Cabo Verde comemora os 40 anos da sua independência nacional sob o fenómeno dos “Tubarões Azuis”, efeito protagonizado pela seleção de futebol com duas passagens pelas últimas fases finais do Campeonato Africano das Nações, uma proeza que contagia toda a população.
Filiado na FIFA em 1986, pelas mãos do primeiro presidente, Joaquim “Quimquim” Ribeiro, a Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF) tem dado saltos significativos, estando hoje no top 40 das maiores seleções do planeta.
Trigésimo oitavo lugar no “ranking” da FIFA com os seus 746 pontos, Cabo Verde é neste momento a sexta melhor seleção de África em termos de “ranking”, ultrapassada apenas por países como Argélia, Costa do Marfim, Tunísia, Gana e Senegal.
Um feito considerado “notável” para o grande obreiro deste fenómeno, o ex-presidente federativo Mário Semedo, para quem, a Federação Cabo-verdiana de Futebol, FCF, oficializada a 01 de Janeiro de 1982 consegue praticamente, em 30 anos da sua existência, ser referenciada pela própria FIFA, organismo que superintende o futebol mundial, pelo “salto notável”.
De um País que em 1975, enquanto colónia portuguesa, tinha futebol de baixo nível, com apenas campos de terra batida, Cabo Verde conta hoje com mais de 20 estádios/campos relvados sintéticos em todas as ilhas, e um Estádio Nacional, edificado em Monte Vaca, nos arredores de São Filipe, na Cidade da Praia e que leva para dois os estádios já certificados para FIFA.
Para Mário Semedo, a Federação Cabo-verdiana de Futebol usufrui hoje de “um património rico”, avaliado em mais de 3,5 milhões de dólares – dois centros de estágios, construídos de raiz e devidamente equipados pela FIFA, terrenos sintéticos, viaturas e um conjunto de bens que constituem seu tesouro.
A instituição goza de credibilidade quer junto da FIFA, quer junto da Confederação Africana de Futebol, CAF, atesta Semedo, ressalvando que o “fenómeno Tubarões Azuis” começou a ser projetado em 2000 com a conquista da Taça Amílcar Cabral, sob a égide do ex-selecionador Óscar Duarte, o único título internacional conquistado pela seleção principal da modalidade.
Até atingir a sua maior proeza de sempre, atingir aos quartos da final do CAN’2013 em África do Sul, Mário Semedo destaca “feitos notáveis” como a qualificação em 2002 para a fase final da União das Federações Oeste Africana (UFOA), a passagem pela primeira vez em 2003 à fase de grupo numa eliminatória da CAN ao eliminar a Suazilândia, com o antigo selecionador Alexandre Alhinho).
Já em 2006 e 2010 Cabo Verde esteve às portas de qualificação para CAN ao perder em casa com a África do Sul, e falhar o apuramento em “goal-average”, até atingir os objetivos ao qualificar-se para CAN’2013 e 2015, com os técnicos Lúcio Antunes e Rui Águas, respetivamente.
Semedo destaca, igualmente o vice-campeonato na Taça Cabral na Guiné Bissau e proezas alcançadas com as seleções de sub-20 com a conquista da Medalha de Bronze nos Jogos da Lusofonia em Macau e Medalha de Ouro em Portugal.
Por tudo isto, Mário Semedo assegura que o fenómeno Tubarões Azuis, não é nada espontâneo, porque foi planificado ao longo dos anos, a ponto de representar um grande prestígio para o futebol cabo-verdiano e para o País.
Hoje Tubarões Azuis, explica, é uma das grandes bandeiras de Cabo Verde, não só do ponto de vista desportivo, mas também do ponto de vista de unidade nacional e do turismo, assim como um elo de ligação muito forte de Cabo Verde e da diáspora.
“A dimensão dos Tubarões Azuis está muito para além dos aspetos estritamente desportivos, por ser um símbolo de orgulho dos cabo-verdianos ”, especifica o ex-líder federativo, afirmando que esta marca está associada a grandes causas sociais como o jogo contra a seleção de Portugal a favor dos deslocados da erupção vulcânica de Chã das Caldeiras.
Ao longo da sua oficialização na FIFA, a FCF foi ainda presidida por dirigentes como Emanuel Mário Antunes, “engenheiro Caré”, Orlando Mascarenhas, engenheiro Carlos Dias, Luís Almeida e o atual, o advogado Victor Osório, que tem a responsabilidade de superar o nível competitivo da seleção nacional.
Para atingir a este “feito notável”, contribuíram selecionadores como Dú Fialho, Armadinho Soares, José Antunes “Tóca”, Carlos Alhinho, o soviético Alexander Platchacov Óscar Duarte, Alexandre Alhinho, o brasileiro Ricardo Rocha, o português João de Deus e Lúcio Antunes, bem como o antigo internacional português Rui Águas, atual selecionador que na sua primeira experiência em África fez de Cabo Verde a primeira seleção apurada para CAN’2015 na Guiné Equatorial.
O capitão Babanco ajusta a esta proeza o naipe dos jogadores que ao longo destes anos de Cabo Verde independente contribuíram, cada um ao seu nível e às condições encontradas, para que o País estivesse hoje na ribalta do futebol.
O antigo internacional cabo-verdiano Manel di Beba faz questão de juntar a estes feitos “estória” do que apelida ser a primeira seleção edificada em Cabo Verde, a que orientada pelo Mota Gomes “Betinho” foi surpreendida com a Revolução de 25 de Abril de 1974 numa competição na Guiné Bissau.
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