O maior partido da oposição cabo-verdiana (PAICV) considerou hoje que o dossier sobre a mobilidade na CPLP ficou “seriamente comprometida, ou pelo mesmo beliscada”, com a recusa de vistos a jogadores de andebol para um estágio em Portugal.
“Não devemos perder de vista que o dossier mais emblemático e mais importante da agenda da presidência de Cabo Verde da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) é a questão da mobilidade que acabou por ficar seriamente comprometida, ou pelo mesmo beliscada, com este incidente da recusa de visto aos atletas de uma das nossas seleções”, considerou o partido.
A posição foi assumida numa declaração política no parlamento pelo líder parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Rui Semedo, que começou por salientar que a recusa por parte do Centro Comum de Visto (CCV), gerido por Portugal, aconteceu num contexto em que Cabo Verde tem uma parceria especial com a União Europeia.
E lembrou que Cabo Verde tem assinado com a União Europeia uma parceria para a mobilidade, em que são dispensados vistos para a visita ao país e que detém a presidência da CPLP.
“O que terá passado? Que erros foram cometidos? O quê que deveria ter sido feito e não se fez?”, questionou Rui Semedo.
“Por mais que se esforce não se compreende porquê que se recusa vistos ao Estado de Cabo Verde, porque é disso mesmo que se trata, uma vez que os atletas estão indicados para representar o país”, prosseguiu o dirigente partidário.
Para o líder parlamentar, a seleção de Cabo Verde não é um grupo, mas sim um conjunto credenciado para representar, ao nível desportivo mais elevado, as cores e os símbolos nacionais, incorporando ou carregando consigo a alma da Nação.
“Esta questão não se resolve apenas com a manifestação da indignação ou a proclamação da solidariedade do Instituto do Desporto e da Juventude (IDJ) ou ainda com a comunicação ao país do Ministro do Desporto manifestando a sua impotência perante todas as suas infrutíferas diligências”, manifestou.
O presidente do grupo parlamentar pediu, por isso, ao Governo “uma explicação responsável, clara e convincente” sobre o que terá passado, com uma garantia que atos do género não voltarão a acontecer.
Para Rui Semedo, a participação de uma seleção de um país é uma representação externa deste mesmo país, que precisa de uma “retaguarda forte” garantida pelo Estado com todos os seus recursos institucionais, logísticos e administrativos.
“E aqui a pergunta que fica é onde estava o Ministro dos Negócios Estrangeiros que deveria abrir os caminhos, facilitar os acessos e garantir as ligações institucionais necessários com os países para evitar este vexame?”, voltou a questionar o dirigente partidário cabo-verdiano.
O caso foi tornado público há uma semana pelo IDJ cabo-verdiano, dando conta da recusa de vistos - pelo Centro Comum de Vistos (CCV) da Praia - a três dos cinco atletas residentes no arquipélago convocados para integrarem o estágio em Portugal (02 a 08 de novembro) de preparação para o Mundial de andebol masculino, que acontece de 14 a 31 de janeiro, no Egito.
Três dias depois, o ministro do Desporto, Fernando Elísio Freire, disse que o país “fez tudo” o que podia neste caso e defendeu que estas situações não deviam acontecer.
Na terça-feira, o presidente da Federação Cabo-verdiana de Andebol (FCA), Nelson Martins, acusou o Centro Comum de Vistos (CCV) de “falta de respeito e humilhação” e de não justificar formalmente a recusa de vistos a atletas para o estágio em Portugal.
Contactada pela Lusa, fonte oficial do CCV disse apenas que os motivos foram explicados aos próprios atletas.
A seleção cabo-verdiana que integra o Grupo A, juntamente com Hungria, que vai ser o adversário de estreia, bem como a Alemanha e Uruguai, nesta que é a sua primeira participação num Mundial da modalidade.
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