O vinho desperta o olfato, os sabores chamam pelo palato e Lezíria convida a visão.

Estas são os sentidos despertos durante o ano inteiro na cidade ribatejana do Cartaxo, mas é na bola oval que estarão concentradas todas as sensações neste sábado, 29.

O epicentro ocorre no Estádio Municipal do Cartaxo (16h00), na estreia da seleção nacional feminina de râguebi nesta paragem da margem direita do Rio Tejo. Um Portugal-Espanha abre o Women's Rugby Europe Championship 2025.

O duelo ibérico é o único jogo disputado em casa, seguindo-se, fora, os Países Baixos (6 de abril) e Suécia (12 ou 13 de abril), as mesmas três seleções do Europeu do ano passado, ano em que Portugal, então em estreia,  venceu as suecas, após derrota sofrida diante as neerlandesas e espanholas.

O torneio europeu junta, pelo segundo ano consecutivo, quatro nações num modelo todos contra todos a uma só mão. As lobas, cujo projeto de XV renasceu a partir de 2021, repetem a presença na 1.ª divisão do râguebi europeu (As Seis Nações é um torneio privado) depois de terem sido campeãs do Trophy.

“O objetivo é sempre fazer melhor do que o ano anterior. E, não passa, somente por resultados, passa também pelo processo e performance”, sublinhou João Moura, selecionador nacional.

“A Espanha e os Países Baixos estão acima de nós. Isso é notório. A Espanha está apurada para o campeonato do Mundo, recentemente fez um contrato com 32 jogadoras para o mundial, é campeã deste torneio nos últimos 11 anos, portanto, tem aqui uma experiência completamente diferente”, apresentou.

“Os Países Baixos tiveram também uma oportunidade real de se qualificarem para o campeonato do Mundo, na participação da recente competição da World Rugby (WXV3), tiveram uma preparação completamente diferente e adequada para uma competição mundial e vêm, com certeza, com um ritmo diferente. Como equipa física, são sempre adversários difíceis” caracterizou.

Em relação a Portugal, é claro. “Vamos precisar muito para poder fazer diferente”, assumiu ao SAPO DESPORTO. “Foi interessante ver, no pouco tempo que conseguimos estar juntas, como as jogadoras absorvem as informações, as pequenas mudanças que queremos e que vamos incutindo de jogo para jogo, de ano para ano, e a forma rápida como põem isso em marcha”, resumiu.

“A prova disso, para mim, foi o jogo contra o Brasil (12-19), seleção apurada para o campeonato do mundo. Infelizmente, não saímos das Caldas com uma vitória, mas acho que o jogo não deixa nada a desejar”, recordou.

O bom presságio do fim das provas domésticas

A conclusão das competições domésticas, Taça de Portugal e Divisão de Honra, são um bom presságio para João Moura. “Vejo a tranquilidade na forma como as jogadoras se dedicam ao clube e à seleção, mas, acima de tudo, sinto um ritmo um bocadinho diferente naquilo que é a sua chegada em termos físicos e de disposição”, comparou.

“Terminaram um período competitivo nos clubes e aparecem com esse ritmo nas pernas”, sublinhou, referindo-se às 18 lobas que atuam nos emblemas nacionais onde o Sporting (6), seguido do Sport C Porto (4) e Benfica (3) são os maiores fornecedores.

Em relação às cinco jogadoras que jogam fora de Portugal, quatro delas em França (Inês Marques, Sara Moreira, Clarice Augusto, Cloe da Costa e outra da Suíça (Marta Magalhães), Moura saúda a “preparação um bocadinho mais exigente”, em especial no campeonato francês, e a chegada ao seio da seleção com “um ritmo competitivo diferente, com jogos todos os fins de semana e intensos”, descreveu.

Tal como nos seniores masculinos, também as lobas negoceiam com os emblemas gauleses a utilização nos jogos internacionais. “Felizmente, há clubes, como da Inês Marques (Valkyries Normandie FC) que percebem a nossa realidade e a nossa dificuldade e tem outra atenção. Outros, são intransigentes e libertam as jogadoras só para os jogos e temos de nos habituar e adaptar a essa realidade”, alertou.