O treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, fez, esta quinta-feira, a antevisão do encontro da 16.ª jornada da Primeira Liga. Os dragões deslocam-se ao reduto do Boavista, na sexta-feira, às 20h45.

Em conferência de imprensa, no Olival, o técnico azul e branco abordou a situação do Boavista, o "chorrilho de mentiras", o mercado de transferências de inverno e o reencontro com Ricardo Paiva.

O que espera do Boavista? "Não tem de haver maior ou menor motivação. A motivação faz parte do nosso trabalho diário, de perceber os pontos fortes e fracos do adversário. Os momentos das equipas não acho que sejam muito relevantes neste tipo de jogos. O Boavista começou muito bem a época, não estão tão bem agora, e perderam, tal como nós, alguns jogadores para a CAN. Será um ambiente de um dérbi, que traz sempre dificuldades, além da qualidade do Boavista."

O reencontro com Ricardo Paiva. "Era um dos meus colaboradores, nomeadamente no papel de analista. Quis seguir o seu trajeto. Tem alguma experiência, já ganhou títulos na formação do Boavista. O que ele poderá retirar ou não daquilo que sou... Já passaram tantos anos, o futebol evolui todos os dias. Não será por aí. Nem eu em relação a ele, nem ele em relação a mim".

O mercado e as ausências em janeiro. "Esse tem sido o nosso trabalho nos últimos anos, e não aquilo que querem passar, um chorrilho de mentiras diárias que me deixam estupefacto, sinceramente. Quando dizem, e ainda ontem na televisão disseram que deito ao lixo 45 milhões, são notícias enganadoras e mentirosas que não fazem parte ou não têm de fazer parte. Ditas muitas vezes até parecem verdade. O David Carmo e o Veron vieram há dois anos para aqui, os nossos gastos foram sempre menores que as vendas. Dos três grandes, os nossos gastos têm sido menores que as vendas. Quando dizem que um jogador que está 'morto' como o Navarro ou o David Carmo, é mentira. Navarro realmente veio este ano e não encontrou espaço. Dou-vos o exemplo do Vitinha, que esteve emprestado, voltou e foi uma venda fantástica, foi formado no nosso clube.

O David Carmo está a competir na equipa B, veio há dois anos e não este ano, Veron foi emprestado de maneira a melhorar o seu rendimento, percebendo que para um jogador ter sucesso é preciso mais do que um simples treino. Se se está lesionado, não se pode estar nesse simples treino. Estamos atentos aos ativos, mas não sou dirigente, scout, muito menos empresário e assessor de imprensa desses empresários que metem essas notícias cá para fora. O nosso clube está num momento onde há muita confusão e muita mentira, onde se mete cá para cima e se dá um ênfase grande a um pequeno desaire e se abafam as vitórias do FC Porto. Acabámos o ano, e deixem-me meter aqui mais um dado, acabámos o ano civil com 87 pontos. Ninguém frisa nada disto, frisam que o Sérgio Conceição deitou milhões para o lixo e é pura mentira, esta é a verdade.

De vendas em sete anos? 900 milhões de euros. De compras, dentro das soluções que temos, gastámos 250 milhões de euros em sete anos. Não vim preparado. É tanta mentira... Para mim o mais importante é o jogo de amanhã. Podem ir buscar os dados do 'Transfermarkt'. Está aqui tudo, ano após ano. Isto não faz com que amanhã tenha mais ou menos ambição. Para os verdadeiros sócios, não para os pseudos, os verdadeiros querem a vitória amanhã e o título no final da época. Isto acaba por ser importante, estamos numa altura crítica, e quem é minimamente inteligente percebe isto e o porquê do Sérgio Conceição ser o alvo número um".

FC Porto nunca perdeu com o Boavista e se a situação salarial do clube pode afetar os jogadores. "Não queria muito entrar por aí, mas já tive situações onde trabalhei em que tivemos o mesmo problema. Não é benéfico para ninguém. Dentro das equipas que trabalhei, a maior vitamina que os jogadores podem ter não é o salário em dia. Isso é importante antes e depois do jogo, mas durante? Jogar contra um FC Porto, um Benfica, um Sporting ou o SC Braga? Essa é a maior vitamina. Vão estar super motivados para dar uma resposta positiva e fazerem o que o treinador lhes pede. Acho que por aí não será uma mais-valia para nós ou para o adversário. Passei por isso enquanto treinador e jogador, sei o que se vivia. Acredito que quando o árbitro apita, nada disso vai influenciar.

Nem aquilo que acabei de falar, das contas do FC Porto. Não sou diretor financeiro. Quero é limpar um bocadinho as mentiras que estão a vir cá para fora e que estão a querer tornar verdades. Para isso, vão ter sempre o Sérgio Conceição para dizer umas coisas. Em relação ao Boavista? Acho que não vai interferir naquilo que é o jogo."

As posições que o clube quer reforçar e o interesse em Soyuncu. "Estamos a ver o que é mais necessário, estamos a falar, a estabelecer alguns contactos. Obviamente que vocês percebem a situação do FC Porto e das equipas portuguesas. Recentemente um dos nossos rivais reforçou-se, cada um tem a sua realidade. Temos de ser inteligentes e criativos aqui para colmatar a capacidade financeira. Estamos a dialogar. E atenção, não é o Sérgio Conceição que traz, que vende ou empresta. Dou a minha opinião, se assim não for também não estou aqui a fazer nada. Parece que sou um bocado tudo.

