
"Estamos 100% confiantes na maioria absoluta. Estamos a trabalhar no terreno. E a maioria em que estamos a pensar não é mais que a resposta do povo, o povo que sofreu durante o período da covid-19 e nos últimos anos", disse Tomás Cabral, vice-presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), em entrevista à Lusa.
"O CNRT começou em 2007 e tem-se vindo a transformar em todo o território, com uma evolução grande, mais estruturas a nível das 2.225 aldeias, estruturas mais bem preparadas a todos os níveis", vincou ainda.
Essa evolução, explica, assenta também na criação e crescimento de três estruturas -- mulheres, jovens e profissionais do partido -- que envolveu formação técnica dos quadros e "formação especial a quadros políticos".
"Estamos a trabalhar para maioria absoluta. O presidente do partido e o partido estão trabalhar forte para podermos ter uma maioria. E população em si está a perceber qual o caminho que querem seguir", afirmou.
Apesar de ter estado, desde a sua criação, como primeira ou segunda força política no país, o CNRT acaba por ser necessariamente conectado ao seu líder, Xanana Gusmão, o que leva alguns a questionar que futuro terá o partido, sem a cara mais conhecida da política nacional.
"Quem diz que não vai haver CNRT depois de Xanana só está a tentar fazer propaganda política. Se fosse assim, quando as nossas bases de apoio à resistência foram destruídas em 1979, a luta contra a indonésia teria acabado. E não ocorreu isso", explica.
"O CNRT está a trabalhar, a organizar-se, tem uma estrutura própria, já. Com Xanana ou sem Xanana estamos a construir, a fortalecer as estruturas", insiste.
Ao contrário de eleições anteriores -- o CNRT nasceu praticamente para governar, logo em 2007 , tendo formado uma coligação ampla que liderou o executivo -- o partido está pela primeira vez em campanha na oposição.
Ainda assim, recorda Tomás Cabral, o atual Governo nunca chegou a alterar o programa que esteve na sua base, o da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), a coligação pré-eleitoral liderada pelo CNRT e que venceu com maioria absoluta as antecipadas de 2018.
Cabral considera que o Governo atual é inconstitucional porque a coligação que o apoiava caiu (o CNRT saiu formalmente em 2020 e entrou a Fretilin) e isso deveria ter levado, de imediato à queda do executivo.
"Xanana Gusmão apresentou ao então Presidente uma nova coligação, mas foi rejeitada. E o CNRT manteve a sua posição, que é a mesma na governação e na oposição", disse.
Oficialmente a campanha eleitoral começou apenas no passado dia 19 de abril, mas na prática Xanana Gusmão e o CNRT andam em ações políticas -- apelidadas de "consolidação" -- já começaram muito antes, com o líder timorense a percorrer várias vezes o território numa mensagem de proximidade com a população.
Essa estratégia evidenciou-se nos momentos mais duros dos últimos anos, como a pandemia da covid-19 ou os desastres naturais, em que Xanana Gusmão era, muitas vezes -- a par do atual Presidente José Ramos-Horta -- uma presença constante na comunidade, muitas vezes em contraste com a quase ausência do primeiro-ministro, Taur Matan Ruak e do então chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo.
Esses dois acontecimentos a par da instabilidade política que se arrastou durante anos leva o CNRT a argumentar que só o partido poderá fazer retomar o crescimento e o desenvolvimento que acusa o executivo de não ter consolidado.
E compara a situação atual com a que se vivia no país em 2006-2007, referindo-se á dupla do CNRT e de José Ramos-Horta (no seu primeiro mandato como Presidente) que, diz Cabral, conseguiram resolver "a crise dos deslocados muito rapidamente" e avançar com políticas de desenvolvimento.
"Outro aspeto muito importante foi termos resolvido a fronteira marítima com a Austrália. Aprovámos o Plano Estratégico de Desenvolvimento, estabelecemos a rede elétrica em quase todo o país, estradas e demais", afirmou.
"É com base nesta experiência que o CNRT sabe que consegue trabalhar sozinho, em maioria. Temos capacidade administrativa e política....
Tomás Cabral contesta a governação de Taur Matan Ruak, mas questionado sobre porque é que foi o próprio CNRT, maior partido da coligação, a indigitá-lo como primeiro-ministro, explica que foi pelo interesse de equilíbrio, de fortalecimento do Estado.
"Para o CNRT éramos uma coligação. Mas a coligação caiu porque havia problemas internos. Não termos conseguido completar a estrutura de governação também foi um fator determinante. E o próprio OGE, que foi muito contestado, ainda que tenhamos votado abstenção", disse.
Os estatutos do CNRT, explica, determinam que o presidente do partido, Xanana Gusmão, que é ao mesmo tempo presidente da Comissão Política Nacional, tem "o direito prorrogativo" de tomar decisões como quem será o chefe do Governo.
Críticas igualmente para o outro partido da antiga coligação, e que está também no Governo, o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), afirmando categoricamente: "já não é o nosso parceiro".
"Deixou de ser também, pelo facto de ter 4 ou 5 cadeiras no parlamento e depois querer 15 membros no Governo. Saímos. Mas agora a avaliação cabe ao povo. Se quiser votar para estas pessoas, tem que fazer a avaliação adequada. Da nossa parte estamos a fazer o papel de criticar o funcionamento do Estado", sublinhou.
ASP // PJA
Lusa/Fim
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