Quem viu a primeira parte do Benfica no Vodafone Arena e a facilidade com que a equipa construiu a goleada no primeiro tempo estava longe de imaginar aquela segunda parte. Os ´encarnados` estiveram a vencer por 3-0, tiveram o apuramento no bolso mas deixaram-no fugir no minuto 88. A formação de Rui Vitória terá de vencer o Nápoles na derradeira jornada na Luz ou esperar que o Besiktas não vença fora o Dinamo Kiev. Aí pode nem precisar de pontuar. Vencendo os italianos garante o primeiro lugar, empatando ou perdendo, apura-se como segundo se Besiktas não vencer.

O jogo: Duas goleadas para cada lado e... empate no final

Istambul parece querer entrar na história das mais épicas recuperações em jogos de futebol. Foi nesta cidade que o Liverpool recuperou de um 0-3 da primeira parte para 3-3 na segunda e depois ´roubar` uma Liga dos Campeões ao AC Milan nos penáltis, em 2005, no Estádio Ataturk. Na noite desta quarta-feira, foi o Besiktas a repetir a proeza dos ingleses, para desespero do Benfica. A recuperação pode ser visto de dois prismas: há quem pense que o Benfica ´dormiu` demais e permitiu que o adversário crescesse e recuperasse. A outra tese tende a elogiar a coragem, capacidade de sofrimento e o acreditar dos turcos que fizeram uma meia hora final diabólica. A verdade está, como em muitos casos, no meio.

Contrariamente ao que aconteceu na Luz na primeira volta, o Besiktas entrou mal no jogo e deixou que o Benfica assumisse o controlo das operações. Os comandados e Rui Vitória jogavam como queriam, com saídas rápidas para o ataque, explorando muito bem tanto as alas como a profundidade pelo meio, baralhando por completo os turcos. A facilidade com que o Benfica chega a área de Fabrício fazia antever mais uma noite memorável das ´águias` na Europa do futebol.

Os golos foram dando expressão ao domínio ´encarnado`, aparecendo com uma certa naturalidade, embora o Benfica estivesse a mostrar eficácia a 100 por cento: três remates enquadrados com a baliza, três golos. Aos 21 Guedes aproveitou um ressalto, fintou Marcelo e o guarda-redes e fez o seu segundo golo na Champions. Aos 26 Nelson Semedo puxou do pé esquerdo e fez um golaço, num remate de fora da área. A machadada final de 45 minutos de luxo foi dada por Fejsa aos 31 minutos, na recarga a uma bola que Mitroglou tinha enviado à barra por duas vezes e Salvio ao poste por uma vez. Tudo no mesmo lance. Dava para tudo. Antes dos golos, já Eliseu tinha feito estremecer o poste com um remate de fora da área.

Tudo corria às mil maravilhas, portanto. O Benfica mandava, estava confiante, o Besiktas estava atordoado e nem sabia o que fazia. Senol Gunes meteu mais gente de cariz ofensiva mas foi Mitroglou a dar o oxigénio que o Besiktas precisava. Porque não fez o 4-0 quando apareceu isolado a passe de Salvio e logo depois Tosun deu a primeira esperança aos turcos.

Do sonho a realidade foi um instante, com Quaresma, a aproveitar mão na bola de Lindeloff dentro da área e Aboubakar, no fatídico minuto 88, a empatar um jogo que o Benfica teve no bolso. Por esta altura já Rui Vitória tudo tinha feito para estancar o crescimento do Besiktas, com um meio-campo a três com a entrada de Samaris mas era tarde para travar a avalanche atacante do Besiktas. Os ´oitavos` já estavam no bolso assim como os sete milhões do apuramento mas dois ex- FC Porto tinham outros planos e deixaram a ´águia` a fazer contas na última jornada. Tem de vencer o Nápoles, com quem partilha o primeiro lugar do Grupo B com oito pontos. Ou esperar que o Besiktas, que tem sete, não vença no terreno do Dinamo Kiev.

Momento chave: Mitroglou não acabou com o oxigénio do Besiktas

Corria o minuto 54 quando Mitroglou surgiu na cara do guarda-redes Fabrício, depois de um passe magistral. O grego rematou colocado, de pé esquerdo. Tão colocado que a bola saiu a centímetros do poste. O Benfica podia acabar aí com alguma esperança do Besiktas mas na jogada seguinte Tosun marcou e acordou o Vodafone Arena.

Os melhores: Tosun virou tudo

Ao intervalo, Senol Gunes tentou mexer com o jogo, lançando Tosun e Inler para os lugares de Arslan e Gonul. Passou a ter mais gente na frente e no meio-campo ganhou um jogador com mais qualidade de passe. Tosun fez um golaço e deu esperanças aos turcos.

Quaresma e Aboubakar fizeram os restantes golos. Os dois ex-FC Porto foram dos melhores e tentaram levar a equipa para a frente de todas as formas na primeira parte. No segundo tempo viram o seu esforço ser recompensado.

Ederson negou por mais que uma vez o golo ao Besiktas. Apesar dos três golos sofridos foi dos melhores em campo. Gonçalo Guedes também esteve em evidência com um golo e bons pormenores

Os piores: Lindelof ´borrou a pintura`

Lindelof, que foi eleito esta semana o Melhor Defesa Sueco do Ano, teve uma noite para esquecer. Abordou mal o lance que deu o 2-3 ao Besiktas por mão na bola. Não afastou a bola no cruzamento de letra de Quaresma e permitiu o 3-3 de Aboubakar. Uma noite para esquecer do sueco.

Mitroglou podia ter acabado com o jogo mas falhou na hora certa. Tal como falhou, por duas vezes, no lance do 3-0 do Benfica, ao rematar duas vezes à barra.

Nelson Semedo, que até fez um golaço, e Eliseu, estavam a ser certinhos nas marcações no primeiro tempo mas na segunda parte perderam-se, tal como o resto da equipa. O lateral direito nunca conseguiu travar Tosun, o homem que revolucionou o jogo do Besiktas no segundo tempo a partir do corredor direito da defensiva ´encarnada`.

Reações:

Rui Vitória: "Fizemos uns bons 60 minutos mas depois demos o oxigénio que eles queriam"

Gonçalo Guedes: "Jogos da 'Champions' são de extrema dificuldade"

Nélson Semedo: "Foi mérito do Besiktas"

Salvio: "Claro que sinto um sabor amargo"

Aboubakar: "Não é especial para mim marcar ao Benfica"

Quaresma: "Abafámos o Benfica"

Curiosidades:

Foi a 1.ª vez na história que o Benfica não venceu um jogo em que saiu ao intervalo com uma vantagem de três golos. Foi também a 1.ª vez que o Benfica não venceu um jogo na UEFA em que teve uma vantagem de três golos.

Desde 1946 que o Benfica não desperdiçava três golos de vantagem num jogo. Nesse ano, perdeu 4-3 frente ao Sporting.

Esta é a melhor performance ofensiva do Benfica fora de portas na Champions, com sete golos marcados. Mas os sete golos sofridos igualam a pior registo ofensivo (2010/2011 e 2016/2017).

O Besiktas mantem-se invicto esta temporada, ao 17.º jogo e continua também sem vencer equipas portuguesas em casa: cinco jogos, dois empates e três derrotas. Já o Benfica continua sem vencer na Turquia: seis jogos, quatro empates e duas derrotas.

Quaresma é o terceiro português a chegar aos dez golos na Liga dos Campeões, depois de Cristiano Ronaldo (95) e Figo (24).