Regresso da I Liga
87 dias depois de muita incerteza, polémicas e receios, a Primeira Liga regressou aos relvados nacionais, mas com muitas mudanças devido à COVID-19: as bancadas ficaram vazias, os testes ao novo coronavírus passaram a ser uma constante na prova, com os jogadores a serem testados 24 horas antes de cada jogo e as substituições passaram de três para cinco (mas só a partir da 2.ª jornada pós-retoma).
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O Portimão Estádio foi o palco do primeiro jogo em tempos de COVID-19. O Portimonense recebeu e bateu o Gil Vicente por 1-0, com Lucas Fernandes a apontar um golaço para fazer o marcador mexer pela primeira vez desde 8 de março. E desengane-se se pensou que o entusiasmo pelo regresso do futebol ficou confinado a Portugal: o Portimonense-Gil Vicente foi mesmo o principal destaque do prestigiado jornal francês ‘L’Équipe’, no dia seguinte ao jogo.
Os grandes regressaram, mas não trouxeram consigo as vitórias: o FC Porto perdeu na visita ao Famalicão (2-1), o Benfica empatou na receção ao Tondela (0-0), tal como o Sporting na visita ao Vitória de Guimarães (2-2). Estava aberta a reta final da luta pelo título.
Junho foi ainda o mês em que os relvados deixaram de contar com o talento e a classe de Jeremy Mathieu. O francês sofreu uma lesão grave no treino do Sporting do dia 24, que o levou a terminar a carreira mais cedo do que o previsto (no final da época).
"É difícil despedir-me assim. Queria jogar em casa um último jogo. Mas, bom, a vida continua. Foi um prazer vestir esta camisola, um prazer jogar com vocês e desfrutar cada momento"
Benfica em crise deixa FC Porto descolar
Depois da derrota em Famalicão e do empate na Luz, Benfica e FC Porto estavam em igualdade pontual no topo da tabela classificativa. Infelizmente o destaque da primeira jornada pós-suspensão não foi para o que aconteceu no relvado.
Depois do empate em casa frente ao Tondela e quando o plantel do Benfica se encontrava a caminho do Seixal, o autocarro onde seguia a equipa foi apedrejado à saída da A2, com Weigl e Zivkovic a terem de ser transportados para o hospital devido a ferimentos causados pelos estilhaços. Além do ataque ao veículo, também as casas de Lage e de alguns jogadores do Benfica foram vandalizadas com grafitis.
O ataque mereceu o repúdio generalizado do futebol português, com a Liga a condenar o “ataque cobarde de que o plantel do SL Benfica foi alvo”. O Benfica condenou o “criminoso apedrejamento" e garantiu a sua “total colaboração” com as autoridades, às quais pediu que fosse “feito o maior esforço, no sentido de identificar os delinquentes responsáveis por estes atos criminosos". Os responsáveis faziam parte dos No Name Boys e foram identificados no passado mês de novembro.
Voltando ao futebol, a crise do futebol encarnado que já vinha desde o pré-suspensão com a derrota no Dragão continuava. Na visita a Portimão, na 26.ª jornada, e depois de estar a vencer por 2-0, o Benfica viu o Portimonense empatar a partida. O FC Porto aproveitou e ficou isolado na liderança, graças à vitória sobre o Marítimo.
A 27.ª jornada voltou a colocar os dois rivais em igualdade, com os dragões a serem travados pelo lanterna vermelha, Desportivo das Aves, e o Benfica a sair vencedor da visita a Vila do Conde. Mas se a vitória encarnada fazia acreditar numa melhoria da performance do Benfica, as jornadas seguintes trataram de apagar essa ideia.
Na receção ao Santa Clara, o Benfica acabou derrotado por 3-4 e mais tarde viu o FC Porto bater o Boavista por 4-0 e voltar a saltar para a liderança isolada da I Liga. O lugar de Bruno Lage à frente dos encarnados ficava cada vez mais frágil - com um certo nome a voltar a surgir à tona - , comprando ainda uma polémica com os jornalistas e com algumas figuras ligadas aos encarnados, quando após a derrota com os açorianos questionou:
“Quem é que vocês [jornalistas] andam a tentar promover para entrar no meu lugar. Ou até quem é que vos anda a pagar alguns almoços, jantares ou viagens para entrar aqui no meu lugar”
A situação não só não melhorou na jornada seguinte, como piorou e acabou por marcar o fim do percurso do treinador da “reconquista” ao comando dos encarnados. Na visita ao Funchal, o Benfica somou a segunda derrota consecutiva, ao perder por 2-0 frente ao Marítimo.
O técnico colocou o lugar à disposição e Vieira aceitou a demissão de Lage. Nélson Veríssimo era o homem que se seguia no comando do Benfica de forma interina até ao final da época.
Já o FC Porto seguia de vento em popa: as duas derrotas encarnadas deixavam os dragões com seis pontos de avanço na liderança do campeonato e com uma mão no caneco que acabariam por conquistar no início do mês de julho.
