A Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Lisboa (APCL) mostrou-se hoje orgulhosa do “sonho” alcançado pela campeã paralímpica Cristina Gonçalves, que acompanha há mais de 20 anos, lamentando a falta de apoio do Governo ao desporto adaptado.

“Isto é um sonho, a Cristina está mesmo, mesmo, muito feliz. Ela tem 46 anos e, portanto, é o culminar de uma carreira e eu espero que, com este exemplo, se comece a dar mais ênfase ao desporto adaptado, ao boccia e que consigamos ter mais apoios financeiros”, disse à Lusa a diretora-geral da APCL, Sara Alves.

A atleta portuguesa Cristina Gonçalves conquistou, no domingo, a medalha de ouro no torneio individual de boccia BC2 dos Jogos Paralímpicos Paris2024.

Esta foi a sua quarta medalha paralímpica e a primeira em competições individuais.

Cristina Gonçalves começou a praticar desporto adaptado nas instalações desta associação há mais de 20 anos, fazendo parte de um grupo de 27 atletas federados com quem a APCL trabalha diariamente, de forma gratuita.

“Um dos treinadores da Cristina é voluntário há muitos anos, o que também é um motivo de orgulho. O desporto é algo de útil que podemos acrescentar à vida das pessoas com deficiência, sobretudo com paralisia cerebral. É uma forma de trabalhar corpo e mente”, vincou a responsável.

Sara Alves lamentou, a este propósito, o facto de a comitiva lusa não ter podido contar com o apoio do psicólogo com o qual trabalham há dois ciclos, destacando a importância de zelar pela saúde mental dos atletas paralímpicos.

Fundada há 64 anos, a APCL conta com mais de 400 utentes nas suas respostas sociais e apoia cerca de 250 atletas através de protocolos de cooperação estabelecidos com várias entidades, que se têm revelado insuficientes face às necessidades diárias.

“Há uma falta de apoio enorme por parte do Estado, que deveria dar especial atenção aos atletas. Não é só quando vão aos Jogos Paralímpicos que precisam de meios. A comparticipação que temos nunca é suficiente para os serviços que prestamos, razão que nos leva a viver muito de mecenas e de apoios que nos vão chegando”, frisou.

Depois de ter ficado, pela primeira vez, sem medalhas nos Jogos Tóquio2020, o boccia português voltou ao pódio em Paris, com Cristina Gonçalves.

A modalidade, exclusiva dos Jogos Paralímpicos, somou ainda dois lugares entre os oito primeiros, que tal como os medalhados têm direito a um diploma, com Carla Oliveira a ser sexta no torneio individual de BC4 e André Ramos quinto na prova de BC1.

O boccia português despediu-se dos Jogos Paralímpicos Paris2024 na terça-feira, depois de a equipa de BC1/BC2, da qual fazia parte a medalhada Cristina Gonçalves, ter sido afastada na fase de grupos.