O canoísta Emanuel Silva considerou que os desportistas devem ter um plano bem definido para o pós-carreira, uma premissa igualmente defendida pelo lançador Francisco Belo, que instou também o Governo a ‘imitar’ outros países europeus.
“No meu caso, enquanto atleta, é bastante importante, porque é um abre-olhos. No entanto, este tipo de iniciativas deve ser aproveitado, como o Paul disse, por treinadores, dirigentes, para sensibilizar os atletas, porque, acima de tudo, a carreira de alta competição termina e é preciso ter um plano já bem definido”, afirmou Emanuel Silva.
O canoísta falou à Lusa no final do evento Power Talks dedicado à saúde mental na transição de carreira, organizado pela Comissão de Atletas Olímpicos na sede do Comité Olímpico de Portugal, em Lisboa, e que contou com uma palestra do belga Paul Wylleman, especialista nas áreas de psicologia desportiva, gestão de carreira e de desempenho desportivo e saúde mental dos atletas.
“Fala-se pouco internamente dentro das federações e das equipas nacionais. […] É preciso ter alguma sensibilidade e os atletas conviverem com outros atletas mais velhos para tentarem perceber o que é o pós-carreira”, pontuou.
Prata em Londres2012 no K2 1.000 metros ao lado de Fernando Pimenta, o canoísta notou que o debate sobre o pós-carreira é “um assunto muito importante, muito pertinente e que os atletas devem ter em consideração".
“Eu sempre tive a consciência de que o plano B tinha de estar bem estruturado. Atualmente, tenho um alojamento local no Gerês. Também tenho um negócio em Braga, que é uma pizzaria, e acho que este tipo de formações são muito importantes, sobretudo para treinadores e dirigentes, para sensibilizaram os atletas, porque eles, enquanto atletas de alta competição, vivem um pouco ‘aluados’ sobre o que é a realidade, o que é o pós-carreira e o que vai ser quando a carreira terminar. Alguns atletas não estão preparados, não sabem o que vai acontecer, vão para o desconhecido”, alertou.
Felizmente, no seu caso, sempre se rodeou de pessoas que lhe “abriram os olhos” e disseram que a carreira desportiva é efémera, mas, ainda assim, Emanuel Silva assume que, provavelmente, hoje em dia se arrepende de algumas coisas que não fez, nomeadamente não ter tirado um curso superior.
“Mas dediquei-me à alta competição, tenho uma medalha olímpica, tenho vários títulos mundiais. Acho que isso consegue compensar um pouco tudo”, resumiu.
O canoísta abordou ainda a inexistência de programas governamentais específicos, para ajudar os atletas na transição pós-desporto, lembrando que estes existem, por exemplo, em Espanha: “os atletas pertencem às Forças Armadas, são polícias. Atualmente, pelo que tenho conhecimento, já existe uma portaria em que as autarquias já podem colocar atletas a trabalhar. É um caminho que está a ser investigado, está a progredir, é bom sinal, mas o atleta tem de se prevenir antes do acontecimento”.
O mesmo defende Francisco Belo, que notou que “há muitos países em que os atletas não se preocupam com o pós-carreira, porque sabem que vão para o exército, vão para a polícia”, como acontece, por exemplo, na Itália ou Alemanha.
O lançador do peso acredita que também o setor privado teria muito a ganhar com a integração de antigos atletas de alta competição, até pelas suas competências únicas, designadamente “a capacidade de adaptação, a resiliência”
“A nossa capacidade de sermos motivados por objetivos, focados, e somos teimosos, mesmo teimosos”, enumerou ainda, em declarações à Lusa, salientando: “Cabe aos donos das grandes empresas estarem interessados nos atletas no pós-carreira. Isso é importante, porque, quer queiramos, quer não, o Estado pode intervir, mas também só uma certa parte".
Sublinhando a importância do evento de hoje, Belo reconheceu que os atletas “nunca estão prontos para uma mudança” diferente das que estão habituados.
“Quando chegamos a essa altura de transição, não estamos preparados, porque ou não falámos ou não nos preparámos para isso. […] Temos algumas ferramentas que podemos usar e que, muitas vezes, acabamos por não usar. Também temos de perceber que os atletas as têm de procurar”, concluiu.
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