O futebolista do Santa Clara Nené, natural da ilha Graciosa, diz sentir-se "triste" por estar impedido de regressar a casa, face à suspensão das ligações áreas entre as ilhas açorianas devido à covid-19.

"É um bocado triste [não poder regressa a casa]. Não é um bocado, é muito triste. É uma coisa diferente estar com a mãe. A comida da mãe é diferente do que estar a cozinhar todos os dias para mim. E estou sozinho. É tentar manter a cabeça ocupada, mas não é nada fácil", disse à agência Lusa o jogador da equipa açoriana da I Liga de futebol.

Apesar de ser um dos dois açorianos do plantel do Santa Clara (o outro, Rodolfo, é natural de São Miguel), Nené é o único elemento do plantel que está impedido de regressar a casa, face à suspensão das ligações entre as ilhas da região, determinada pelo Governo dos Açores em 19 de Março, na sequência do surto de covid-19.

A suspensão estendeu-se aos voos da Azores Airlines entre os Açores e o exterior, sendo a TAP a única companhia a operar na região atualmente com duas viagens semanais entre Lisboa e Ponta Delgada e uma entre Lisboa e a Terceira.

Sem voos entre ilhas, o jogador de 24 anos reconhece que não quis regressar a casa enquanto podia por receio de levar o novo coronavírus para a Graciosa, numa altura em que aquela ilha do grupo central ainda não tinha registado qualquer caso positivo.

"A minha ilha, na altura em que eu podia viajar, não tinha casos nenhuns e eu não queria ser o primeiro. Não queria correr esse risco, não é que eu estivesse infetado ou não, mas não queria correr esse risco e fiquei cá em São Miguel", afirma.

Entretanto, confessa estar arrependido da decisão, uma vez que não existe a "perspetiva de haver um retorno" para voltar a ver a família.

À distância, Nené fala todos os dias com a família e os amigos, que se mostram preocupados por São Miguel ser a ilha com mais infeções por covid-19 na região, com um total de 60 casos positivos.

"Eu tenho falado com a família todos os dias e com amigos também. Estão preocupados porque veem sempre casos a aparecer em São Miguel. Estão-me sempre a dizer para ficar em casa", assinala.

O atleta diz fazer, pelo menos, meia hora de exercício físico diário na bicicleta fornecida pelo clube, além de "ver séries" e de dar "pequenos passeios" como forma de "espairecer a cabeça".

"Só saio mesmo para ir dar um passeio e ver um bocadinho o mar. Nós aqui temos esse privilégio", releva.

Apesar de reconhecer que será "complicado", Nené tem "esperança" no regresso das competições nos próximos meses, até porque a motivação para treinar em casa não é a mesma.

"Para mim é muito chato treinar em casa. Não há aquela motivação de ir para o campo com os colegas. É diferente, mas tem de ser. Há que fazer um sacrifício e um esforço", destaca.

O plantel do Santa Clara está de férias até 20 de abril, uma decisão que pretendeu trazer "equilíbrio mental e físico" aos atletas, anunciou o clube na altura, uma vez que a maioria das famílias dos jogadores se encontra em São Miguel.

Em 12 de março, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional deliberou a suspensão do principal campeonato português devido à pandemia da covid-19, à semelhança do que aconteceu em outras ligas europeias e nas diferentes modalidades. Os açorianos seguiam na 10.ª posição, com 30 pontos.

Até ao momento, já foram detetados nos Açores um total de 106 casos de covid-19, verificando-se 14 recuperados, cinco óbitos e 87 casos positivos ativos para infeção pelo novo coronavírus, sendo 60 em São Miguel, cinco na ilha Terceira, quatro na Graciosa, quatro em São Jorge, nove no Pico e cinco no Faial.