O "38" do Benfica tem muito mais por trás do que aquilo que vimos a olho nu na equipa de Schmidt. Para fazer um raio-x tático ao novo Campeão Nacional, o SAPO Desporto esteve à conversa com o analista e comentador de futebol Pedro Bouças.
Diz-se que a individualidade faz o coletivo e comecemos por olhar para quatro jogadores que ajudaram a exponenciar ainda mais o futebol apresentado pelos encarnados.
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Aursnes - "Foi o melhor jogador do Benfica. Teve um rendimento incrível em todas as posições, menos a defesa direito. Nos momentos com bola e sem bola foi a chave tática deste Benfica. É um jogador que, sem bola, tem uma capacidade de pressão e de chegada aos espaços como nenhum outro e com bola tem uma qualidade de passe e tomada de decisão muito boa. Raríssimas vezes tem erros técnicos."
António Silva - "Diria que, de todos os jogadores que estão em Portugal, é o que tem mais potencial para jogar num grande europeu. É um central de uma classe tremenda, que resolve problemas defensivos já a pensar na forma como vai fazer para a equipa sair no ataque. Tem um potencial técnico, tático e físico incrível. Para além da qualidade sem bola, na construção é incrível e já está ao nível dos melhores na Europa."
João Mário - "Acaba por fazer uma época muito boa. Na minha opinião o número de golos está um pouco inflacionado pelas grandes penalidades. Foi sempre certeiro no jogo que se propõe a fazer."
David Neres - "Mais do que o João Mário, colocaria o extremo brasileiro entre os mais preponderantes na época do Benfica. Na primeira metade da temporada resolveu muitos problemas e no final voltou a surgir e a carregar os encarnados para os triunfos. É o maior desequilibrador e o que melhor define no último passe e na finalização."
Na temporada do Benfica, também salta à vista a regularidade exibicional frente aos clubes ditos "pequenos": Apenas uma derrota na visita a Chaves (28ª jornada) e um empate a zero golos no Estádio D. Afonso Henriques com o Vitória SC (8ª jornada). Nos clássicos, os encarnados já não foram tão avassaladores, com uma vitória e derrota no duplo confronto com o FC Porto, dois empates com o Sporting e uma derrota e vitória frente ao SC Braga.
"Isso tem muito que ver com o facto de o Benfica ter um bom modelo de jogo que prepara a equipa para vencer esses jogos em que tem melhores individualidades, mas ao mesmo tempo é um modelo que não é muito adaptável. Schmidt não se adapta muito aos adversários e quando o desnível é favorável, o Benfica adapta-se facilmente, mas quando do outro lado há uma equipa que consegue bater-se e anular aquilo que é o jogo do Benfica, a equipa tem menos soluções para contrariar. Estamos a falar de um Benfica que no campeonato dos quatro grandes ficou em segundo lugar."
Pedro Bouças, que acredita que a constante aposta de Schmidt no mesmo núcleo de jogadores foi "um ponto importante no consolidar do jogo e dos processos do Benfica", comentou ainda o período conturbado com três derrotas consecutivas [FC Porto, Inter e GD Chaves] que chegaram a fazer soar os alarmes na temporada:
"Eu centraria muito mais a questão desses resultados no calendário difícil. Foram quatro jogos sem ganhar, mas, à exceção do jogo com o GD Chaves, não ganhar ao FC Porto e os dois jogos frente ao Inter não são algo que escandalize ou minimize o Benfica. Os encarnados ganharam um avanço muito cedo no campeonato, porque também beneficiaram de um calendário teoricamente mais acessível, mas sofreram no final da primeira e segunda volta pois apanharam os adversários mais complicados. Acho que, naquela fase, há três fatores fundamentais: chegar a meio da semana e ter menos tempo para preparar os jogos, uma maior fadiga e o facto de os adversários terem outra qualidade."
No raio-x ao homem que fez o Benfica regressar às conquistas, há influência do futebol alemão e dos Países Baixos na forma de jogar ao longo da temporada com "agressividade na pressão e na perda de bola. O Benfica é uma equipa muito intensa e batalhadora. O facto de ser uma equipa muito intensa sem bola faz com que os encarnados passem pouco tempo sem ela porque a recuperam rápido e a partir daí têm mais tempo para atacar."
Tendo em vista a próxima temporada, são vários os desafios em cima da mesa: "Acho que o Benfica tem de se reforçar, sobretudo no meio-campo. Obviamente que as saídas de Grimaldo, Gonçalo Ramos e Otamendi (se se confirmar) têm de ser colmatadas. Com a partida do Enzo, o Benfica continuou a ganhar, mas com um nível bastante diferente do que tinha sido na primeira metade da temporada."
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