O diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, enfatizou hoje a importância da colaboração estabelecida com Rui Pinto e sublinhou que o principal arguido do processo ‘Football Leaks’ “mudou radicalmente” de atitude há cerca de um ano.
“Ele mudou radicalmente e não podemos escamotear isso, por muito que um ou outro possa não gostar, e tem tido uma colaboração efetiva, relevante e importante. Com o conhecimento genuíno que tem e que procura transmitir, até do ponto de vista preventivo”, afirmou o responsável máximo da Judiciária, que está a ser ouvido como testemunha arrolada pela defesa do criador do ‘Football Leaks’ no Tribunal Central Criminal de Lisboa.
No depoimento prestado na 41.ª sessão do julgamento, Luís Neves sublinhou que a alteração - “do dia para a noite” - da postura do arguido ocorreu após a fase de instrução do processo, sendo que, até esse momento, havia “posições extremadas” relativamente à atitude das autoridades por uma suposta “complacência”.
Paralelamente, o diretor nacional da PJ afirmou que “a polícia nunca assumiu qualquer compromisso” no âmbito desta colaboração com Rui Pinto, mas apenas com o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), organismo com o qual foram partilhados todos os resultados desse trabalho. No entanto, não deixou de tecer elogios às capacidades e às preocupações de Rui Pinto, sublinhando também as “dificuldades” económicas da sua vida.
“Além da formação de que é detentor, tem uma grande memória, é uma pessoa muito capaz e consegue estabelecer grandes conexões”, frisou, acrescentando: “Pelas conversas que tivemos com ele, percebemos que era uma pessoa com conhecimentos e com preocupação, sobretudo numa vertente de bem social. Preocupavam-no questões de desigualdade social e, sobretudo, os branqueamentos de capitais e fraudes fiscais.”
Questionado pelo advogado de Rui Pinto, Francisco Teixeira da Mota, sobre as possibilidades de reintegração social do arguido, Luís Neves recorreu à sua experiência profissional de quase 30 anos para defender a viabilidade dessas perspetivas e considerou que com as capacidades que o criador do ‘Football Leaks’ possui, “pode trabalhar e ser bem remunerado de forma absolutamente legal” em instituições públicas ou privadas para evitar ataques informáticos.
“Se, nas segunda ou terceira oportunidades, tivesse sentido que este caminho de ressocialização não era efetivo, não teria estado mais vezes presente. A polícia também deve contribuir para a reintegração e entendo que pode ser um cidadão que não reitere na prática dos factos de que é aqui suspeito”, vincou.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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