O ex-campeão Kelly Slater considerou hoje que o formato do circuito principal da Liga Mundial de Surf (WSL), estreado em 2022, com um corte de atletas no meio da época e um dia decisivo das finais, pode ser aperfeiçoado.

"Todos sabemos agora o que temos de fazer para ser campeão do mundo. Não temos de ganhar o ano todo, temos que ganhar em Trestles [dia das finais na Califórnia, Estados Unidos]. Por isso, só se ganha uma vez. Se concordo [com o modo] como atribuímos o título mundial é uma questão diferente. Eu realmente não concordo com isso, porque estamos a definir quem é o campeão do mundo num sítio, num dia, em determinadas condições", assumiu aos jornalistas o norte-americano, 11 vezes campeão do mundo.

Segundo Kelly Slater, que está em Peniche para competir na prova de Supertubos, "o campeão mundial é definido, historicamente, à volta do mundo, em diferentes condições, em [ondas] direitas, esquerdas, [com o mar] grande, pequeno, boas e más ondas”. “Portanto, é de pensar que o título mundial devia ser dependente disso, sobretudo", defendeu.

Sobre as alternativas possíveis para o atual formato do circuito da elite mundial de surf, nos quadros masculino e feminino, Kelly Slater lançou algumas ideias.

"Eles também podiam construir alguma espécie de sistema com limitações, ou uma escala. Assim, se alguém está tão destacado [na liderança], talvez o segundo, o terceiro ou o quarto teriam de batê-lo por muito", sublinhou, acrescentando que, "se calhar, a pessoa na liderança só teria de ganhar um ‘heat’ [bateria], e a pessoa que vai atrás teria de ganhar dois, três, quatro ou cinco ‘heats’ para apanhá-lo, isso tornaria um pouco mais justo, como um sistema com limitações".

E salientou: "Mas ainda penso que viajamos por todo o mundo para mostrar o nosso surf em diferentes localizações, e em diferentes condições, e é isso que determina quem é o melhor surfista nesse ano".

Questionado sobre se o corte no número de desportistas que integram o circuito principal a meio da temporada é justo, Kelly Slater também levantou algumas dúvidas.

"Não sei se é justo ou não. Da primeira vez que ganhei um título mundial, em 1992, no ano seguinte eu estava em 28.º do mundo quando faltavam quatro eventos para acabar o campeonato. Portanto, dá para imaginar que se alguém começa mal o ano, mesmo que tenha talento, se estiver com problemas de resultados, por atravessar um momento difícil a nível pessoal ou estar com uma lesão, é assim [que define] a carreira", afirmou.

De acordo com o mais titulado surfista da história do surf mundial, o objetivo da WSL é lógico e passa por rentabilizar o ativo de que dispõe.

"Todos sabemos a razão [para as alterações]. Estamos a tentar ter um circuito eficiente, que faça dinheiro, para podermos ter algo sustentável, mas ser à custa dos surfistas é uma decisão difícil. Não sei o que sinto sobre isso, acho que não o prefiro [face ao formato anterior]. Se surfas tão bem que chegas ao ‘tour’ [circuito de elite], devia haver a chance de competir o ano inteiro", assinalou.

Como é seu hábito, Kelly Slater, uma das vozes mais respeitadas no mundo do surf, olha sempre para as 'duas faces da moeda', o que acontece também sobre o atual formato da WSL.

"Mas também, genericamente, se alguém vai ser ‘cortado’, então não é uma ameaça ao título mundial, e estamos a falar de tentar ser campeão mundial, e o campeão mundial em 99% das vezes vai estar no ‘top 18’. É apenas uma questão de tornar os eventos mais eficientes. Também devido ao facto de ser necessário tantos dias para a competição, devido a ter tanta gente no ‘tour’, isso torna difícil terminar com boas ondas e maximizar as condições", sublinhou.

Slater recordou que “a maioria das ondulações tem dois dias bons de surf”. “E nós temos três a quatro dias de competição quando há tanta gente. Por isso, estamos a tentar fazer com que os números batam certo", sublinhou o atleta de 51 anos.

Quanto a alternativas, Slater recordou que "já foi falado em determinada altura ter menos pessoas no ‘tour’" do que no formato atual, considerando que "isso seria uma opção diferente", mas possível.

"Se começássemos com 22, se tivéssemos menos surfistas, isso tornaria uma ‘tour’ mais desafiante para alcançar. Não sei se há uma resposta certa, mas no fim do dia penso que o melhor surfista do mundo vai estar no ‘top 5’ e vai ganhar o título mundial, tal como no quadro feminino. O creme sobe ao topo, como dizem", rematou.

O período de espera do MEO Rip Curl Pro Portugal, terceira etapa do circuito mundial, em Peniche, começou na quarta-feira (08 de março) e decorre até 16 de março, com a presença dos portugueses Frederico Morais, Teresa Bonvalot e Yolanda Hopkins.