Sónia Silva é professora e formadora dos futuros docentes guineenses de Educação Física. Está na Guiné-Bissau há quase um ano, mas, como a própria contou à Agência Lusa, nunca imaginou entrar no campeonato guineense de futebol, muito menos pertencer à equipa campeã e “possivelmente, estar entre as melhoras jogadoras da prova”.
A professora, hoje bastante conhecida no meio futebolístico guineense, por ser a única estrangeira a jogar no campeonato local, ajudou no passado fim-de-semana a sua equipa, a Mavegro FC a se sagrar campeã, que venceu o jogo decisivo, por 7-0.
Durante a entrevista à Lusa, no estádio Lino Correia, em Bissau, foram várias as manifestações de carinho que Sónia foi recebendo dos simpatizantes de futebol.
“Sónia, como é que é? Vais jogar noutra equipa para o ano? Vais para Mansoa? Ficas na Mavegro?”, indagavam os adeptos do futebol, fãs da portuguesa, preocupados com a possibilidade desta ser “raptada” pela concorrência.
Antiga jogadora profissional e ex internacional por Portugal, Sónia explicou à Lusa que a sua participação no campeonato acabou por ser fruto de um acaso como o facto de o prédio onde moram as professoras portugueses, em Bissau, se situar em frente ao estádio Lino Correia.
“Um dia estava eu na janela do prédio quando reparei que havia raparigas a jogar futebol e disse, se calhar, qualquer dia vou lá ver se treino com elas”, afirmou Sónia. Assim foi. Um dia a Sónia foi ao estádio e treinou, foi tão apreciada pelas colegas que surgiram logo ali os apelos para participar no campeonato.
Após vários dias de “namoro”, a professora portuguesa acabaria por aceitar o convite da Mavegro FC, a equipa que viria a ser a campeã da Guiné-Bissau. Não participou em todos os jogos, mas ainda assim, o seu desempenho foi reconhecido pela crítica.
“Na minha opinião, a professora Sónia foi, de longe, a melhor jogadora deste campeonato”, dizia à Lusa, o jornalista Carlos Nanque, assíduo frequentador dos campos de futebol, pelo seu trabalho de acompanhamento do futebol feminino.
“Fico muito contente se a crítica me considera como tal, mas tenho a certeza que há grandes jogadoras aqui. Posso falar da Binta, da Bety, da Bedja. Posso ser uma das boas jogadoras, e tudo isto me deixa lisonjeada e muito gratificada. Deixei o futebol há muitos anos e agora regressei. Ser considerada a melhor jogadora do campeonato…é bom”, defendeu Sónia Silva.
Embora reconheça a diferença cultural entre si e as suas colegas, Sónia Silva não deixou “de alinhar” nalguns rituais que a equipa faz de cada vez que vai para um jogo, mesmo não acreditando “naquilo”.
“Por exemplo, eu ser a primeira a entrar em campo, ou colocar um líquido nos braços e nas pernas para estarmos livres dos poderes do adversário”, contou, referindo-se às crenças guineenses.
“Alinhei em tudo. Como lhe disse a minha cultura é deferente. Eu não sou tão influenciada por esse tipo de rituais, mas se não me faz diferença e se para as outras pessoas é importante, porque não hei-de aderir. Se calhar para elas se eu não aderir pode funcionar no sentido negativo. Para mim tanto me faz”, vincou a professora Sónia, por agora de férias.
Mas regressará para o próximo ano lectivo e, possivelmente, voltará a jogar futebol na Mavegro, a equipa que diz ser sua família.
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