A França foi a incontestável vencedora do Mundial de futebol de 2018, repetindo o feito de 1998, numa prova dominada pelas seleções europeias, ajudada pelo VAR e em que tudo correu bem em termos organizativos.
Ao 64.º jogo, em 32 dias, os gauleses impuseram-se na final à Croácia, depois de já terem afastado Argentina, Uruguai e Bélgica e de uma primeira fase sem sobressaltos, com os belgas a fecharem o pódio, imediatamente à frente da Inglaterra.
Na Rússia, a 21.ª edição ficou também marcado pela queda prematura da detentora do troféu, a Alemanha, recambiada para casa após uma fase de grupos em que também caíram todos os africanos, algo inédito na ‘era oitavos’ (desde 1986).
O campeão da Europa Portugal, de Ronaldo, caiu nos ‘oitavos’, no mesmo dia da Argentina, de Messi, sendo que México e Japão, as únicas seleções fora de Europa e América do Sul que passaram o ‘cut’, também não resistiram à primeira fase a eliminar.
Os primeiros dois jogos dos ‘quartos’ transformaram o Mundial em Europeu, com a queda de Brasil e Uruguai, e, na luta pelo 12.º vencedor do ‘velho continente’, e quarto consecutivo, impôs-se a França, após bater Bélgica nas ‘meias’ e a Croácia na final.
Assim, e após o triunfo caseiro de 1998, selado com um 3-0 na final ao Brasil, o ‘onze’ de Didier Deschamps, então ‘capitão’, sagrou-se bicampeão, num percurso imaculado, em que não precisou de desempates por penáltis ou sequer prolongamentos.
Com um conjunto mais forte do que o que há dois anos perdeu em casa, face a Portugal, a final do Europeu de 2016, face sobretudo às presenças de Mbappé e Kanté, os gauleses deram um valente ‘pontapé’, com muita competência, no ‘fantasma’ de Éder.
A França não primou pelo futebol espetacular, mas conseguiu vencer, mais ou menos convincentemente, todos os adversários que defrontou, exceto a Dinamarca, mas quando já apurada para os ‘oitavos’ e só necessitava de um empate, que conseguiu (0-0).
Num coletivo poderoso, nenhum jogador conseguiu destacar-se claramente, pois muitos estiveram a um nível altíssimo, daí as escassas mexidas de Deschamps no ‘onze’, depois de, ao segundo jogo, apostar em Giroud e Matuidi em vez de Dembélé e Tolisso.
Os restantes nove elementos do ‘onze base’ estiveram todos em grande plano, com Pavard, a revelação, Varane, Umtiti e Lucas Hernández a darem grande consistência defensiva, à frente de Llloris e ‘escudados’ pelo incansável Kanté.
Ao seu lado, Pogba foi determinante a construir e igualmente a lançar o ataque, nomeadamente as duas grandes ‘estrelas’ da equipa, o veloz Mbappé, eleito melhor jovem da prova, e o tecnicista Griezmann, o homem de todas as bolas paradas.
Mbappé e Griezmann, este último com a ajuda de três penáltis – não falhou nenhum, ao contrário de Modric, Messi ou Ronaldo -, lideraram os marcadores gauleses, com quatro tentos, tirando relevância ao ‘zero’ de Giroud.
Os franceses justificaram plenamente o título, mais ainda do que a Croácia o segundo lugar, o seu melhor de sempre, superando o terceiro de 1998, ainda que o conjunto comandado por Zlatko Dalic tenha acabado por merecer a sorte que teve.
O trajeto ficou muito marcado por um 3-0 à Argentina que colocou a equipa na ‘moda’, mas, depois, a Croácia só superou Dinamarca e Rússia nos penáltis e a Inglaterra no prolongamento, não vencendo, assim, um único jogo a eliminar nos 90 minutos.
Ainda assim, os croatas chegaram à final depois de terem estado a perder nos ‘oitavos’, nos ‘quartos’ e nas ‘meias’, o que revela uma equipa com uma grande consistência psicológica, um conjunto que acreditou sempre na qualidade do seu futebol.
O médio Modric, eleito o melhor jogador da prova, liderou os croatas, juntamente com Rakitic e Perisic, sendo que quase todos saíram com nota alta, casos de Subasic, Vrsaljko, Vida, Lovren, Strinic, Mandzukic, Rebic, Krmaric ou Brozovic.
A Bélgica, que acabou a prova como o melhor ataque, com 16 golos, conseguiu também o seu melhor resultado de sempre, ao fechar o pódio, melhorando o quarto posto de 1986, mas o seu futebol merecia algo mais, pelo menos a presença na final.
Seis vitórias e um desaire por 1-0 com a França, nas meias-finais, por culpa de um canto, um pormenor, foi o saldo dos belgas, um conjunto recheado de grandes talentos, acima de todos Kevin De Bruyne e Eden Hazard.
O espanhol Roberto Martínez conseguiu fazer uma equipa de uma coleção de ‘estrelas’, na qual também brilharam intensamente Lukaku, que acabou com quatro golos, Courtois, eleito o melhor guarda-redes da prova, e Meunier.
Às meias-finais, 28 anos depois, chegou também a Inglaterra, que, com um futebol bem mais direto e pragmático, mais pelo ar, à falta de médios criativos e capazes de ter a bola, conseguiu igualar o registo de 1990.
O guarda-redes Pickford e o central Maguire foram revelações, num conjunto que teve como grande figura o avançado Harry Kane, que, com seis golos, tornou-se o segundo inglês a sagrar-se ‘rei’ dos marcadores, após Gary Lineker, em 1986.
Nos ‘quartos’, foram afastados o Brasil, de um Neymar que viu tudo o que fez ser ‘transformado’ em quedas teatrais, e o Uruguai, desfalcado de Cavani, deixando a América do Sul sem representantes. Culpa de Bélgica e França, respetivamente.
Com toda a naturalidade, também ‘tombaram’ a Suécia, que não chegava ao ‘top 8’ desde 1994, e a melhor Rússia após o final da União Soviética, que só sucumbiu perante a Croácia, nos penáltis, depois de um trajeto em que brilharam Cheryshev e Golovin.
Antes, nos ‘oitavos’, caíram os dois jogadores que têm dominado o planeta futebolístico, Messi, perante a França, e Ronaldo, face ao Uruguai, a Espanha, ‘traída’ antes do arranque por Julen Lopetegui, e os últimos ‘outsiders’, o México e o Japão.
Quanto à fase inicial, a grande ‘bomba’ foi a eliminação da Alemanha, culminada com um inacreditável 0-2 com a Coreia do Sul, o resultado mais surpreendente da prova, enquanto as seleções africanas falharam em bloco, o Senegal por 'excesso' de cartões.
Os estreantes Islândia e Panamá também viram a sua participação terminar após três jogos, numa competição que registou 169 golos – a dois do recorde absoluto de 1998 e 2014 -, incluindo 22 penáltis e 12 autogolos.
Quanto ao VAR, foi aprovado na generalidade, sem qualquer dúvida pela FIFA, mas também pela grande maioria de jogadores e treinadores, com os acertos a compensarem claramente alguns erros, entre eles um penálti mal assinalado contra Portugal.
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