O treinador do Santa Clara, João Henriques, assume que sempre defendeu o regresso do campeonato depois da pandemia de Covid-19 ter obrigado à interrupção da prova, mas admite que esse facto alterou o desfecho da competição.
Em entrevista à agência Lusa, o treinador afirma que a solução encontrada para a retoma da I Liga garante a verdade desportiva, mas deixa espaço a algumas dúvidas.
"Não sabemos o que aconteceria se não tivesse existido a pandemia em termos de desenrolar do campeonato. Há verdade desportiva, porque todos jogaram contra todos, somam-se os pontos e temos uma classificação. Se se terminasse a 10 jornadas do fim ficaria sempre o sentimento de injustiça quando havia 30 pontos em disputa. Esses 30 pontos, como se está a ver, modificam muita coisa. Mas claro que este será sempre o campeonato da pandemia", admite o treinador.
Sobre a solução encontrada para o Santa Clara, que se mudou de armas e bagagens de Ponta Delgada para a Cidade do Futebol, em Oeiras, João Henriques diz-se orgulhoso da postura que o clube assumiu ao longo de todo o processo.
"Quisemos ser parte da solução e não um problema. Fomos a única equipa que assumiu jogar dez jogos fora de casa, sem problema algum. Não estamos arrependidos e só temos pena de não estarmos perto dos nossos adeptos", afirma o treinador.
Sobre as seis semanas que os açorianos já levam de estadia em Oeiras, o líder da equipa admite que a ausência das famílias e amigos é o que mais custa a todos e que foi por isso mesmo que nos últimos dias o clube possibilitou aos jogadores terem esse contacto.
"Esta fase no continente não tem sido nada fácil. É muito difícil, sobretudo em termos mentais. Sentimos muito isso nas duas últimas semanas e, por isso, no último fim de semana decidimos deixar os jogadores irem ter com as suas famílias, sempre com muita cautela e máxima responsabilidade. Decidimos para bem do grupo arriscar e deixar que os jogadores fossem para junto das famílias", revela João Henriques, que explica que permitir aos jogadores "desligar" da rotina do futebol já trouxe ganhos na semana de trabalho que agora termina.
"Eles vieram rejuvenescidos e prontos para esta sequência de jogos que vamos ter até final", garante o técnico.
A viver a primeira temporada em Portugal, Lincoln, médio ofensivo que o Santa Clara foi buscar ao Brasil, assume que o principal constrangimento desta solução é "estar impossibilitado de ver a família", mas reitera que sempre quis regressar aos relvados para concluir as jornadas do campeonato que faltavam.
"Queria que o campeonato retomasse, embora jogar sem o público e estar sem a família seja complicado. Mas temos de estar concentrados e com determinação para que isso não nos atrapalhe. Temos de nos focar e terminar a temporada, pois o campeonato ainda não acabou", lembra o brasileiro.
Com família e amigos do outro lado do oceano Atlântico, Lincoln assume que vê com preocupação as notícias que chegam do Brasil.
"É uma situação delicada, que deve ser levada a sério, o que não aconteceu desde o início no Brasil. Por isso há muitos casos lá, mas temos de abrir os olhos porque é uma situação complicada e preocupante", diz o médio, que no currículo tem já uma Taça dos Libertadores ganha com a camisola do Grémio de Portalegre.
O Santa Clara, com 38 pontos, é atualmente o décimo classificado da I Liga.
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