Para Hélder Varandas, administrador da Link, não se compreende que receitas que decorrem da actividade da SAD, como direitos televisivos da transmissão de jogos de futebol, ou infra-estruturas como estádios e centros de treino, estejam noutras empresas.
Quanto aos projectos de reestruturação financeira em curso em grandes clubes de futebol, Varandas sublinhou que no caso do Benfica e do Sporting visam resolver o problema da situação líquida das SAD, que no fim do último exercício tinham capitais próprios (activo menos passivo) negativos, situação classificada como de falência técnica.
Observou, contudo, que o Sporting aponta também como objectivo reduzir o endividamento, enquanto no caso do Benfica a reestruturação não visa reduzir o passivo do grupo.
Hélder Varandas assinalou que o Sporting vai reduzir primeiro o capital social de 42 milhões de euros para metade, baixando o valor das suas acções de 2 euros para 1 euro, e posteriormente voltar a aumentá-lo, com emissão de 20 milhões de acções com valor nominal de 1 euro, uma estratégia conhecida como operação harmónio.
Além disso, a SAD do Sporting vai emitir 55 milhões de euros de VMOC (valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis), que ao fim de cinco anos são convertidos em acções, que significa uma entrada de dinheiro fresco, que pode ser utilizado para amortizar a dívida, indicou.
Hélder Varandas observou que a Academia do Sporting vai também integrar a SAD, o que significa um aumento de capital em espécie.
O administrador da Link adiantou que o capital da SAD vai passar no final da reestruturação a ser de 123,5 milhões de euros e o grupo Sporting deterá 50,1 por cento das acções.
Aquele consultor estima que o endividamento do Sporting se situará entre os 250 milhões e os 270 milhões de euros e, tendo em conta que o clube tem a receber 30 milhões de euros de terrenos, a dívida poderá baixar para 150 milhões a 170 milhões de euros no fim da operação, o que "é uma dívida grande mas gerível".
No caso do Benfica, a SAD vai ter primeiro um aumento de capital dos cerca de 75 milhões de euros actuais para 115 milhões de euros mas em espécie, sem entrada de dinheiro fresco, que permita reduzir um passivo que já se aproxima dos 500 milhões de euros para a totalidade do grupo Benfica, segundo foi indicado na última assembleia geral do clube.
Hélder Varandas acrescentou que, no Benfica, a reestruturação financeira não tem como objectivo a redução do financiamento mas apenas reforçar a SAD para esta sair da situação de falência técnica.
Para aquele especialista, faria sentido uma reestruturação financeira para reduzir o endividamento, que é elevado, e não passar apenas uma série de coisas de um lado para o outro para a SAD sair da falência técnica.
Hélder Varandas estimou que o grupo Benfica terá de disponibilizar entre 20 milhões a 25 milhões de euros por ano só para pagamento dos juros da sua dívida e recordou que as taxas de juro poderão começar a subir gradualmente em meados de 2010.
Precisou que o clube fica com capitais próprios negativos de 14,4 milhões de euros, mas como é uma associação não tem as obrigações legais das empresas e não está abrangido pelo Código das Sociedades Comerciais.
O mesmo especialista salientou que na primeira fase a SAD do Benfica aumenta o activo para cerca de 275 milhões de euros mas o passivo fica em 246,8 milhões de euros, o que garante capitais próprios ser positivos mas ainda insuficientes face ao artigo 35.º do Código.
Hélder Varandas indicou que "há alguma racionalização da estrutura do grupo", tanto no caso do Benfica como do Sporting.
Em relação ao FC Porto, o mesmo consultor afirmou que gerou lucros com a venda de jogadores que lhe permitiu sair da situação de capitais próprios insuficientes.
"Os resultados gerados são a melhor forma de sair da situação" de insuficiência de capitais, observou.
Aquele especialista em economia do Desporto estimou que o FC Porto terá um endividamento total da ordem dos 200 milhões de euros e observou que os problemas estão no orçamento operacional, com despesas elevadas, da ordem dos 40 milhões de euros.
Hélder Varandas considerou que nas receitas geradas o FC Porto é o clube que está em melhor situação devido às vendas de jogadores, mas sublinhou que o Benfica tem receitas elevadas.
Destacou que o Benfica só em receitas de sócios tem mais de 12 milhões de euros de quotizações, muito superiores àquelas de que dispõem o FC Porto e o Sporting.
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