Ricardo Quaresma voltou a 'abrir o livro' para falar do racismo em Portugal. O extremo do Vitória de Guimarães deu uma entrevista à Rita Ferro Rodrigues para o site 'Elefante de Papel', onde falou dos problemas de integração dos ciganos na sociedade e do racismo em Portugal, baseado na etnia ou cor da pele.

o 'Mustang' nunca se deixou domar e, sempre que foi preciso falar, falou sobre o problema. E, diz, é isso que não percebe em colegas que sofrem insultos e preferem o silêncio.

"É isso que às vezes me custa: os jogadores de futebol são famosos, as pessoas estão sempre à espera de os ouvir, de os ver... há muita gente que fala do racismo mas depois não têm coragem de vir cá para fora expressar o que sentem. Não vou criticar ninguém porque cada um sabe da sua vida mas eu, sempre que achar que tenho de falar, vou falar porque há coisas que não podemos admitir. Não concordo que sentes que estão a tratar-te mal, que estão a cair-te em cima porque és cigano ou negro ou seja o que for e não falares. Tens de falar. Já que as pessoas olham para mim como um exemplo, então vou ter de falar porque ninguém vai calar-me", começou por dizer.

"Mas não falo só de racismo, falo do que sinto. As pessoas admiram-te pelo que fazes, pelo jogador que és, mas se calhar nunca estão à espera que seja eu a dar acara. Isso é que as vezes… não é que me magoa mas desilude-me um bocado. Tenho colegas de profissão que sentem tanta coisa e parece que têm medo de falar porque as pessoas não vão gostar…. tu não tens de pensar no que os outros pensam porque quando te criticam ou insultam-te, eles também não pensam em como vais ficar", recordou ao site 'Elefante de Papel'.

Na mesma entrevista, Ricardo Quaresma lembrou que "o futebol pode ajudar e muito" no combate ao racismo e aos preconceitos. Recordando o seu percurso e a forma como ele, cigano, se singrou na vida, o agora jogador do Vitória de Guimarães diz-se um homem orgulhoso por ver tantos ciganos a quebrar barreiras.

"Uma coisa que me deixa orgulhoso é que povo cigano já mudou muito a mentalidade. Vejo ciganos advogados, mulheres ciganas nas universidades, algo nada normal na nossa etnia e fico feliz por ver que a juventude cigana já se preocupa mais em entrar na sociedade, mostrar que somos gente, que somos iguais a eles. Fico feliz por eles por trabalharem para isso. Porque ninguém te dá nada nesta vida. Se não fores à procura, ninguém te vai dar nada. Eu sentia isso às vezes, a gente fechava-se um pouco. Mas também fechávamo-nos porque sentíamos que não tínhamos apoios do outro lado. E então uníamos e lutávamos contra tudo e contra todos", lembrou.

O craque recorda que a luta contra o racismo tem de ser permanente porque isto não é um problema que se resolve da noite para o dia.

"É difícil…  por muito que tentes lutar e fazer perceber e fazer ver as pessoas que independentemente da cor, do físico, seja do que for, somos iguais. Vais ser haver racismo. Não vale a pena fazerem campanhas de que em Portugal não há racismo. Existe em todo o lado. É combater, tentar fazer entender ao máximo as pessoas que somos todos iguais", atirou.