O investimento necessário para reconstruir o Estádio Municipal dr. Magalhães Pessoa para o Euro2004 traumatizou Leiria, defende o presidente da Câmara, Gonçalo Lopes, que, contudo, acredita que a infraestrutura tem, duas décadas depois, “condições excecionais de afirmação”.
Segundo dados de uma auditoria do Tribunal de Contas (TdC), a remodelação do Estádio Municipal de Leiria custou mais de 53 milhões de euros (ME), fatura que sobe para 83 ME quando contabilizados os gastos com estacionamentos, acessibilidades e outros investimentos.
“Ficámos, de certa maneira, traumatizados com o volume de investimento, que teve consequências geracionais nos investimentos do município”, num prazo de “aproximadamente 20 a 30 anos”, afirmou à agência Lusa Gonçalo Lopes.
Com 10 ME relativos ao estádio ainda por pagar até 2028, o município de Leiria tem uma despesa com o serviço da dívida “à volta dos 800 mil euros por ano” e custos de manutenção “na ordem dos 300 mil euros”.
São despesas com “um impacto importante nas contas da Câmara”, que obrigam a “muito cuidado”, admite o autarca.
Hesitações do executivo noutros investimentos avultados desejados para o concelho são atribuídas ao trauma causado pelos custos do estádio.
“Quando se equaciona construir um multiusos que custa 27 ou 30 ME, nós pensamos duas vezes. Quando queremos fazer uma infraestrutura como uma nova piscina olímpica, pensamos quatro vezes”, admitiu.
A herança financeira do novo dr. Magalhães Pessoa veio “atrasar todas as outras áreas de investimento importantes”, representando, hoje, “uma obra equivalente a três ME todos os anos”. Ou seja, “aproximadamente três creches ou metade de um centro escolar”.
Por outro lado, o retorno “é claramente deficitário” face ao investimento. Fosse o estádio uma empresa e teria “largos prejuízos”.
Só se mantém porque, como outros em Portugal, é “um daqueles estádios que têm uma dimensão pública associada”.
Por tudo isto, o presidente da Câmara considera que “a maioria dos leirienses acha que o estádio de Leiria foi um investimento público que trouxe consequências àquilo que eram os investimentos que Leiria deveria ter tido nos anos a seguir”. Mas, relembra, ”antes de ele ser feito, foi reclamado como uma grande prioridade”.
Propostas como a demolição ou venda - a hasta pública lançada em 2011 ficou deserta - foram esquecidas e agora, quase pago, “não se equaciona outro destino que não seja tirar o máximo proveito dele”. Mesmo assumindo que é “um desafio grande tornar esta infraestrutura útil”.
No “campeonato” dos estádios Euro2004, comparando com Algarve, Aveiro, “ou mesmo o de Coimbra”, Leiria apresenta “condições excecionais de afirmação”, porque “tem a Taça da Liga”, que lá se disputa desde 2021, e “mantém o funcionamento regular com o atletismo e o futebol”.
Além disso, há um novo investimento a avançar no topo norte, que está por concluir há mais de duas décadas: a primeira fase de um investimento de 3,4 ME para instalação dos serviços locais e distritais da Autoridade Tributária e Aduaneira.
Posteriormente, o município quer criar condições para a atividade empresarial e educativa ligada ao ramo digital se instalar no topo norte, num plano para criar “uma nova centralidade na cidade de Leiria”, que inclui a transferência do terminal rodoviário para a zona.
O presidente da Câmara acredita que, no Estádio de Leiria, “os momentos mais difíceis foram ultrapassados”.
“Podemos sentir orgulho em termos um estádio que tem a qualidade suficiente para receber competições, mantivemos o nosso projeto desportivo intacto - e agora em crescimento -, aguentámos as piores fases do futebol na região, quando o União de Leiria desceu de divisão”, recorda.
Leiria até podia ter “desistido deste equipamento”, mas o Estádio transformou-se, 20 anos depois do Euro2004, “exemplo de boa prática no que diz respeito a receber a Taça da Liga” e “referência em termos de eventos desportivos, que tem impactos positivos na economia local”.
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