O campeonato nacional de triatlo de estafetas mistas está envolto em muita polémica. O Benfica foi o mais rápido entre as 22 equipas, mas foi penalizado com desclassificação de João Pereira, o último dos elementos da formação lisboeta, que bateu ao 'sprint' Alexandre Nobre (Portugal Talentus), por ter cruzado a meta sem o dorsal de identificação.

Com a desclassificação do Benfica, a Portugal Talentus conquistou o título nacional, à frente do CN Torres Novas, segundo classificado, ambos com lugar assegurado na Taça dos Clubes Campeões Europeus de estafetas mistas, a disputar em outubro, em Lisboa, prova em que ‘encarnados’ conquistaram em 2017 e foram terceiros no ano passado.

Os 'encarnados' não se conformam com a decisão e dizem que vão "lutar para que seja reposta a verdade desportiva".

João Pereira, triatleta do Benfica
João Pereira, triatleta do Benfica João Pereira, triatleta do Benfica

Ora o SAPO Desporto contactou Vasco Rodrigues, presidente da Federação Portuguesa de Triatlo, para tentar esclarecer o tema e as medidas que o organismo pretende adoptar para que situações dessas não voltem a acontecer. Em entrevista telefónica, o dirigente esclareceu que haverá reuniões entre a direção, os árbitros e os associados para que se tomem medidas. Medidas essas que poderão passar pela anulação da desclassificação de João Pereira e atribuição do título ao Benfica.

SAPO Desporto: "Explica-nos, um pouco, o que aconteceu no passado fim-de-semana, no polémico campeonato nacional de estafetas mistas?"

Vasco Rodrigues: "Tivemos uma prova bem disputada no campeonato nacional de estafetas mistas e o Benfica, numa remontada do atleta João Pereira, conseguiu chegar-se à frente e passar as duas equipas que seguiam na liderança e acabou por ganhar. Mas tivemos um problema regulamentar que acabou por ditar a desqualificação da equipa do Benfica."

Temos de ser flexíveis e usar um pouco mais de bom senso, que foi algo que me deixou um bocadinho menos satisfeito com o resultado.

SD: "Mas foram cumpridos os regulamentos?"

VR: "As regras foram cumpridas mas parece-me que essa regra existe mais por razões de segurança e controle dos atletas, como forma de os identificar. Parece-me que esta é uma situação que altera a realidade competitiva, de um caso de um atleta que perde o dorsal e não tem formas de o repor. Já tivemos inúmeras situações dessas no passado, e foi a primeira vez que se cumpriu o regulamento à regra. E isso criou uma situação desconfortável."

SD: "Esta regra é nacional ou internacional?"

VR: "É uma regra nacional e internacional mas os meios de identificação nas provas internacionais são diferentes das dos nacionais."

SD: "Que propostas a Federação Portuguesa de Triatlo vai avançar, no sentido de evitar situações similares no futuro?

VR: "A solução que vamos discutir com todos os intervenientes é criar uma forma de a regra ser utilizada, penalizando quem não compita com as normas mas precavendo situações em que haja uma perda de dorsal e a impossibilidade de repor a mesma, de encontrar e colocar o dorsal. Temos de encontrar uma forma regulamentar e salvaguardar estas situações"

SD: "Já tem ideias sobre como será a reação das outras equipas em relação a estas propostas?

VR: "A nossa ideia é levar o assunto a Assembleia geral e perceber qual a implicação. Acima de tudo, parece-nos que a alteração da regra é pacífica e aceite por todos mas também interessa, cima de tudo, manter o espírito com que os atletas, clubes e treinadores têm vindo a abordar a modalidade, com espírito de fair-play, de camaradagem, e de boa relação que é mais importante do que seguir taxativamente o que vem escrito nas regras. Todos têm sido compreensíveis no cumprimento das regras e na relação que existe entre árbitros, atletas e demais. Interessa salvaguardar isso e que a verdade competitiva seja mantida, desde que não haja nada que possamos apontar ao atleta e que lhe traga benefícios diretos no não cumprimento da regra. Temos de ser flexíveis e usar um pouco mais de bom senso, que foi algo que me deixou um bocadinho menos satisfeito com o resultado. Não se pode perder o espírito coletivo, a forma como os atletas amadores e profissionais, os clubes e os treinadores, vivem a modalidade. É preciso adaptar as regras as realidades mas, acima de tudo, manter o bom senso."

