Líder da primeira à última jornada, e comandante a solo desde a quarta, o ‘onze’ do estreante alemão Roger Schmidt acabou com escassos dois pontos de vantagem sobre o FC Porto, que defendia o cetro, numa resultado final que não reflete a sua superioridade.
Os ‘encarnados’ foram ‘imensos’ até ao Mundial (20 de novembro a 18 de dezembro), que partiu a prova a meio, somando 12 vitórias e um empate (0-0 em Guimarães), com a presença marcante do argentino Enzo Fernández a pautar o meio-campo.
O pós Qatar2022 foi complicado, com a perda do ex-River Plate para o Chelsea e cinco pontos cedidos nos primeiros três jogos (0-3 em Braga e 2-2 com o Sporting), com a equipa a reencontrar-se com Chiquinho e, mesmo sem o mesmo nível exibicional, a somar 10 vitórias seguidas, o melhor registo da prova.
A formação ‘encarnada’ poderia ter ‘acabado’ com o campeonato à 27.ª ronda, na receção ao FC Porto, mas não conseguiu segurar uma vantagem inicial que lhe conferia, virtualmente, 13 pontos à maior, acabando por sofrer a já habitual derrota em casa com os ‘dragões’ (1-2).
Esse desaire e, de imediato, uma impensável derrota em Chaves (0-1), fez a diferença cair de 10 para quatro pontos, dando à parte final do campeonato uma inesperada emoção, com o Benfica a ter de defrontar Sporting de Braga e Sporting.
Com o FC Porto a responder com vitórias, quase sempre tangenciais e ‘alimentadas’ a penáltis (sete, à média de um por jogo), o Benfica ‘sabia’ que tinha de chegar a Alvalade, à 33.ª jornada, quatro pontos à maior e, com o ‘miúdo’ João Neves a conferir ao meio-campo frescura e lucidez, conseguiu-o.
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Os ‘encarnados’ somaram quatro triunfos seguidos, um deles na receção ao Sporting de Braga (1-0), e poderiam ter sido campeões face ao Sporting, mas saírem do ‘dérbi’ com um empate (2-2), após uma desvantagem de dois golos, que embalou a equipa para o ‘38’, selado com um triunfo seguro na receção ao Santa Clara (3-0).
Schmidt, pela forma como colocou a equipa a jogar, um futebol positivo, sempre virado para a frente (melhor ataque, com 82 golos), com um inamovível ‘4-2-3-1’, independentemente do adversário, e raras mexidas no ‘onze’, acaba como o grande responsável por esta conquista.
Dentro do campo, a equipa mostrou também segurança defensiva, acabando como a melhor defesa (20 golos sofridos), incluindo 21 jogos com a baliza a zero.
O coletivo funcionou quase sempre e foram também muitas as individualidades que se destacaram, a começar pela segurança de Vlachodimos na baliza, escudado pela experiência de Otamendi e a revelação António Silva, mais dois laterais a dar grande profundidade, Bah e Grimaldo, em época de despedida.
No meio-campo, Enzo Fernández foi o grande destaque até ao Mundial e deixou saudades, apesar de Chiquinho ter cumprido e da aparição sobre o final de João Neves, que acabou por secundarizar o ‘pêndulo’ Florentino.
Quanto ao ataque, João Mário, Rafa e Gonçalo Ramos entraram a todo o ‘gás’, mas foram caindo de produção, ao contrário de um David Neres em crescendo e de um ‘omnipresente’ Aursnes, sempre útil em qualquer posição e imprescindível no ‘onze’.
Entre os habituais suplentes, o croata Petar Musa foi o mais produtivo, com seis golos (seis), mas Schmidt também pôde contar sempre com Morato, mais do que com os credenciados Draxler e Gonçalo Guedes, reforço de inverno, prejudicados pelas lesões.
Mesmo com um final algo periclitante, o Benfica foi um justo campeão, sucedendo a um FC Porto que foi igual a si próprio, à imagem do seu treinador Sérgio Conceição, uma equipa de luta, de nunca desistir, mas sem encantar, muito ‘resultadista’.
