Esteve longe de ser a estreia de sonho que, certamente, idealizava, aquela que Ruben Amorim viveu como treinador do Manchester United. Mas o jogo de domingo com o Ipswich Town, que terminou empatado a uma bola, trouxe à tona duas ideias que, na verdade, já me pareciam ser dados adquiridos ainda antes de os red devils entrarem em campo sob a batuta do treinador português: Amorim não abdica das suas ideias e convicções em momento algum, como o próprio já tinha garantido, e tratou de implementá-las desde o primeiro dia; e o Manchester United tem, ao dia de hoje, um plantel com muitas lacunas e ao qual falta, acima de tudo, qualidade.

De forma a ter sucesso em Old Trafford, o antigo treinador do Sporting vai ter muito trabalho pela frente, e parte do mesmo terá de ser feito ao nível do mercado de transferências. Algo que, de resto, já tinha acontecido em Alvalade.

Olhando para os jogadores que Amorim tem à disposição em Manchester, diria que o clube inglês precisa urgentemente de reforços para todos os setores: defesa, meio-campo e ataque.

E seja já na reabertura da janela de transferências, em janeiro, ou apenas no final da temporada, o United terá de abrir os cordões à bolsa para dotar a sua equipa de melhores soluções e, sobretudo, de futebolistas que encaixem na sua filosofia de jogo.

Atualmente, o plantel do United tem seis centrais, o que aparenta ser o número ideal para uma equipa que, com a chegada de Amorim, vai passar a jogar com três no onze titular. Acontece, contudo, que três deles - Harry Maguire, Jonny Evans e Victor Lindelöf – estão longe de apresentarem um rendimento aceitável para o nível que se exige num clube desta dimensão. Restam, assim, outros três: Matthijs de Ligt e Lisandro Martínez, que devem ser apostas regulares no onze inicial, e Leny Yoro, que ainda não se estreou e não soma qualquer minuto em jogos oficiais na presente temporada.

Não é de estranhar, por isso, que sejam feitas, como até já aconteceu no encontro com o Ipswich, adaptações de outros jogadores, como Noussair Mazraoui, Diogo Dalot ou até Luke Shaw. Parece-me, claro, contudo, que o United precisa de dotar o seu plantel de mais e melhores opções para o eixo defensivo.

Outros papéis que são fulcrais no desenho tático de Amorim são os dos alas, e também aqui é notória a necessidade de se realizarem contratações.

Na estreia pelo United, o técnico luso apostou em Amad Diallo na direita e Diogo Dalot na esquerda, sendo que Mazraoui e Shaw também poderão ser opção nestas posições, assim como Tyrell Malacia, que tem estado a contas com problemas físicos desde a época passada.

Analisando aquilo que Amorim fez no Sporting, onde adaptou extremos de raiz a esta função de ala que cobre todo o corredor, como vimos acontecer com Nuno Santos, Geny Catamo ou, mais recentemente, Geovany Quenda, também não é de estranhar que possa ser feito o mesmo, por exemplo, com Alejandro Garnacho.

De qualquer das formas, e tendo em conta a importância destas posições para o esquema de Amorim, acredito que o United tem de olhar para o mercado de forma a dar ao seu técnico opções de maior qualidade e mais adequadas às ideias do seu novo treinador.

No meio-campo é onde tenho mais dúvidas. Frente ao Ipswich, Amorim utilizou Christian Eriksen e Casemiro à frente da defesa, sendo que Kobbie Mainoo e Manuel Ugarte também vão lutar por um lugar. Bruno Fernandes pode ser opção numa dessas posições, mas eu sou daqueles que defende que o internacional português deve jogar o mais próximo possível da grande área, que é onde pode apresentar um melhor rendimento, não só pela sua capacidade goleadora, mas também pela qualidade que apresenta no último passe.

Veremos que plano Amorim tentará implementar na casa das máquinas da sua nova equipa, pois só assim poderemos ver se serão necessários jogadores com outras características: se mais defensivos, embora já tenha Casemiro e Ugarte, se mais criativos.

Para terminar, quero realçar a urgência que o United tem em adquirir pelo menos um novo ponta de lança. De momento, para fazer essa posição, o clube tem apenas Rasmus Højlund e Joshua Zirkzee, mas ambos têm estado bastante aquém das expectativas, com apenas um golo marcado cada um na Premier League em 2024/25. Mais do que isso, foi o próprio neerlandês que, quando chegou a Inglaterra, se apresentou como um “falso avançado”, pelo que, vendo bem as coisas, Amorim tem apenas um verdadeiro ‘9’ à disposição, e o seu rendimento está longe de ser o ideal para as pretensões do clube no curto prazo.

O United precisa rapidamente de um homem-golo, que resolva encontros como os de domingo em que a equipa não apresentava soluções para criar perigo e necessitava de alguém capaz de colocar a bola dentro da baliza adversária mesmo não dispondo de muitas oportunidades. No fundo, um ponta de lança eficaz e com golo, mas também que ofereça profundidade e outras soluções à equipa, como fazia Viktor Gyökeres no Sporting com Amorim.

Em suma, o plantel do United precisa de uma pequena revolução para acompanhar não só as ideias de Amorim, mas também os padrões de qualidade pelos quais se rege um clube desta grandeza.

A chegada de um novo treinador, com ideias de jogo diferentes do anterior, obrigariam sempre a que se realizassem ajustes nos próximos mercados de transferências, mas a verdade é que o trabalho bastante pobre desenvolvido por Erik ten Hag neste capítulo – foram consumadas várias contratações de jogadores de qualidade duvidosa e, em muitos casos, desprovidas de sentido – faz com que a missão de Amorim em Manchester seja ainda mais complicada do que o previsto.

Amorim precisa de tempo e de assertividade a todos os níveis, mas também no que toca à forma como irá agir no mercado. Só assim poderá ter sucesso em Old Trafford.