O novo Campeonato do Mundo de clubes de futebol, que será disputado no verão de 2025 por 32 participantes, incluindo Benfica e FC Porto, sob chancela da FIFA, deixou cético o presidente da Liga espanhola, Javier Tebas.
“O que é que eles procuram com um torneio em que arrecadam dois mil milhões de dólares e 20% vai para os clubes grandes? Isso vai criar mais diferenças nas ligas nacionais entre quem tem mais e menos dinheiro e afetará a competitividade”, criticou.
Javier Tebas falava hoje na abertura do segundo dia da terceira edição da cimeira Thinking Football, que promove debates sobre a modalidade com oradores nacionais e internacionais entre quinta-feira e sábado, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, sob organização da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).
“Há um problema de saúde para aqueles jogadores que disputam Mundiais e Europeus de seleções e a Liga dos Campeões. São cerca de 200, mas só na Europa há 50.000 jogadores profissionais. Querem angariar dinheiro a partir desses 200, que, em vez de cinco Ferraris, passarão a ter seis. É isso que queremos no futebol”, prosseguiu Javier Tebas, uma das vozes mais críticas contra a criação da controversa Superliga europeia.
Disputado desde 2005 numa periodicidade anual pelos seis campeões continentais, mais um representante do país anfitrião, o Mundial de clubes passará a realizar-se de quatro em quatro anos a partir de 2025, estando previsto para decorrer entre 15 de junho e 13 de julho, nos Estados Unidos.
“Ao preencher mais um verão a nível de competições, vai estrangular os calendários nacionais. O ecossistema do futebol foi um êxito nos últimos 20 anos, com os seus erros de crescimento, mas agora estão a criar algo que o destruirá cada vez mais. Não poderíamos fazer outras coisas para arrecadar esses dois mil milhões de dólares? Por exemplo, porque é que não lutamos contra a pirataria? Esse é que é um problema”, atirou.
Os 32 emblemas vão ser distribuídos por oito grupos, de quatro equipas cada, com os dois primeiros classificados a rumarem à fase a eliminar, que terá jogos a uma mão a partir dos oitavos de final, abdicando da partida de atribuição do terceiro e quarto lugares incluída em anteriores edições.
“Querer um Mundial de clubes não faz ganhar mais direitos audiovisuais na indústria do futebol. Há uma disrupção importantíssima a esse nível: antes pagava-se muito por exclusivos, mas, entretanto, surgiram imensas plataformas de OTT [Over-the-top, que distribuem conteúdos pela Internet] em todos os países e o dinheiro segmentou-se”, lembrou Javier Tebas.
A FIFA também vai aumentar a partir de 2026 o número de seleções em Mundiais, de 32 para 48, enquanto a UEFA incluirá já esta temporada 36 equipas em cada uma das remodeladas fases regulares da Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência, todas anteriormente disputadas por 32 emblemas.
Em julho, as Ligas Europeias de futebol, organismo presidido por Pedro Proença, igualmente líder da LPFP, e a Federação Internacional das Associações de futebolistas (FIFPro) formalizaram uma queixa conjunta na Comissão Europeia contra a FIFA, visada pelo congestionamento unilateral dos calendários.
“Os organismos devem sentar-se com quem gere a indústria, que são as ligas nacionais, para discutir e pensar nos mil efeitos provocados pelas decisões que tomam. Se estão em busca de dinheiro, encontraremos soluções. Se estão à procura de ego e poder, estamos equivocados”, finalizou Javier Tebas, presidente da Liga espanhola desde 2013.
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