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O 15.º mandato de Pinto da Costa
Em plena pandemia, o FC Porto foi a eleições. O ato eleitoral estava inicialmente marcado para 18 de abril, mas a COVID-19 levou ao reagendamento para junho e com dois dias para votar, algo inédito na história do clube.
Entre 6 e 7 de junho, mais de 8400 sócios do clube depositaram o seu voto para a presidência dos portistas, naquelas que foram as eleições mais concorridas do século XXI no clube. Contra dois adversários - foi apenas a terceira vez que o atual presidente teve concorrência - , Jorge Nuno Pinto da Costa voltou a receber a confiança da maioria dos votantes, arrecadando 68,85% dos votos contra os 25,87% somados por José Fernando Rio e os 4,94% de Nuno Lobo.
Pinto da Costa garantiu desta forma o seu 15.º mandato consecutivo à frente do FC Porto, clube que lidera desde 1982.
“Estou feliz. Os sócios queriam que eu continuasse e é isso que vai acontecer, sempre a defender os interesses do FC Porto. (...). Vou continuar todas as noites a deitar-me com consciência tranquila que fiz tudo o que achava que é o melhor para o clube. Terei sempre os sócios como prioridade e os adeptos no coração”, disse depois de garantida a reeleição.
Champions em Lisboa
Os rumores surgiram de Espanha no final de maio: a ‘Cadena COPE’ adiantava, a 28 de maio, que Lisboa estaria a ser uma hipótese estudada pela UEFA para receber os últimos jogos da Champions que à semelhança do restante futebol europeu tinha sido suspensa.
Os rumores foram crescendo e espalhando-se pela imprensa europeia e mundial, e ganharam outro folgo a 2 de junho, quando o Presidente de República deixou a pista à entrada de um espetáculo no Campo Pequeno.
“(...) eu tenho uma vaga sensação de que ainda poderemos ter em agosto uma boa notícia em termos de futebol internacional em Portugal”
Depois do assunto ter feito correr muita tinta e de vários jornais darem a Champions como certa em Lisboa, a confirmação oficial chegou a 17 de junho, com a oficialização por parte da UEFA da escolha de Lisboa para receber uma inédita final a oito da Liga dos Campeões durante o mês de agosto.
Os melhores dos melhores do futebol europeu acabavam a época em Lisboa, com os jogos a serem disputados entre o Estádio José Alvalade e o Estádio da Luz, que iria ser também o palco da final. A hipótese do Porto e de Guimarães receberem alguns dos jogos em falta dos oitavos de final ficou em aberto pela UEFA, mas a mesma não se viria a concretizar, com os clubes a jogarem nas suas casas os jogos da 2.ª mão que faltavam.
Mas nem tudo foram boas notícias: com a Champions em Lisboa, o Porto ficou sem a Supertaça Europeia, que estava marcada para o Estádio do Dragão.
Este não foi o único grande evento desportivo que veio para Portugal graças à pandemia… mas isso são histórias para outros meses.
O fim da seca do Liverpool e o 'octa' do Bayern
Com o regresso do futebol europeu, começaram a chegar os primeiros campeões em tempos de pandemia. O Bayern de Munique foi o primeiro, ao garantir o octacampeonato a duas jornadas do final da Bundesliga depois de bater o Werder Bremen por 1-0.
O campeonato chegou depois de uma época em que. em algumas fases, pareceu que a hegemonia bávara iria ser interrompida. O Bayern chegou a ocupar o sétimo posto e viu Niko Kovac a ser demitido depois de uma derrota por 5-1 frente ao Eintracht Frankfurt. Com Hans Flick ao comando, a equipa deu a volta, retomou a liderança e voltou a conquistar a Bundesliga, o primeiro de três títulos da época bávara.
Contudo, o grande destaque do futebol internacional em junho tem de ir para Inglaterra, mais precisamente para a cidade de Liverpool. Depois de uma época de domínio absoluto da Premier League e de receios de que a competição pudesse ser considerada “nula e sem efeito”, o Liverpool de Jurgen Klopp celebrou a conquista do campeonato inglês, pela primeira vez em 30 anos, colocando um ponto final numa das mais conhecidas travessias do deserto do futebol mundial.
O título chegou no sofá, depois do Manchester City perder contra o Chelsea a 25 de junho de 2020, um dia que ficará na memória dos adeptos dos ‘Reds’. Apesar da pandemia, os festejos aconteceram e os adeptos do Liverpool rodearam Anfield para festejarem, algo que acabou por ser criticado nos dias seguintes pelas autoridades locais.
O título carimbou uma época extraordinária dos ‘reds’ na Premier League. A equipa de Klopp terminou a época com 99 pontos, mais 18 que o Manchester City de Guardiola, somando 32 vitórias nos 38 jogos realizados.
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