Militar, Major e treinador. Hélder Alves é um dos nomes mais conceituados da esgrima nacional, numa carreira que já leva algumas décadas e que teve com o grande resultado a medalha de prata de Joaquim Videira no Campeonato do Mundo em 2006.

São incontáveis as competições em já participou enquanto técnico, a que se vai somar mais uma presença nos Jogos Mundiais Universitários. A motivação essa, não esmorece, numa carreira com enormes pergaminhos. Apesar de tudo, reconhece que nem tudo está bem na modalidade em Portugal, e o desenvolvimento passa pela aposta no desporto escolar. Hélder Alves irá orientar Marta Caride e Luís Macedo nos Jogos, atletas que irão competir em florete.

"É difícil quantificar, mas é sempre uma alegria enorme", começa por nos dizer. O caso dos treinadores é cíclico, podemos fazer mais acompanhamento. É uma competição com uma particularidade muito grande, com uma organização parecida aos Jogos olímpicos, mas com o espírito universitário. Estão lá atletas de grande nível e para estarem lá, mesmo tratando-se de Jogos Universitários têm que ser dos primeiros dos seus rankings e acompanhar esses percursos é muito gratificante", salienta.

SAPO Despoto: Quais são as dificuldades que sente nos atletas que conciliam a vida académica com a desportiva?

Hélder Alves: Sente-se mais quando eles fazem a transição de júnior para sénior e passam a integrar as universidades. Há uns que conseguem conciliar e outros não. Naturalmente há a transição, com a entrada na Universidade e depois de entrar há o ‘Então e agora’. Depois de entrarem na Universidade é preciso corresponder ao nível da exigência da parte desportiva e da parte Académica. Por isso é que temos atletas em patamar de excelência.

SD: Treinou o Joaquim Videira, que conseguiu um título de vice-campeão mundial, tivemos agora uma medalha do João Frazão nos Jogos Europeus. É sinal de que a aposta na modalidade está a dar os seus frutos?

H.A: É o acreditar que é possível. Na altura o Joaquim Videira era número 160 do Mundo, com 22 anos, um jovem universitário, e mostrou que era possível. Antes também tinha havido uma equipa de florete, em que foram campeões da Europa, e isto com uma estrutura de desporto escolar que não é tão boa como gostaríamos. Estes últimos resultados, não só do João Frazão, mas como do irmão Filipe e do [Max] Rod dão ânimo. A exigência é muito grande e haver resultados é sempre bom, porque assim acredita-se mais no processo para atingir patamares como os Jogos Olímpicos.

O Joaquim Videira é um exemplo nesse sentido, fez o seu percurso, concluiu o curso de engenharia eletrotécnica e fez mais um curso de gestão de desporto. É difícil conciliar, não é fácil, mas é possível, com o devido acompanhamento das federações, da FADU, dos treinadores. E nestes jogos também se faz a seleção de quem é que segue e quem é que tem de deixar o desporto para trás. Aqui não há escalões, tenha o atleta um metro e meio ou dois metros competem na mesma, tenham setenta ou cem quilos competem na mesma competição.

SD: Atletas que competem a alto nível têm outro tipo de ferramentas para enfrentar o mercado de trabalho?

H.A: Garantidamente irão ter. Um desportista que sabe o que é ser disciplinado e tem resiliência reúne uma quantidade de fatores que o vão ajudar para a vida e são mais valias para o processo. Desporto nunca fez mal a ninguém, é possível fazer uma alta competição saudável.

SD: É possível acreditarmos em bons resultados, mesmo com condições inferiores aos outros países e com menor campo de recrutamento?

H.A: Desde que uma pessoa dê o máximo, a mais não é obrigado. Se estamos sempre a dizer que somos um país pequenino, em que não há apoios começamos a ficar deprimidos. Tem que se semear, adubar, podar. Há espinhos e dificuldades, mas quando o atleta percebe que deu o seu máximo não se pode exigir mais. Se ganha a prova, senão ganha, tem que se ter espaço para que as coisas possam acontecer. O Joaquim Videira quando chegou à final bateu um italiano que era o número 8 do mundo, ele era o 130.

SD: E quais são a expetativas para os Jogos Mundiais Universitários?

H.A: Eu sou um mestre às três armas, mas mais especializado na espada. O Luís Macedo passou a fase de grupos e deu o seu máximo. Há coisas a trabalhar, no que eu puder ajudar estarei lá ao seu lado. Vou pedir correção a nível de fair-play e a nível técnico. Se isso se vai traduzir ou não num bom resultado, quem sabe. Em em relação à Marta Caride o discurso é o mesmo. Vou tentar prepará-la, no curto espaço de tempo em que estivermos juntos. Não há armas melhores e piores no caso da esgrima. Mas no caso do florete, a nível de arbitragem, é mais complexo, é preciso ter outro tipo de sensibilidade, é ligeiramente diferente.

SD: Como é que olha para esta nova geração que está aí a aparecer?

H.A: Quando os resultados aparecem, há expetativas para que apareçam melhores resultados no futuro. Queria que mais resultados aparecessem, estavam eles a competir na Polónia nos Jogos Europeus e eu na cadeira a viver cada toque com o Miguel, com o Filipe, com o Max, era como se estivesse lá. Quando melhores os resultados, mais animados ficamos. Quanto piores mais trabalho temos para desenvolver para acreditar que estamos no caminho certo.

SD: Tem-se conseguido atrair mais jovens para a esgrima?

H.A: Eu tenho estado ligado à sala de armas do colégio militar, onde não têm faltado praticantes. Nesta última prova organizada pelo Colégio Militar, onde esteve presente o Nuno Frazão que está ao nível de campeonatos da Europa, mas não deixa como professor de estar ligado ao desporto escolar. Estava a fazer divulgação do desporto que gosta, com mais de 200 miúdos a praticar esgrima.