A escolha da China para organizar o Campeonato do Mundo de Clubes de 2021 desconsiderou os compromissos da própria FIFA em termos de direitos humanos, alertou hoje a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW).
Em 24 de outubro, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, anunciou que aquele órgão mundial de futebol escolheu a China para organizar o Campeonato do Mundo de Clubes de 2021, num novo formato que incluirá 24 equipas.
Em comunicado, hoje divulgado, a HRW indicou que, contrariamente aos estatutos e políticas da FIFA, não houve processo de licitação pública, consulta às partes interessadas e avaliação do risco de direitos humanos.
"A FIFA ignorou os seus próprios compromissos de direitos humanos ao conceder direitos de organização à China para o Campeonato do Mundo de Clubes", salientou Minky Worden, diretora de iniciativas globais da Human Rights Watch.
"A FIFA está a enviar a mensagem de que as regras que se aplicam a outros Governos não se aplicam a Pequim", acrescentou Worden.
A HRW recorda que, como documentaram grupos de direitos humanos e meios de comunicação, o Governo chinês comete graves violações de direitos humanos, incluindo violações dos direitos laborais, detenções arbitrárias em massa, vigilância em massa, tortura, restrições graves a jornalistas e maus tratos a mais de um milhão de uigures e outras minorias étnicas muçulmanas nos campos de "educação política" em Xinjiang.
Numa carta datada de 29 de outubro, a HRW pediu à FIFA que explicasse a sua decisão de conceder o Campeonato do Mundo de Clubes à federação estatal da China sem consulta das partes interessadas ou avaliação dos riscos aos direitos humanos, medidas estabelecidas nos Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos, que a FIFA endossou e que estão consagrados na sua política.
Questionado em Xangai, em outubro, sobre o processo de licitação do Campeonato do Mundo de Clubes e a revisão independente dos direitos humanos, Infantino respondeu que "a missão da FIFA é organizar futebol e desenvolver futebol em todo o mundo", evitando uma pergunta direta sobre porque ignorou as suas próprias políticas.
Numa carta de resposta à HRW, em 07 de novembro, da FIFA não contesta que deveria ter consultado as partes interessadas com antecedência, de acordo com os seus “abrangentes requisitos de direitos humanos nas licitações e organização de torneios da FIFA", mas afirma que o Campeonato do Mundo de Clubes na China é uma "edição piloto" numa "linha de tempo mais curta".
"O tempo não supera as responsabilidades da FIFA de atender aos requisitos de direitos humanos na China e em outros países anfitriões", sublinhou Worden, acrescentando que "o cronograma mais curto torna a avaliação dos riscos de direitos humanos ainda mais importante".
"Se houver alguma integridade no que resta deste processo, a FIFA precisa de divulgar imediatamente os seus acordos com a China, colocar os direitos humanos em primeiro plano e garantir que são totalmente garantidas as proteções", argumentou Worden.
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