olange Jesus é a única atleta portuguesa com mínimos para as maratonas dos Mundiais e Europeus de atletismo, conseguidos enquanto concilia o trabalho na área de logística de uma empresa com os treinos.
“Isto de não ser profissional tem muito que se lhe diga. Não é fácil conjugar sempre todas as coisas e, no início da preparação, tive covid-19. Sem saber como o corpo ia reagir, acabou por ser muito gratificante, porque, sem ser um objetivo claro, era uma meta a longo prazo”, explicou a atleta natural de Oliveira do Bairro, em entrevista à agência Lusa.
Solange Jesus, de 35 anos, cumpriu os 42,195 quilómetros, na sua segunda maratona, em Paris, em 02:29.04 horas, em 03 de abril último, superando em 26 segundos a marca de qualificação para os Mundiais marcados para Eugene, nos Estados Unidos, entre 15 e 24 de julho, e para os Europeus, em Munique, entre 15 e 21 de agosto.
Encerrado o período de qualificação na maratona para ambas as provas, a maratonista do Feirense é a única portuguesa com marca de qualificação, aguardando a convocatória, com alguma ansiedade, depois de ter ficado excluída dos Europeus de corta-mato de 2021.
“Ficamos sempre um bocadinho reticentes, mas eu penso que, desta vez, a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) vai ter outro tipo de atitude. Porque só assim conseguem manter os atletas motivados a alcançarem estes mínimos. Acho que é uma questão de aguardar que me digam em que prova vou competir, porque é lógico que não posso fazer as duas, mas eu vou continuar a fazer o meu trabalho”, afirmou.
A preferência da atleta, e responsável pelos tratamentos feitos à matéria-prima na Pecol, seriam, “pela experiência em si”, os Mundiais, mas, a racionalidade elege os Europeus, “por ter mais três semanas de treino”.
“Conciliar horários de trabalho com os dos treinos é difícil, cansativo, desgastante, mas, com calma e paciência, vamos conseguindo. É trabalhar, treinar, trabalhar, treinar, trabalhar, treinar, englobando a recuperação no treino, há dias muito difíceis, mas acho que acaba por ter um significado mais especial, por isso é que é tão gratificante alcançar o que tenho atingido, com o meu esforço e sem grandes apoios”, assegurou Solange Jesus, reconhecendo ter estado “muitos anos ‘presa’ aos 3.000 metros obstáculos”.
Depois de se ter iniciado no atletismo por influência do padrinho, a maratona “surgiu por acaso”, com o seu namorado e treinador, num desafio comum.
“A primeira experiência era tentar fazer entre 02:36 e 02:40 horas, correu bem, melhor do que estávamos à espera, eu acabei com uma sensação brutal e com a vontade de repetir, com uma melhor preparação”, recordou. Seguiu-se a maratona de Paris, na agenda da primavera, com o objetivo de melhorar e saíram os mínimos.
Seja em Eugene ou em Munique, invariavelmente, o objetivo de Solange Jesus passa por melhorar o recorde pessoal.
“Independentemente da classificação, se eu fizer recorde pessoal, significa que vou estar no meu melhor. Mas eu não tenho pressa, costumo dizer que ainda sou ‘verde’ nas maratonas, e sinto que ainda tenho mais alguns anos de atletismo”, rematou.
Mesmo sem certezas quanto à convocação de Solange Jesus para os Mundiais de atletismo, numa distância em que Portugal conta com duas medalhas de ouro, conquistadas por Rosa Mota, em Roma1987, e Manuela Machado, em Gotemburgo1995, e outras tantas de prata, ambas por Manuela Machado, em Estugarda1993 e em Atenas1997, o técnico nacional de maratona cobiça o melhor resultado possível para a atleta do Feirense.
“Tanto sacrifício na preparação apenas para competir é muito redutor. É claro que as condições não serão as mais favoráveis, porque vai ser no verão – sabemos que o calor é um dos principais inimigos dos maratonistas – e, face a isso, se conseguir o recorde pessoal será um resultado extraordinário”, frisou António Sousa, elogiando a capacidade de superação dos maratonistas para definir o objetivo para Solange Jesus, que poderá tornar-se na 53.ª portuguesa a correr a distância em Mundiais e que passa pela melhoria do seu recorde pessoal.
No masculino, os melhores resultados foram os quartos lugares obtidos por Luís Novo, conterrâneo de Solange Jesus, em Sevilha1999, e por Alberto Chaíça, em Paris2003.
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