A piloto Elisabete Jacinto vai falhar a participação no rali Africa Eco Race, disputado entre 05 e 12 de janeiro de 2020, depois de ter vencido a competição dos camiões em 2019, confirmou a própria à Agência Lusa.
"Não consegui reunir a verba necessária para montar o projeto e, com muita pena minha, vou ficar em casa", lamentou a piloto.
O patrocinador que vinha acompanhando Elisabete Jacinto nos últimos 20 anos optou por uma mudança de estratégia e o novo parceiro que entretanto a piloto do Montijo encontrou não conseguiu reunir as condições para colocar de pé um novo projeto.
"Preciso de encontrar alguém que queira apostar em mim. Neste momento, já não tenho camião, nem estrutura, pois quando perdi o patrocinador que tinha coloquei um ponto final em tudo", detalhou à Agência Lusa.
A piloto, que se tornou na primeira mulher a vencer a competição nos camiões, revelou que o camião com que correu nos últimos dez anos deverá ser entregue a um museu.
“Mas ainda não encontrámos um local que o consiga acolher", explicou.
Elisabete Jacinto ainda espera voltar a correr, precisando, para isso, de reunir "cerca de 300 mil euros".
"Gostava de continuar [a correr]. Fico com pena de não conseguir", admitiu a professora de geografia, que começou a competir no nacional de todo-o-terreno de motas em 1992, tendo feito o primeiro rali Dakar de todo-o-terreno em 1998.
Aos 55 anos, Elisabete Jacinto lamenta que "em Portugal só o futebol tenha retorno mediático".
"Portugal é um país que não valoriza o desporto e as empresas não encaram este setor como um negócio, como algo que lhes dê contrapartidas. Quando há dinheiro, são os próprios gestores que vão correr ou dão o dinheiro aos amigos. Eu tive a sorte de encontrar uma empresa que apostou em mim há mais de 20 anos. Foi um investimento do qual tirou partido pelo trabalho que fiz de forma a dar retorno", sublinhou.
Elisabete Jacinto admite que ficará "frustrada se tiver de ficar em casa" no futuro. "Se tivesse nascido noutro país, teria a possibilidade de continuar a correr e, até, com outras condições", disse.
Para já, não pensa iniciar um projeto para o rali Dakar, que em 2020 troca a América do Sul pela Arábia Saudita.
"Acho que não tem grande futuro nesse país, pela forma como tratam as mulheres", comentou a piloto.
De 1998 a 2001, Elisabete Jacinto disputou o rali Dakar em motas e, depois de uma pausa em 2002, regressou em 2003 à competição, mas já de camião, até 2009, ano em que um acidente provocou um incêndio no seu veículo, que ficou totalmente consumido pelas chamas, no primeiro ano em que a prova se disputou na América do Sul.
"Essa prova não tinha as características que me fizeram apaixonar pela competição. Em África, estamos entregues a nós próprios e a navegação tem um peso muito maior, o que ajuda a equilibrar a competição, pois o dinheiro e o material não têm tanta importância", explicou.
A partir de 2010 dedicou-se à Africa Eco Race, que venceu em 2019, depois de já ter vencido outras corridas como o rali da Tunísia, o rali de Marrocos ou o Shamorock, também em Marrocos.
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