O futebolista Sérgio Conceição tornou-se hoje ‘herói’ improvável na manutenção do Feirense na II Liga, com dois golos e uma assistência na vitória face ao Lusitânia de Lourosa (3-0), da Liga 3, invertendo o play-off.
“Depois do jogo da semana passada [derrota por 1-0 em Lourosa, para a primeira mão], ninguém acreditava em nós, mas isso deu-nos ainda mais força. Estou muito feliz por ter ajudado a equipa a conseguir a manutenção contra o nosso rival. Há que desfrutar desta grande festa”, reconheceu o defesa direito, de 27 anos, em declarações à agência Lusa.
No Estádio Marcolino de Castro, o filho mais velho do treinador do FC Porto ‘faturou’ aos 15 e 82 minutos - o segundo de penálti - e cobrou um livre lateral para o tento na própria baliza de Henrique Martins, aos 89, ficando em lágrimas com a reviravolta ‘fogaceira’ na eliminatória face ao ‘vizinho’ de Lourosa, freguesia do concelho de Santa Maria da Feira.
“É um dos [momentos] mais especiais [da carreira], mas já tive outros muito bons. Ainda há poucos dias fez três anos que subi [à II Liga] com o Estrela da Amadora e tinha lá um grande amigo [Paollo Madeira], que, infelizmente, já não está entre nós. Este momento ficará para sempre gravado na memória, já que fiquei a gostar muito do Feirense”, disse.
Sérgio Conceição encontrou sorrisos para atenuar uma semana de alta tensão, dividida entre a segunda mão do play-off da II Liga e a polémica e mediatizada rutura do seu pai com Vítor Bruno, adjunto do FC Porto, que tinha levado os irmãos Rodrigo e Moisés e a mãe Liliana a saírem publicamente em defesa do técnico principal dos ‘azuis e brancos’.
“Desde pequeno, eu e os meus irmãos tivemos de nos habituar a ser julgados e a ter as nossas defesas criadas o mais rápido possível e mais cedo do que os outros. Todas as semanas é praticamente isto, portanto foi só mais uma. Estou muito feliz e mais aliviado agora, já que o Feirense está na II Liga e todas as pessoas estiveram connosco”, notou.
A rivalidade concelhia levou quase 5.000 espetadores ao Estádio Marcolino de Castro, situado a oito quilómetros do recinto adversário, onde a equipa do angolano Lito Vidigal tinha perdido na semana passada, graças ao tento solitário do brasileiro Jefferson Nem.
“Sabíamos que tínhamos de dar uma resposta completamente diferente e entrámos com essa mentalidade para mandar no jogo e mostrar que éramos melhores. Penso que isso ficou provado. Não demos qualquer hipótese ao Lourosa e demonstrámos que é preciso estofo para estar numa II Liga e que o Feirense é a melhor equipa do concelho de Santa Maria da Feira”, enquadrou à Lusa o defesa central e capitão Cláudio Silva, de 23 anos.
Inserido nos escalões profissionais desde 2003/04, o Feirense habituou-se a terminar na metade superior da II Liga desde a última presença na elite, em 2018/19, mas foi apenas 16.º e antepenúltimo colocado em 2023/24, sentindo as dissonâncias entre clube e SAD.
“O grupo passou por muitas dificuldades. Todos sabem que foi uma época atribulada. O início não foi nada fácil e também tivemos mudanças de treinador. Deixo uma palavra ao ‘mister’ Ricardo Sousa: esta vitória e manutenção também são para ele. Foi um ano de aprendizagem para todos. O clube e a SAD têm de olhar primeiro para os interesses dos jogadores e do plantel. Isso tem de ser sempre o mais importante”, alertou Cláudio Silva.
O médio brasileiro Washington, de 35 anos, assumiu que o Feirense construiu um “grupo de guerreiros” para superar os “imensos problemas extra-desportivos” e impor-se no play-off ao Lusitânia de Lourosa, que já tinha sido terceiro colocado na fase de subida da Liga 3, atrás dos promovidos Alverca e Felgueiras, e falhou agora um inédito acesso à II Liga.
“Eles têm uma excelente equipa e nós livrámo-nos de sofrer mais golos na primeira mão. Confesso que, se tivessem vencido por dois ou três golos [de diferença], era muito difícil para nós reverter esse resultado em casa. Hoje, entrámos com um espírito diferente das outras partidas e sabíamos a importância de marcar cedo. Chegámos ao 1-0 e, depois, o jogo começou a abrir-se mais. O grupo está de parabéns, porque trabalhámos com este objetivo. Graças a Deus, deu certo”, frisou Washington, ouvido pela Lusa na zona mista.
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