Sérgio Conceição fez a antevisão do duelo com o Benfica, jogo grande da 24.ª jornada da I Liga. A conferência começou com um longo atraso e demorou mais de trinta minutos. Falou-se de tudo: do clássico, da pressão, da nova geração de jogadores (com direito a um desabafo), do "vento" e da chamada de Wendell à canarinha.

Leia todas as resposta de Sérgio Conceição às perguntas dos jornalistas.

FC Porto-Benfica, o que esperar?

"Os jogos têm histórias diferentes. Não acredito que uma coisa tenha a ver com outra. Para nós é um jogo importante. Temos 11 jogos para fazer. Sabemos da importância, à medida que o campeonato caminha para o fim, é normal que os jogos ganhem o seu peso, ainda por cima frente a um rival que está à nossa frente. Vamos preparar este jogo para dar uma resposta positiva. Amanhã ainda há treino de manhã para irmos para dentro de campo e ganhar o jogo."

Clássico tem caráter decisivo para o FC Porto?

"Não vejo isso. Em Barcelos não conseguimos ganhar e as coisas ficaram mais complicadas. Todos os jogos são importantes. Não há jogos de tudo ou nada. Há jogos para ganhar e preparação para o próximo jogo. O próximo é com o Benfica, o campeão nacional atual. Não é com essa diferença pontual que vamos preparar o jogo, mas sim olhando para o adversário como fazemos sempre. Vai ser necessário um FC Porto no seu melhor e muito competente. É por aqui. Não vamos pensar em mais nada porque não vale a pena. O que passou, passou. Dissecar ao máximo os jogos passados e não pensar nessa diferença e naquilo que pode representar este jogo para as contas finais. Não é dessa forma que preparamos os jogos."

Incerteza no ataque do Benfica

"Não faço a mínima ideia [se o Benfica vai apresentar um ataque móvel]. Trabalhamos em função do que tem sido o Benfica na sua dinâmica. Um ataque móvel depende da mobilidade do ataque... Às vezes pega-se numa ideia, ou em algo que é dito por algumas pessoas, não aprofundado, e ataque móvel são pequeninos e jogadores de diferentes características físicas e por vezes não é assim. Às vezes um ataque até pode ser mais móvel com dois avançados de 1,90 metros de altura na frente. Não vou tanto por aí. O Rafa não deixa de ser móvel jogando como ponta de lança. Temos de estar preparados essas diferentes situações. O modelo não tem mudado muito. Estamos a falar de um 4x4x2 do Benfica. As peças podem mudar. Falo dos laterais. Se joga um Morato ou um Aursnes é diferente... Mas a base é sempre 4x4x2. Depois temos de perceber a diferença de jogar com outros jogadores."

Galeno e Evanilson estão aptos?

"Isso foi um problema de quem comunicou aos jornalistas que eles não estavam no boletim clínico. Tive oportunidade de chamar as pessoas responsáveis por isso de manhã e dizer que algo não está bem. O Galeno saiu com queixas no joelho e está em avaliação. E o Evanilson sentiu uma pequena dor no posterior e por precaução tirei-o. Talvez não tivessem ouvido a minha flash. Não sei o que é que passaram, mas não é correto. Continuam em avaliação. Hoje não treinaram. Estão em dúvida com possibilidades de ir a jogo."

A pressão e a posição na tabela

"Já disse várias vezes que se não há pressão, eu crio essa pressão. Eu gosto de pressão e os jogadores também. A prova disso está na Liga dos Campeões. O meu discurso é aquele que acho o melhor e o verdadeiro. O que eu disse no final do jogo dos Açores foi que toda a gente, incluindo os departamentos e os nossos adeptos, de darmos tudo em prol do clube, fazendo cada jogo o último da época. Devia ser assim desde o início da época, mas agora já não é possível voltar atrás. Temos de encarar isso dessa forma. (...)

Neste momento estamos em terceiro lugar e temos de dar uma olhadela para trás e olhar para frente. Se olharmos para trás e para a frente, não dá. Temos de olhar para a frente e temos de ir à procura dos três pontos nestes jogos que temos pela frente. A pressão faz parte daquilo que é o nosso trabalho. Trabalhar num clube grande que está habituado a ganhar títulos, mais nos últimos 40 anos do que nos anteriores. As pessoas estão mal habituadas porque antes da entrada do nosso presidente os títulos não eram assim tantos. Têm sido anos maravilhosos nesse sentido. A pressão faz parte de quem comanda uma equipa profissional no futebol e que tem obrigação de ganhar. Dou-me bem com essa pressão. É positivo."

