Sandro Araújo vai candidatar-se à presidência da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), com o atual vice-presidente do organismo a propor um projeto assente em quatro princípios e com “abertura de espírito para encontrar as soluções certas” para a modalidade.

“Vamos avançar com uma candidatura à FPC para o ciclo 2024-2028. Este é um projeto que vai assentar numa equipa, mais do que em personalidades, e num trabalho coletivo. O que vamos apresentar é, com certeza, um projeto também ele coletivo”, começou por revelar à agência Lusa.

Sem adiantar ainda os nomes que o acompanham – serão relevados “ao longo do mês de abril” -, Sandro Araújo disse estar “a dar a cara por um projeto que se pretende que seja uma transição serena, construtiva e inspiradora em relação àquilo que foram os mandatos anteriores liderados por Delmino Pereira”, com quem teve “a honra” de poder trabalhar e aprender muito.

“É um projeto que tem uma perspetiva crítica em relação a muitas das coisas que precisam de ser reavaliadas, e também com abertura de espírito para encontrar as soluções certas não apenas para os velhos problemas, mas também para os novos desafios que seguramente o ciclismo vai ter”, pontuou.

Araújo decidiu avançar com uma candidatura à presidência do organismo no qual atualmente ocupa uma das vice-presidências por perspetivar “um próximo ciclo extremamente desafiante, do ponto de vista do financiamento, da atratividade da modalidade, da capacidade de competir com outras modalidades na atratividade dos mais jovens, mas também de recursos”.

“Os recursos são limitados e a FPC não tem fontes de financiamento que permitam trabalhar todas as áreas com igual prioridade, mas há áreas que precisam de ser mais reforçadas. Por exemplo, a nível do BMX, uma vertente olímpica na qual é conveniente reforçar a aposta, mas também do ponto de vista daquilo que é a renovação e capacitação dos nossos clubes, dos nossos agentes desportivos”, enumerou.

O também vice-presidente do Comité Paralímpico de Portugal considera que o ciclismo apresenta “um manancial de oportunidades” ao nível do trabalho a fazer com parceiros institucionais da FPC, potenciando a ligação “a áreas como economia, turismo, mobilidade, saúde, ambiente”.

Sandro Araújo mostrou-se confiante de ter um projeto, “assente na procura por um ciclismo dignificante, eclético e popular”, e uma equipa que podem dar à modalidade aquilo que merece, com a sua candidatura a ter quatro princípios essenciais: a ambição, a inclusão, a ética e a excelência.

“Só vamos ser mais competitivos com ambição de sermos os primeiros. No desporto, não se garantem resultados, mas podemos garantir o esforço e trabalho necessário para os atingir. O segundo princípio é a inclusão, não só do ponto de vista da prática, porque o ciclismo é muito diversificado e aí reside boa parte da sua riqueza, com um conjunto de vertentes que conseguiu atrair para si e devem ser apoiadas, mas mesmo outras vertentes, como, por exemplo, o ciclismo eletrónico, [que] já mostram que o futuro também pode trazer novas formas de ciclismo em relação às quais a FPC tem de ter capacidade de ser inclusiva. O BMX e o freestyle são duas delas”, apontou.

A FPC tem de “garantir que a modalidade é totalmente inclusiva” também ao nível de praticantes, abrindo o leque a mais jovens e mais velhos, pessoas com deficiência, “mas sobretudo às mulheres”, defendeu.

“Temos cerca de 7% de filiadas, e uma modalidade que se pretende solidamente posicionada para o futuro tem de encontrar soluções para atrair mais mulheres ao desporto, e não apenas ao nível da prática, também no dirigismo, treino, comissários, o ecossistema federado”, acrescentou

A ética é o terceiro princípio, e o quarto é a excelência, indicou ainda.

“Toda a ação plasmada no programa enquadra-se sob esta bitola da excelência. Temos de trabalhar para ser uma modalidade que seja um exemplo […] que inspire e uma referência, não apenas para podermos potenciar o que o ciclismo pode ser, mas também para, juntamente com outros parceiros do desporto em Portugal, fazer parte de uma onda de renovação que permita colocar o desporto onde merece estar”, indicou.

Questionado pela agência Lusa sobre os problemas que o ciclismo de estrada português enfrenta, após ter sido ‘salpicado’ por escândalos de dopagem em anos recentes, Araújo reconheceu que a modalidade, por ser considerada de risco, tem de ser ainda mais intransigente “em relação ao que possa pôr em causa a sua credibilidade”.

“As práticas que têm ocorrido são obviamente negativas. […] O ciclismo é a modalidade atualmente que tem um nível de controlo maior. É uma modalidade que está na vanguarda. O que eu pretendo é garantir que se mantém na vanguarda [do combate antidopagem] e continua com tolerância zero nestas questões. Porque se não temos o risco de não atrair os mais jovens e toda esta pirâmide fica posta em causa”, concluiu.