Temos um grandíssimo presidente, vários administradores, o staff, e toda a gente dentro do seu papel dá a sua opinião para chegarmos a um final. O presidente, depois, é soberano na palavra. Vejo comentários a dizer 'por que é que vendeste?'. Calma. Não é minha intenção um dia mais tarde ser tratador de relva, técnico de equipamentos... O meu papel é dar um parecer técnico relativamente à entrada e saída de jogadores. Estamos a dialogar sobre vários dossiês. Dizer que não também é falso. Falamos em alguma coisa ou algum jogador e é passado aos empresários, aos Casasnovas e aos Casasvelhas desta vida, e depois estamos nos jornais".

As ausências de Taremi e Zaidu. Poderá ter influência o Benfica ser o único dos grandes a não ter ausentes? "Às vezes a ausência de um é a oportunidade para outros aparecerem e terem o protagonismo que não teriam de outra maneira. Foi por isso que construímos um plantel no início de época, já a considerar estas competições. A situação do Taremi também já estava prevista. Tem tudo a ver com a ideia de jogo que temos".

Entrevista de André Villas-Boas. "Dei uma vista de olhos muito rápida à entrevista, mas o que me saltou à vista é que o momento desportivo é o mais importante. Foi a única coisa que retirei."

Bons momentos da equipa têm sido interrompidos por baldes de água fria. "Andamos à procura dessa continuidade. Durante a época, sabemos que há altos e baixos, queremos é que esses baixos não coincidam com derrotas. Que se possa ganhar, às vezes, com mais dificuldade. Amanhã vamos apanhar um adversário de valia, e não podemos olhar para estatísticas ou para o que aconteceu no passado, mas sim perceber como constroem, onde pisam o Makouta, o Sebá Pérez, o Tiago Morais, o Bruno Lourenço ou o Reisinho... Perceber o que fazem com bola, que dificuldades tiveram sem bola nos últimos jogos, tendo em conta os processos que o Ricardo Paiva tenta implementar. Para nós, o nosso trabalho é este, em todos os jogos... Seja o Vilar de Perdizes ou o Montalegre...

Como eu digo, temos de fazer o ciclo de quatro jogos. Boavista amanhã, Estoril para a Taça de Portugal, e depois SC Braga e o Moreirense em casa. São quatro jogos extremamente importantes, e quem gosta verdadeiramente do FC Porto tem de perceber que o mais importante, e pegando no que o André disse com toda a inteligência, é que a época desportiva é mais importante que todo o ruído que se possa criar à volta".

Ausência de Taremi obriga a mais do que a uma troca direta de jogadores? "Sim. Se jogar um outro jogador é diferente naquilo que é o trabalho do Taremi. Se queremos explorar o espaço entre linhas, ter alguém, que jogue bem em apoio, se jogarmos com dois avançados puros e que exploram bem o espaço, sim. Modificamos não a ideia de jogo, mas sim conforme as caraterísticas dos jogadores. Requer sempre, quando sai um titular, haver um ou outro ajuste a equipa".

Jogadores que chegaram no Verão não se têm conseguido ambientar. "São processos normais e naturais. Falo nisto semana após semana. Uma coisa é termos capacidade financeira para ir buscar jogadores dos quais não há dúvida sobre o momento deles. O Alan Varela tem 22 anos, o Nico também fez 22, o Fran Navarro, apesar de ter mais um ano ou outro que estes, veio do Gil Vicente. O Veron veio da América do Sul e o David Carmo veio do SC Braga como um jogador jovem e está num processo de evolução, não está 'morto'. Não é vítima nenhuma, está a passar um mau momento. Está a competir num contexto diferente mas está cá. Aliás, até posso confidenciar que ele está cá e o presidente disse-me que recusou uma proposta de empréstimo por ele. E depois cabe-me a mim, sou pago para isso há sete anos e as coisas até me têm corrido mais ou menos bem, tenho ganho títulos e justificado.

Tenho feito as minhas asneiras? Sim, sem dúvida, mas acontece a toda a gente. Um jogador que tem um dia ou dez anos de contrato é importante? Não é. O Brahimi saiu a custo zero, o Marega saiu a custo zero, o Herrera, o Uribe, e jogaram sempre até ao último minuto, pela dedicação e por aquilo que o clube lhes pagava. Tínhamos que retirar retorno desportivo desses atletas. Se é alto, branco, magro, azul... se for azul até agradeço... Para mim é igual, eu quero é ganhar. Mas se faço asneiras, se em vez de meter A meto C, no final sou o maior crítico de mim próprio, faço a minha autoanálise que por vezes não é fácil. Massacro-me muito, não quero errar, quero ser perfeito e o melhor profissional do mundo, mas por vezes não dá. Sofro muito com isso, quero ganhar sempre. Eu vivo as coisas de forma muito intensa. Há pessoas que não gostam de perder e que no final do jogo vão jantar. Eu, não. para comer e dormir é difícil. Eu já era assim quando era jogador. Levantava-me às cinco da manhã para ver a nota que os jornais me tinham dado."