A importância crescente do surf em Portugal e os esforços de conservação costeira estiveram ontem em destaque numa conferência em San Diego, onde participaram o presidente da Associação Nacional de Surfistas e o cofundador da World Surfing Reserves.

“Nós, os surfistas, somos os verdadeiros embaixadores do oceano”, afirmou Francisco Rodrigues, presidente da Associação Nacional de Surfistas, na sua apresentação. “Se criarmos atividades relevantes em torno do surf, isso vai ajudar muito”, disse.

Francisco Rodrigues salientou que o modelo de dinamização do surf português engloba a economia, a sociedade e o ambiente, e explicou como a Liga MEO Surf foi a primeira no mundo a regressar após o confinamento da pandemia de covid-19.

O dirigente salientou também a importância da Nazaré no panorama mundial, com uma série documental sobre a vila produzida pela HBO e destaques constantes na imprensa internacional. “A Nazaré é incrível para o país”, referiu Francisco Rodrigues.

A conferência em San Diego, que decorreu no Scripps Institution of Oceanography, serviu como pontapé de saída na contagem decrescente para a Global Wave Conference, que vai decorrer entre Peniche, Nazaré e Ericeira, de 02 a 04 de outubro.

Sob o tema 'Iniciativas de sustentabilidade da indústria do surf', a conferência contou com o apoio da TAP e teve uma intervenção do cônsul-geral de Portugal em São Francisco, Pedro Pinto.

“Para nós não é uma escolha, o mar está nos nossos genes”, disse o responsável consular na sua apresentação.

“Portugal, de Lisboa ao Porto, tornou-se um hub para a governação do oceano e para a economia azul”, referiu, destacando o trabalho de universidades e instituições como a Fundação Oceano Azul e do ecossistema integrado que está em funcionamento.

“Vai da biotecnologia ao turismo”, continuou Pedro Pinto, traçando uma conexão evidente entre Portugal e a Califórnia: “ambos são costa Oeste”.

A ideia da conferência e do reforço das ligações entre as duas costas é “a partilha de experiências que permitem sinergias mutuamente benéficas”.

O cônsul-geral disse que uma expressão genética desta conexão pode ser encontrada nos irmãos Kika Veselko e Jaime Veselko, filhos de mãe portuguesa e pai americano, que venceram competições internacionais. Kika é campeã mundial júnior de surf e Jaime sagrou-se vice-campeão americano de surf sub-14.

Com vários painéis dedicados à sustentabilidade dos oceanos, Pedro Pinto disse ser necessário passar do “triângulo vicioso” de alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição para um “círculo virtuoso” de políticas públicas, ciência e sector privado.

“A sustentabilidade não pode ser apenas ambiental, também tem de ser económica”, salientou, referindo que a abordagem consciente ao surf foi o que permitiu à Nazaré reflorescer.

“Portugal e Califórnia têm uma vantagem competitiva”, defendeu, ecoando palavras que o cofundador da World Surfing Reserves, João Macedo, tinha dito mais cedo: “O fascínio internacional por Portugal é que tem imenso potencial de conservação”.

Este foi um tópico endereçado por vários ângulos. Zachary Plopper, diretor ambiental da Surfrider Foundation, explicou como a equipa faz limpeza de praias, testa a qualidade da água e influencia legislação local.

“Queremos uma experiência de surf sustentável e precisamos de melhor planeamento costeiro e soluções baseadas na natureza”, afirmou, aconselhando Portugal a “não cometer os mesmos erros” do sul da Califórnia e referindo que 50% a 70% da linha costeira nos Estados Unidos “está em risco”.

Kevin Whilden, diretor da Sustainable Surf, falou do projeto SeaTrees, que está a “reflorestar o oceano” com plantas de mangal, corais e algas marinhas.