O "vento" a que Sérgio Conceição se referiu nas últimas duas partidas

"Afirmei mais do que contra 11 jogadores, num dos jogos anteriores, e tive oportunidade da afirmar nos Açores de que havia o vento que era extremamente incómodo, os adeptos que eram muito apaixonados pelo clube, os apanha bolas, que a partir do momento em que o Santa Clara se meteu a ganhar, os jogadores do FC Porto é que tinham de ir buscar a bola, como podem ver nas imagens da Sport TV. Enfim, o Conselho de Disciplina da FPF pensou que estava a referir-me à equipa de arbitragem. Então, instauraram-me um processo, porque eu não referi que era o vento. Então agora nos Açores tive de dizer que era o vento para não levar mais um processo. E não fui irónico, porque isto tem custos."

Di María e Rafa são os maiores perigos do Benfica?

"Dentro da dinâmica ofensiva das equipas há sempre jogadores que se destacam. Uns das forma, outros de outras. Em Barcelos, por exemplo, havia uma preocupação diferente com alguns jogadores. Isso faz parte. O Rafa e o Di María são jogadores muito experientes e com uma qualidade acima da média, mas o Benfica tem outros. Vale pelo seu todo. Há a tendência de olhar para o jogador que faz a diferença, mas não acho que o Benfica apenas perdeu no Bessa e não perdeu mais fora. E não estou a dar moral de barato. Não preciso disso. Com maior e menor dificuldade, tem feito o seu trajeto. Desde novembro, tirando o jogo com o Sporting e a meia-final da Taça da Liga, não perde há quatro meses. Não é só ter uma ou outra individualidade. Tem a defesa menos batida da I Liga. Temos de olhar para o Benfica no seu todo. Claro que há jogadores que se destacam nos diferentes momentos do jogo."

Registo negativo nos clássicos deste ano

"Amanhã espero acabar o jogo com onze, como disse Rúben Amorim. Lembro-me que na Luz fizemos um excelente jogo e tivemos uma expulsão do Fábio Cardos aos 20 minutos. Fizemos uma excelente exibição. Na Supertaça, foi unânime a opinião de que controlámos até ao golo do Benfica. Mas os jogos são todos diferentes. Em Alvalade, apesar do Sporting ter feito um bom jogo, houve momentos em que merecíamos um bocadinho mais do que sair de Alvalade daquela forma. Temos de ser mais competentes e ganhar jogo. Amanhã temos essa oportunidade. Temos um adversário com valia pela frente. Temos de preparar o jogo e ganhar. Não olhar para as estatísticas."

Wendell na seleção do Brasil

"É uma emoção grande que esteve sete anos na Bundesliga, que é o campeonato mais competitivo do mundo, a par do inglês, foi aqui no FC Porto que conseguiu ir à seleção com 30 anos. O trabalho dele, a evolução... O Wendell é um bocadinho diferente. Estou muito feliz. Desde do Olhanense.... Foram dezenas de jogadores que se estrearam nas seleções com esta equipa técnica. Fico muito feliz. Fiquei emocionado. Além de um grande profissional, o Wendell é um jogador muito acarinho no balneário. Fiquei muito contente por ele."

Confrontado com as duas expulsões nos jogos com o Sporting e Benfica, Sérgio Conceição assume um desejo: "Desejar ao João Pinheiro e à equipa de arbitragem que sejam competentes e que no final não seja por algum erro deles que o jogo possa ser decidido". 

A nova geração de jogadores e o desabafo de Conceição

"A grande luta dos treinadores é a questão emocional, de mentalidade. Hoje é diferente de há uns anos. Os jogadores têm pessoas que trabalham com eles na comunicação. Têm dezenas de pessoas à volta. Sentem-se muitos protegidos. Há alguma fragilidade emocional hoje. Estou em tom de desabafo. É uma realidade. É difícil que ganhem essa maturidade. Estou a falar nas equipas em geral. Fisicamente, as equipas metem os jogadores a competir de três em três dias. Há análise, observação. (...)

Depois é a questão da mentalidade. Essa mentalidade vem de onde? De alguma dificuldade no seu percurso, da ambição ou da falta dela... É um processo difícil. Faz parte da nova geração. Isto foi quase um desabafo (risos). Estive com 38 graus de febre esta noite. Estou aqui meio incómodo. Estou a disfarçar. Estou com tremeliques, mas não é pelo jogo de amanhã. Também estou a falar para os meus filhos, mas eles não usam o telemóvel na hora de jantar (risos)".