonçalo Inácio e St. Juste - fosse suficiente para quebrar as investidas do Eintracht Frankfurt.

Pedir isso tudo seria normal e natural no Sporting do ano do título com Rúben Amorim. Mas não a este Sporting. Cansado. Com medo. Desconfiado de si mesmo. Sim, um Sporting em crise. Três derrotas, um empate e uma vitória nos últimos cinco jogos atestavam isso mesmo.

Nas bancadas havia vontade mas receio. O público tentou ser o 12.º jogador, tantas vezes decisivo em triunfos importantes deste Leão de Amorim. Puxou-se pela equipa enquanto deu. A vantagem, aos 32 minutos, por Arthur, ajudou a afastar a pressão e a tensão nas bancadas já que, a precisar apenas de um empate, estar em vantagem devia dar conforto para segurar o resultado até ao final, tal como a equipa já fez em muitos momentos.

Mas o crescimento dos alemães, empurrados por uma minoria muito ruidosa que fez calar Alvalade no segundo tempo, fez ruir a frágil muralha de confiança leonina. A formação leonina deixou de conseguir ligar o jogo. Amedrontou-se e foi recuando, encurralada perto da sua área, por uma equipa longe de ser um colosso. E nem precisa de sê-lo: com a crise de confiança instalada no Sporting, qualquer Frankfurt parece um Bayern.

E quando está para correr mal, há pouco a fazer. A mão de Coates no penálti (discutível) fez ruir a frágil fortaleza de confiança leonina, a lentidão de Gonçalo Inácio ou, se preferirem, a rapidez de Kolo Muani, dez minutos depois do empate, deu a estocada final num Leão ferido, encostado contra a parede, longe do seu habitat e em sofrimento.

Faltavam 18 minutos para o final (mais os descontos) mas poucos adeptos acreditavam no tão desejado golo do empate. Amorim testou a receita do título, com Coates a avançado e ainda Jovane para perto de Paulinho, mas o Leão tinha sido 'caçado' aos 72 minutos por Kolo Muani. Não tinha como se mexer.

Os 'oitavos' da Champions escapavam por entre os dedos, tal como os milhões que a SAD esperava encaixar.

Valeu o Tottenham ser amigo e marcar ao Marselha aos 95 minutos, tirando o Leão moribundo do último lugar do grupo e atirando-o para o 'circo' dos frustrados ou, como Mourinho lhes chamou, os 'tubarões fracassados'. Sabe a nada e Amorim assumiu-o.

Dificilmente servirá para salvar a época porque entre os 'fracassados' da Champions que caíram na Liga Europa, há 'tubarões' com 'dentes afiados' como Barcelona, Ajax, Sevilha, Bayer Leverkusen, e muito provavelmente Shakhtar, Salzburgo, e Juventus. Há PSV e ainda pode haver Fenerbahçe, Roma, Manchester United, Feyenoord, Mónaco e Union Berlin no play-off.

Com quatro derrotas em 11 rondas da I Liga, A liderança a uns longínquos 12 pontos e fora da Taça de Portugal logo na primeira ronda, Rúben Amorim não teve problemas em assumir que a época está quase perdida.

Momento-chave: Coates 'meteu a mão', o árbitro precipitou-se

O Eintracht Frankfurt entrou no segundo tempo determinado em dar a volta ao marcador, quando percebeu que podia ferir o Sporting. Os Leões não esperavam era da precipitação do árbitro esloveno Slavko Vincic, que marcou penálti num lance entre Coates e Kamada, aos 59 minutos: o central do Sporting foi empurrado e, no salto, acabou por cabecear a bola de forma defeituosa, contra o seu braço. Um braço aberto porque ninguém salta com os braços colados no corpo, são afastados para ganhar impulso. O VAR nada disse e foi o Sporting a pagar. O empate, aos 63 minutos (Kamada transformou a grande penalidade) empurrou o Frankfurt para a vitória, que surgiu 10 minutos depois.

Os Melhores: Enquanto houve Ugarte houve Sporting

Ugarte varreu tudo à sua volta, por si e por Pedro Gonçalves, e ainda teve pulmão para se aventurar mais na frente. A sua saída, aos 63 minutos (lesionado), deixou o meio-campo leonino órfão porque Dário Essugo (entrou no seu lugar) está muito 'verde' para o nível Champions.

Kamada ganhou o penálti a Coates que ele mesmo converteu, dando esperanças ao Eintracht Frankfurt. Foi sempre dos mais esclarecidos dos germânicos, na forma como tratava a bola, sempre a sair 'limpa' dos seus pés. É um médio com chegada a área, com capacidade de passe mas também de decisão, sempre no timing certo.

Destaque para o ambiente nas bancadas: os 41744 adeptos que estiveram em Alvalade participaram na festa, com os da casa (em larga maioria) mais ruidosos no primeiro tempo e os poucos milhares do Frankfurt a puxarem da garganta para empurrar a equipa para a reviravolta. Fantástico!

Em noite 'não': Trincão, assim não!

A colocação de Arthur no onze, no lugar de Trincão, surpreendeu mas a entada do extremo português justificou a aposta no brasileiro ex-Estoril. De acordo com dados dos 'GoalPoint', tinha perdido as bola em oito das 12 vezes em que a teve, aos 84 minutos. Trincão nada acrescentou quando a equipa mais precisava dele.

Pela negativa, o ataque do Sporting: apenas dois remates enquadrados e uma nulidade ofensiva no segundo tempo. Muito pouco para nível Champions.

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