O antigo funcionário do FC Porto Fernando Saul negou hoje ter agredido Henrique Ramos e ter agido para criar clima hostil na assembleia-geral (AG) de novembro de 2023, no julgamento da Operação Pretoriano, no Tribunal de São João Novo.

Saul foi hoje ouvido na continuação do julgamento de 12 arguidos relativo a essa AG, assim como Vítor ‘Aleixo’, filho de outro arguido com o mesmo nome, que confessou ter agredido um homem após este dar um soco ao pai.

Fernando Saul, à data funcionário do clube como ‘speaker’ e oficial de ligação aos adeptos, a quem a acusação imputa responsabilidades em concertar um plano em torno da AG, negou ter coordenado ou estado envolvido nessa organização.

A AG, alertou ainda, foi organizada pelo diretor de segurança e o diretor de 'marketing', a quem alertou para a possibilidade de desacatos e elevada afluência, lembrando que estes, "curiosamente", não saíram do clube quando André Villas-Boas assumiu a presidência, ecoando o que Fernando Madureira, ex-líder da claque Super Dragões, tinha dito na segunda-feira.

Quando chegou à reunião magna, já esta tinha sido mudada para o Dragão Arena, tendo assistido aos tumultos e dissuadido Sandra Madureira, mulher de Fernando Madureira, de uma discussão com um adepto.

Confrontado com mensagens intimidatórias perante Henrique Ramos, com quem confessou ter problemas pessoais, após este o insultar nas redes sociais, referiu que eram apenas para “avisar” outros adeptos de que este não era de confiança.

Algumas das mensagens foram “três meses antes”, e por isso irrelevantes, e queria “avisar que ele era um trapaceiro”, tendo negado quaisquer agressões.

Sobre uma outra mensagem, em que assevera ter batido em Henrique Ramos, ou ‘Tagarela’, diz que mentiu num grupo de WhatsApp com cinco amigos para que estes “deixassem de chatear” para que lhe batesse.

“É verdade que o tenha escrito. É mentira que o tenha agredido. Perguntaram-me quando lhe batia. Ali, para não me chatearem mais, disse que fiz uma coisa que não fiz”, admitiu.

Noutro momento, quando confrontado com ter dito “vai levar tudo nos cornos”, alegou que “tudo” era referente a Henrique Ramos, mas não a incitar à violência, e que essa mensagem foi muito antes.

Quanto à AG, admitiu que alertou o diretor de segurança e de marketing do clube para a maior afluência do que o habitual e para a possibilidade de ser confrontacional, por ver movimentações de adeptos afetos a André Villas-Boas, então putativo candidato à presidência.

“A minha convicção, pelo que ia vendo e lendo, era de que iria muita gente e que os ânimos estavam muito exaltados. Havia imensas páginas, que curiosamente desapareceram depois das eleições, a incitar. Para irem em grupo, filmarem tudo, que a corte dos ‘mamões’ ia acabar”, notou.

Vítor Oliveira, ‘Aleixo’ filho, sócio do FC Porto desde o nascimento, mas que nunca pertenceu aos Super Dragões, desconhece qualquer ato premeditado para controlar a AG a favor de Pinto da Costa, mas confessou agressões.

Contou que ouviu o pai a ser apupado e viu-o discutir com um indivíduo, tendo-lhe dado um estalo, provocando a reação de um terceiro sujeito que respondeu com um soco ao seu progenitor.

“Mal vi isso, a minha reação foi descer. Dei-lhe um soco, o homem caiu. Levantou-se e vinha para cima outra vez e foi quando o afastei com o pé. Ele não caiu ao chão, mas nas cadeiras. Entretanto o meu pai chamou-me e fui para cima”, contou.

Justificou a troca de roupa durante a AG com o facto de ter a camisola com sangue, tendo feito a muda da camisola no pavilhão e das calças no carro.

“Comecei a receber telefonemas e comecei a ficar nervoso. Um amigo disse-me que estava cheio de sangue. A minha mãe disse-me que a polícia me ia levar. Então, um amigo deu-me uma camisola e um gorro. Depois vi que as calças tinham sangue e também troquei. Continuei na AG, pois queria votar", contou.

Durante a tarde vão ser ouvidos os arguidos José Pedro Pereira, Fábio Sousa e José Dias.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões e a mulher, Sandra Madureira, começaram segunda-feira a responder por 19 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, perante forte aparato policial nas imediações.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma assembleia-geral do FC Porto, em novembro de 2023.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases, incluindo Sandra Madureira, Fernando Saul, Vítor Catão ou Hugo Carneiro, igualmente com ligações à claque.