Os ‘dragões’ acabaram a dois pontos, mas só estiveram na frente nas primeiras três rondas, acabando por ‘renascer’ na Luz, depois de um percurso muito prejudicado pelas expulsões, nomeadamente nas receções a Benfica (0-1) e Gil Vicente (1-2), como imagem de um trajeto de excessos, passados de fora para dentro.
Os 22 golos do iraniano Taremi, que acabou como o melhor marcador da I Liga, são o grande destaque individual dos portistas, a par dos veteranos centrais Pepe e Marcano - este a ‘apagar’ David Carmo, contratado por 20 milhões de euros - e do ‘irascível’ Otávio, sem esquecer Diogo Costa.
Na luta pelo título, nunca assumida, até perder na Luz por 1-0, já à 31.ª jornada, o Sporting de Braga conseguiu, três anos depois, voltar ao pódio e é candidato aos milhões da Liga dos Campeões, da qual dista duas pré-eliminatórias.
Os bracarenses, liderados pela primeira vez desde um início de época por Artur Jorge, começaram bem, tiveram um período complicado com três derrotas em cinco jornadas (oitava à 12.ª), mas recompuseram-se, ‘faltando-lhes’ os pontos frente aos ‘grandes’ (uma vitória, dois empates e três derrotas).
Numa equipa com muitas soluções de qualidades, destaque para o ‘capitão’ Ricardo Horta, gorada a partida para a Luz, Iuri Medeiros e Al Musrati, mais os goleadores Banza e o ‘omnipresente’ Abel Ruiz, que compensaram o adeus de Vitinha, o central Niakaté, o guarda-redes Matheus e os reforços de inverno Bruma e Pizzi.
O Sporting de Braga deixou fora da ‘Champions’ o Sporting, que, na quarta época sob o comando de Rúben Amorim, mostrou uma enorme irregularidade, ao nível de resultados e exibições, mesmo dentro de um mesmo jogo – o recente dérbi é um bom exemplo.
Os ‘leões’ ficaram cedo longe da luta pelo título – só três vitórias nos primeiros sete jogos -, num trajeto em que o melhor foi uruguaio Ugarte, que, juntamente com Morita, não fez, ainda assim, esquecer a dupla formada por Palhinha e Matheus Nunes.
Pedro Gonçalves, mesmos sem conseguir recuperar o nível de 2020/21 (melhor marcador da prova), também se destacou, tal como, ainda que mais a espaços, Edwards, que não foi Sarabia, ou Nuno Santos. E sentiu-se o adeus de Porro.
Abaixo dos quatro primeiros, ficou um enorme fosso, de 20 pontos, após o qual surge, surpreendentemente o Arouca, comandado por Armando Evangelista, que foi quinto e volta à Europa, pelas pré-eliminatórias da Liga Conferência.
Na corrida à fase de grupos da mesma competição, fruto do sexto posto e da presença na final da Taça de Portugal de FC Porto e Sporting de Braga, que vão à ‘Champions’, estará o Vitória de Guimarães, liderado pelo ‘não diplomado’ Moreno.
Nos lugares imediatos, mais perto da Europa do que da descida, ficaram o Desportivo de Chaves (sétimo), o Famalicão (oitavo), que cresceu com o regresso de João Pedro Sousa, o Boavista (nono), com 13 golos de Yusupha, e o Casa Pia (10.º), grande sensação da primeira metade da época.
O Vizela (11.º), o Rio Ave (12.º), o Gil Vicente (13.º), que tombou do quinto lugar do ano passado para o 13.º, apesar dos 17 golos do espanhol Fran Navarro, e o Portimonense (15.º) também não chegaram a temer pela manutenção, ao contrário do Estoril Praia (14.º), uma dos poucos clubes a mudar de técnico na segunda volta.
Por seu lado, o Marítimo, incapaz de segurar vantagens (deixou-se ‘virar’ oito vezes), está em risco de voltar, quase 40 anos depois, ao segundo escalão, tendo, para evitá-lo, de ganhar um play-off contra o Estrela da Amadora.
Se os insulares ainda têm a esperança de não ‘cair’ para 1984/85, o Paços de Ferreira, que despediu e reintegrou César Peixoto, e o Santa Clara, cujos três técnicos falharam, voltam à II Liga, após quatro e cinco épocas entre os ‘grandes’, respetivamente.
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