A instabilidade em Alvalade “retira força à marca Sporting” e afeta a sua notoriedade e confiança, disse à agência Lusa o diretor executivo da On Strategy, Pedro Tavares, comparando o clube a um sinistrado “com múltiplas fraturas”.
“Quando se começa a falar em processos e rescisões com justa causa, a proteção legal da marca fica exposta, dado que existe uma componente ao nível da notoriedade, que, neste caso, é negativa. Em vez de ser uma construção positiva ela passa a ser negativa”, explica o consultor, que falava antes de a SAD do Sporting ter retirado na quarta-feira os processos disciplinares visando futebolistas do plantel principal.
Na sua opinião, a componente confiança também é afetada, porque, se a marca (Sporting) é posta em causa, tudo o que envolve os investidores externos, nomeadamente patrocinadores e os próprios investidores institucionais e reguladores, passa a ter aqui uma grande questão sobre a segurança que nela depositam.
“Numa segunda dimensão também fica afetada a reputação, que engloba um conjunto de dimensões, sendo as mais relevantes no setor desportivo o talento, a performance, o governo e a liderança”, referiu o diretor executivo da consultora multidisciplinar On Strategy.
Para Pedro Tavares, a situação vivida no Sporting na última semana é desencadeada pelo governo e pela liderança e afeta diretamente, numa ótica da ‘revolta’ dos jogadores, estas dimensões, que juntas pesam mais de 60% de construção de reputação de uma marca desportiva.
Estas três dimensões, ainda de acordo com Pedro Tavares, afetam uma quarta, que é a performance financeira, e daí se estar a falar do condicionamento do novo empréstimo obrigacionista e da suspensão da negociação de ações em bolsa.
“A crise que teve origem não nos resultados, mas no governo e liderança, faz com que afete, neste caso, o talento, a performance e a questão financeira do clube, e volte novamente à ótica do governo e liderança”, sustenta o consultor.
Existe uma outra dimensão na ótica da construção da força da marca, que tem a ver com o ‘staff’, uma vez que as marcas comerciais possuem um conjunto de marcas humanas que as representam e as constroem e que, neste caso, são os colaboradores.
“Ao colocarmos em causa as questões que se relacionam com jogadores, treinador, presidente e órgãos sociais, estamos a defraudar uma terceira dimensão da força de marca. Neste momento, no que se refere à reputação e força de marca, é como um sinistrado com múltiplas fraturas num hospital”, sustentou.
Pedro Tavares desconhece qualquer 'medicamento' que possa tratar este 'politraumatizado'. “Tem múltiplas fraturas, todas a interagir umas com as outras, e, no limite, não sei qual é que é a mais cirúrgica e a necessitar de intervenção mais rápida”, explicou.
Mas, para Pedro Tavares, são os investidores, mais do que os sócios, que têm que desenhar aquilo que é uma situação de confiança numa ótica de equilíbrio de liderança, considerando que a solução mais viável passa por uma alternativa à atual direção de Bruno de Carvalho.
“Em qualquer negócio, se um presidente do conselho de administração não cumprir ou provocar uma crise, são os acionistas que têm de se pronunciar sobre a sua continuidade ou não, e resolver rapidamente a situação dentro da própria organização”, finalizou.
Críticas de Bruno de Carvalho à equipa de futebol após a derrota com o Atlético de Madrid (2-0), na primeira mão dos quartos de final da Liga Europa, motivaram uma reação do plantel e a abertura de duas dezenas de processos disciplinares, que entretanto foram retirados pela administração da SAD ‘leonina’.
O sucedido deu também lugar a uma crise institucional, depois de o presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube, Jaime Marta Soares, ter afirmado que Bruno de Carvalho não tinha condições para continuar, antes de a Holdimo, maior acionista externo da SAD, ter solicitado uma AG para debater a situação interna.
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