A crise económica trouxe algumas mudanças naquilo que era o mapa geral do emprego no nosso país. Cada vez que o Instituto Nacional de Estatística divulga novos dados, assiste-se a uma diminuição do número de jovens que entram nessas contas. Eles não desaparecem por magia. Deixam de ser números para essas contas, porque já não moram em Portugal. Emigraram à procura do que não tinham.
A redescoberta do Brasil
Foi esse o caminho de Filipe Costa de 26 anos. O jovem, formado em Gestão do Desporto pela FMH (Faculdade de Motricidade Humana), partiu para o Brasil com o sonho de poder deixar a sua marca num dos maiores eventos do mundo desportivo: o campeonato do mundo de futebol.
Durante um ano, Filipe esteve a maturar o sonho. Depois ganhou coragem, respirou fundo e deu o grande passo que o levou para o outro lado do Oceano Atlântico.
«Durante um ano estive a projetar a viagem e toda a logística necessária. Quis ponderar tudo, pesquisar com calma. No início a mudança foi muito complicada porque a cultura é totalmente diferente: o estilo de vida, o ambiente, as pessoas e a forma de trabalhar. Mas com o tempo tudo se resolve. O Brasil é o meu projeto de vida. É aqui que vão acontecer os maiores eventos do planeta nos próximos anos», começou por dizer ao SAPO Desporto.
Estará a perguntar-se o que tem de diferente a história de Filipe, quando tantos outros jovens fazem e passam pelo mesmo, enfrentando o desconhecido. A verdade é que este português tinha um sonho e concretizou-o.
E o Mundial aqui tão perto
Se do pensamento à ação, Filipe Costa demorou um ano, a verdade é que quando chegou viu-se rapidamente envolvido num projeto ligado a um dos estádios do Mundial 2014: a Arena Castelão.
«A oportunidade surgiu quando eu já tinha decidido ir para o Brasil aproveitar o ciclo de grandes competições. Um professor da minha Universidade indicou-me para este projeto específico. Cheguei, conversei com os responsáveis da empresa e escolheram-me».
A BSB (Brunoro Sport Business) tinha sido contratada para definir o modelo de gestão e operação da Arena Castelão. Em termos simples, estudar as várias possibilidades para que este estádio não se torne em mais um gigante ‘elefante branco’, como tantos outros que conhecemos.
«A minha contribuição foi, mais especificamente, conhecer o estádio e a sua envolvência. Depois, tive de pesquisar e fazer um levantamento sobre todas as atividades culturais e desportivas que acontecem em Fortaleza e que pudessem concorrer com este espaço. Consultei dados sobre a renda média das pessoas (o que gastam, onde gastam) que aqui vivem, e também daqueles que vêm de fora, visto este ser um grande ponto turístico. Basicamente, o meu trabalho incidiu sobre pesquisa de mercado, ou seja, perceber onde se enquadrava a Arena Castelão dentro de uma cidade como Fortaleza que está totalmente virada para o turismo», explicou, em traços gerais.
Em três semanas de ‘Brasil’, o português foi obrigado a ir do Rio de Janeiro, cidade que escolheu para viver, até Fortaleza. Viajou sozinho com todos os sonhos e medos inerentes a quem chega a este gigante país.
«Estava no Brasil há cerca de três semanas, quando tive de viajar sozinho para Fortaleza sem conhecer nada. Eu nunca tinha vindo para o Brasil. Viajei do Rio para Fortaleza. Cheguei e estavam 32 graus às duas da manhã. Parecia que estava num forno. Foi uma viagem quase relâmpago. Estive três dias reunido com todas as pessoas que se possa imaginar que estavam envolvidas na obra. Desde agências de turismo a responsáveis técnicos, gestores, entre outros. Essa foi a parte em que estive no terreno, depois tudo o resto foi feito com base nas informações que consegui recolher lá. Elaborámos um plano com a gestão do espaço que nós considerávamos a mais correta».
O futuro da Arena Castelão
Fortaleza é o destino de muitos turistas, mas o futebol não está de todo no topo das prioridades para quem visita a capital do Estado do Ceará. Até porque os clubes da região não têm grande expressão no futebol brasileiro. O Ceará, que é o maior emblema da cidade, joga na série B (segunda Liga) do campeonado brasileiro de futebol. A questão que toda a gente coloca é: qual é que será o futuro deste estádio, com capacidade para mais de 60 mil pessoas, no pós Mundial 2014.
«Essa foi a grande dificuldade que nós encontramos quando estávamos a planear a gestão de um estádio. À partida, este recinto vai estar longe dos grandes palcos do futebol brasileiro e internacional, pelo que a reformulação deste estádio foi vista com alguma controvérsia. O que nós tentámos foi fazer o mesmo que já se faz na Europa, e em particular na Holanda com a Arena de Amesterdão. Tentar voltar o estádio para eventos que não estejam apenas e só relacionados com o futebol, isto é, tentar ocupar o resto do tempo através de eventos variados, visto que a vida cultural de Fortaleza e do Estado do Ceará é grande. O nosso objetivo é canalizá-los para a Arena Castelão e fazer desta um espaço multiusos recebendo eventos como o Ceará Music (festival de música), Festival de Humor, o Fortal (Carnaval fora de época), entre outros».
A pesquisa de mercado foi feita e entregue à Arena Castelão Operadora de Estádio S/A. A entidade responsável pela gestão do estádio tem até 2018 para provar que existe viabilidade económica para um recinto desta envergadura.
O passo seguinte
Quanto a Filipe, cumpriu em parte aquilo a que se comprometeu: deixar a sua marca, a marca de Portugal neste projeto. Se o primeiro passo para um emigrante é sempre o mais complicado, esse foi feito com firmeza e com sucesso. Agora é esperar que as portas se continuem a abrir no futuro.
«Bom, o meu futuro passará pelo Brasil obrigatoriamente nos próximos tempos. É o meu projeto de vida. É aqui que vão acontecer os maiores eventos do planeta. 2014 é ano de Mundial e quero tentar mais alguma participação neste evento. Vamos ver o que vai acontecer. E depois vêm os Jogos Olímpicos e eu sou uma pessoa que gosta de deixar a sua marca e vou tentar fazê-lo também nos Jogos Olímpicos», concluiu.
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