"Chegar à Fórmula 1? Se eu não acreditar, não vale a pena alguém à minha volta acreditar. Por isso sim, quero lá chegar!". Ivan Domingues não tem dúvidas sobre o que quer atingir como piloto. Um dos mais recentes fenómenos do automobilismo nacional, com apenas 18 anos vai levar de novo a bandeira de Portugal até ao Campeonato do Mundo de Fórmula 3 da FIA, 12 anos depois. Esta quinta-feira esteve no Autódromo do Estoril a fazer alguns ensaios.

Os motores dos carros de Ivan e dos colegas já roncavam a mais de 200km/h na pista quando chegámos ao mítico Autódromo Fernanda Pires da Silva, outrora palco de míticos Grandes Prémios de Fórmula 1, ganhos por lendas como Ayrton Senna, Alain Prost, Nigel Mansell ou Michael Schumacher. O dia começa cedo quando se quer chegar ao mais alto nível. E, para já, os dias de Ivan Domingues , como nos explicou, são divididos entre a pista, os treinos físicos e os simuladores.

"Tenho passado muito tempo a treinar fisicamente, e também no simulador. Tenho ido à Holanda trabalhar no simulador da equipa e depois tenho-me preparado muito a nível físico em Madrid, onde passo muito tempo. Tenho também um profissional a trabalhar comigo já há algum tempo certos aspetos da mentalidade, com várias técnicas. Têm sido assim os últimos meses", explica-nos.

De Leiria para o mundo, com ambição, mas com os pés bem assentes no asfalto

É numa curta pausa para almoço, entre os testes em pista da manhã e da tarde, que aproveita para falar um pouco connosco. Mas, antes, vamos a apresentações.

Ivan Domingues nasceu em Leria a 5 de Maio de 2006 e o 'bichinho' da velocidade automóvel foi-lhe passado pelo pai e pelo irmão. Começou no karting, quando tinha apenas 8 anos de idade e aos 9 participou pela primeira vez no campeonato de Portugal. Conquistou a Taça de Portugal de Karting e foi Vice-Campeão Nacional em 2017, 2018 e 2019.

Aos 14 anos mudou-se para Itália, para profissionalizar a sua formação e dar o salto para a Fórmula 4. Na época passada, em 2024, já na FRECA (Fórmula Regional Europeia by Alpine), destacou-se como um dos melhores estreantes (dois pódios e melhor rookie em 3 corridas).

Agora, em 2025 deu o salto para o Campeonato FIA de Fórmula 3 - uma das principais antecâmeras da Fórmula 1 - onde vai estar aos volantes da equipa Van Amersfoort Racing (VAR). Desde 2013, com António Félix da Costa, no então Campeonato da Europa de F3, que Portugal não tinha qualquer piloto na principal competição da terceira categoria de corridas automobilísticas de monologares.

"Estou numa rampa de aprendizagem e quero continuar a subi-la"

"As expetativas para este ano passam por continuar a desenvolver-me como piloto, desenvolver o carro e para isso os treinos são muito importantes e para já o objetivo é só esse: continuar a melhorar, corrida após corrida. Estou numa rampa de aprendizagem e quero continuar a subi-la", começa por nos explicar, vincando a sua ambição.

"Não coloco a fasquia baixa, mas para já a concentração está no desenvolvimento do carro, que vai ser um fator muito importante este ano. Quero melhorar a minha técnica e a minha maneira de conduzir. É nisso que nos temos focado e será esse o grande desafio para este ano", reforça.

"Este campeonato tem uma particularidade, que é nos treinos cronometrados, no qualifying, apenas temos uma volta e só numa volta é complicado extrair o máximo do caro, dos pneus, do aquecimento dos pneus e o manuseamento do carro nessas circunstâncias. Vai ser um grande desafio", explica-nos.

A estreia a valer aproxima-se. Será dentro de um mês, em Melbourne, na Austrália. Mas antes haverá mais testes. A seguir ao Estoril seguir-se-á Barcelona. "Estou entusiasmado pela estreia, não nervoso. Mas mal poso esperar, claro, por que a corrida chegue, só que para já o pensamento ainda está nos próximos treinos, em Barcelona. Aí o grande objetivo será perceber o carro, experimentar o que funciona e o que não funciona. Uma base para, depois, ir melhorando corrida após corrida ao longo da época", salienta.

Aos 18 anos, Ivan começa a dar que falar, mas não se deixa afetar por isso e mantém a concentração. "Quero focar-me no meu trabalho, fazer o meu trabalho bem feito, não ligando muito ao que se vai dizendo à minha volta, mas sim ao que a minha equipa me vai dizendo e aconselhando. Naturalmente, é bom sinal esta maior visibilidade, porque ajuda a atrair novos patrocinadores e quem tenha interesse no projeto. Mas não dou muita importância ao que possam dizer de mim", garante.

Ser português não é um entrave, mas um orgulho

Ivan não tem, ao contrário de outras grandes promessas do automobilismo do passado e do presente do automobilismo mundial,  por detrás de si o apoio de uma equipa forte do mundo da Fórmula 1. Mas isso não o preocupa.

"Quando meto o capacete nada mais importa. Só penso em ser mais rápido do que toda a gente"

"O meu foco é o meu trabalho com a equipa e na pista. Quando meto o capacete nada mais importa. Só penso em ser mais rápido do que toda a gente", sublinha.

E garante também que não se sente condicionado por ser português. Sente-se, antes, orgulhoso. "Ser português não é uma coisa negativa, antes pelo contrário. Estou muito feliz por ser português e por agora ir colocar a bandeira de Portugal no mapa do Mundial de Fórmula 3. Sei que vou conseguir orgulhar os grandes nomes do automobilismo português e abrir portas a outros no futuro. É uma grande felicidade, não é de todo uma condicionante", frisa.

Quanto a referências, Ivan Domingues aponta duas: o lendário Ayrton Senna e o atual campeão do mundo Max Verstappen, de quem vai estar agora mais perto. É que o Campeonato do Mundo FIA de Fórmula 3 acompanha o ‘circo’ da Fórmula 1 num total de dez Grandes Prémios durante a temporada.

Para já, será assim que vai sentir mais de perto o 'glamour' da categoria principal do automobilismo mundial. A começar pela Austrália, onde estará então dentro de um mês. Mas, questionado pelo SAPO Desporto sobre onde vai estar daqui a três anos, não hesita: "Na Fórmula 1. Acho mesmo que vou estar na Fórmula 1".