SD: "Ainda é possível reverter os resultados do fim-de-semana, onde, como já foi dito, não foi assegurada a verdade desportiva?

Neste momento não tenho nenhuma solução, nenhuma varinha de condão para resolver o assunto.

VR: "Neste momento não tenho nenhuma solução, nenhuma varinha de condão para resolver o assunto. À partida, parece-me que não conseguimos reverter a situação. Quando for a próxima Assembleia-geral, este será um tema que pedirei a mesa para debater abertamente entre os clubes e chegar a um entendimento o que é o trabalho para o futuro. Se houver um entendimento entre os membros da Assembleia sobre algo que se deve fazer ainda para 2019, podemos encarar essa possibilidade. Mas neste momento temos é de pensar no futuro, na forma como podemos corrigir a situação, como conseguimos manter o bom senso e a camaradagem que existe no triatlo. Sobre este campeonato de estafetas mistas por equipas, isso exige uma reflexão muito mais alargada, temos de pôr as nossas questões, não digo sentimentais mas essa reação imediata de lado, sentarmos todos e tentar encontrar uma solução e perceber o que poderá ser melhor."

SD: "Se a equipa Portugal Talentus reconhecer que foi injusta a forma como João Pereira do Benfica foi desqualificado e abdicar do título, a Federação aceitaria essa decisão, revertendo os resultados e dando o título ao Benfica?"

VR: "São muitos os intervenientes que é preciso consultar, há um grande investimento das equipas para estarem nessa prova, há um conjunto de pressupostos que estão em causa para termos uma solução ou apontar soluções para este problema".

SD: "Então é possível reverter os resultados do fim-de-semana?

VR: "Aquilo que digo é isto: É muito importante que as pessoas continuem a dialogar e que esta continue a ser uma modalidade de diálogo. Os que foram intervenientes, que foram ao pódio, o burburinho que se gerou por causa desta situação, tem de ser resolvido. Senti da parte dos agentes da modalidade que eles querem, acima de tudo, preservar a verdade competitiva. Face a esta abertura, as coisas poderão ou não estar em cima da mesa. O campeonato realizou-se, os resultados estão apurados e são sempre passíveis de reclamação. Para haver alguma alteração, tem de haver a concordância de todos os agentes e eu não faço a mínima ideia se isso é possível ou não".

SD: "O principal entrave para mudar estes resultados será a Portugal Talentus, a equipa que ganhou?"

Vasco Rodrigues, presidente da Federação Portuguesa de Triatlo
Vasco Rodrigues, presidente da Federação Portuguesa de Triatlo Vasco Rodrigues, presidente da Federação Portuguesa de Triatlo

VR: "Não, acima de tudo, interessa avaliar que repercussões isto tem para o futuro. Quer se queira, quer não, há um calendário competitivo, para o bem e para o mal, que está feito. Reverter decisões dessas têm muitas implicações que são precisas avaliar. O Portugal Talentus, por aquilo que tem sido o testemunho que tem deixado, principalmente nas redes sociais, de solidariedade com o João Pereira, saberá que eles têm tido uma atitude exemplar neste processo. É preciso acalmar os ânimos, perceber o que está em cima da mesa, resolver para que situações dessas não venham a acontecer. Mas não vejo nenhuma entrave de alguém para resolver esta situação. Isto é como em tudo, há sempre várias variáveis em questão, é preciso analisa-las. E a Federação Portuguesa de Triatlo ainda não está na posse de todos os elementos que possam ajudar a tomar a melhor decisão."

SD: "Havendo consenso na próxima Assembleia-geral sobre esta matéria, há a possibilidade de reverter a situação, repondo a verdade desportiva, passando título para o Benfica?"

VR: "A direção terá de reunir sobre este tema, que irá acontecer amanhã [quarta-feira]. Depois disso, teremos de nos reunir com o Conselho de Arbitragem por causa da questão do regulamento técnico. Se as várias etapas forem cumpridas, à seguir reuniremos com os clubes intervenientes e com os árbitros e delegados técnicos que estiveram na prova. Se continuarmos a evoluir favoravelmente, chegaremos a uma Assembleia-geral e discutiremos o assunto aí. Mas há um conjunto de passos que têm de ser validados atá podermos estar todos sentados à mesa a deliberar sobre algum tipo de ação para trás ou não."