Jorge Jesus marcou presença no Estádio da Luz, numa conferência sobre "A gestão humanizada do futebol". Na sua intervenção, o treinador do Benfica falou do futebol como uma escola de vida, abordou a questão da pressão de vencer e da necessidade de o treinador ter uma identidade.
Formar-se no futebol: "Para além de saber de futebol temos de conhecer o que é o futebol. O futebol não é só táticas e estratégia, tem muito a ver com arte e criatividade. Um jogador não se fabrica, nasce, cria-se. O treinador é a mesma coisa. O treinador vai evoluindo ao longo dos anos, mas com a criatividade dele. É isso que ele faz. O treinador não se forma na faculdade. Durante 40 anos de treinador e jogador… Essa é a minha faculdade."
Talento: "Se o jogador não tiver talento, esquece. Mas, quem faz o golo é a equipa. Tirando exceções. Há jogadores que não precisam de equipa: Pelé, Messi, Cristiano Ronaldo, Maradona… Os outros precisam da equipa para serem os goleadores."
Pressão para vencer: "Não entendo muito quando ouço desportistas a dizer que sentem muita pressão. Sem prazer e paixão, quem manda é a pressão. Falemos de Cristiano Ronaldo. Ele tem prazer em jogar, para ele não há pressão, por isso vai jogar com 40 anos, se Deus lhe der saúde. Para ele, primeiro há prazer, não há pressão, quem não tem prazer e paixão, acaba por ver a pressão vingar."
Ambição e identidade de treinador: "Quem é o treinador que não tem ambição? Todos têm ambição. Mas, e traduzir isso no trabalho? Aqui está a diferença entre os treinadores. O que faz a diferença é a tua criatividade. Há livros como fazer treinos, mas não diz como operacionalizar as tuas ideias. Posso dizer que no mundo há seis, sete, oito, nove treinadores que são criadores. Os outros andam a copiar."
Passagem pelo Flamengo: "Parece que foi um ano mas não foi. Nesses 13 meses, eu e a minha equipa técnica,que somos 8, apanhámos o campeonato em andamento, a 9 pontos de atraso do primeiro. E acabámos com 16 de avanço para o segundo. Apanhámos o início da outra época e conquistámos mais 4 títulos. Não sei se poderia alguma vez fazer a mesma coisa que fizemos nesse tempo. Muito por essa ligação ao talento do jogador brasileiro", constatou.
Jogadores brasileiros: "Têm um talento incrível. Não há só grandes jogadores brasileiros, o Ronaldo e Messi não são. Mas eles nasceram para jogar. Têm um talento fora do normal, que nem valorizam muito. O Brasil faz jogadores do dia para a noite e nem sabem porque é. É pela calendarização do futebol brasileiro. O jogador brasileiro gosta de aprender, que lhe ensinem o jogo para além do talento dele. Trabalham com paixão e alegria."
Preconceito com jogadores brasileiros: "Quando eu jogava diziam que uma equipa que tivesse três brasileiros deixava de ser um equipa e era uma escola de samba. É mentira! O brasileiro tem paixão pelo trabalho. Tem uma coisa que para mim é espetacular: a gratidão pelo treinador e por quem os faz evoluir. Falam para mim como nunca estava habituado".
O Estádio da Luz, em Lisboa, recebe hoje e quarta-feira a primeira edição do Global Football Management, em dois dias dedicados ao “Futuro da gestão humanizada do Futebol”, com a participação de vários oradores dedicados a discutir os desafios atuais e futuro da modalidade, assim como as mudanças regulamentares esperadas.
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