
“Aquele Abraço”. A música de Gilberto Gil, cuja letra teve inspiração no período em que o cantor baiano esteve preso no final da década 60 do século passado, foi composta quando saiu da prisão que lhe foi imposta pela ditadura militar brasileira, entre dezembro de 1968 a fevereiro de 1969. Tinha um significado. Era o hino de uma despedida do Brasil. Daquele Brasil, antes de Gil partir para o exilio.
Na escadaria para o pódio do MEO Rip Curl Pro Portugal, em Supertubos, 3.ª etapa do circuito mundial de surf, Yago Dora, vencedor da prova portuguesa e Italo Ferreira, na segunda final perdida em Peniche, deram um longo abraço. A música (ouvia-se reggaeton) foi outra, assim, como o significado.
“A gente sabe que todo mundo tem o seu momento. Abracei ele na vitória dele em Saquarema (2024), a gente compartilhou uma final lá e agora que venci e ele veio-me abraçar”, contou Yago Dora. “Foi a minha vez aqui”, sublinhou.
O abraço de Italo, natural da Baía Formosa, a Dora, natural de Florianópolis, Santa Catarina, trouxe, igualmente, a força de umas palavras em português do Brasil, na primeira final 100% brasileira em Portugal, um autêntico “Domingão” na praia portuguesa da Costa Oeste.
“A gente sempre tem algum comentário a fazer sobre a bateria ou algo assim. Estávamos falando do aerial (aéreo) que ele acabou caindo, provavelmente seria um 10 se volta e cada um parabenizando o outro pela performance durante todo o campeonato”, disse.
“Falei para ele (estou) feliz por compartilhar a final com você”, confessou, em discurso direto naquele português açucarado, na areia da praia após ter subido ao pódio para levantar o troféu e receber os 80 mil dólares (73 mil euros) de prémio.
“O Italo é uma inspiração, é um competidor incrível e foi uma honra ter compartilhado a final com ele e sair com a vitória”, reconheceu Yago Dora, surfista que soma a segunda vitória no circuito de elite da WSL. Curiosamente, a primeira subida ao topo falou também português, em Saquarema, Rio de Janeiro, em 2023.
Yago Dora e Italo Ferreira são adversários no CT, mas tal não significa que guerreiem fora de água. “É legal demais, um puxando o outro. A gente é adversário. Claro que a gente quer os nossos objetivos pessoais, mas é bom ver que os outros admiram e respeitam o seu trabalho”, anotou.
O triunfo em Supertubos empurrou Dora 11 lugares no ranking WSL, cuja licra amarela permanece no corpo de Italo Ferreira. “É uma vitória na conta. E é muito importante, são pontos muito importantes para mim. Espero usar esse momento para continuar indo para cima do ranking”, rematou o atual número 4 da hierarquia.

Em Supertubos, mandam os brasileiros
Yago Dora prossegue o domínio brasileiro em Supertubos, local onde há uma “conexão especial” dos surfistas do outro lado do Atlântico. Seis triunfos em 16 edições e Dora junta-se a uma galeria onde estão os nomes de Adriano Souza (2011), Felipe Toledo (2015), Gabriel Medina (2017), Italo Ferreira (2018 e 2019) e João Chianca (2023).
“Todos os surfistas brasileiros chegam aqui e já se conectam com o lugar. A gente se sente em casa e dá para ver nos resultados isso. Não só essa conexão, mas acho que o estilo da onda também é bem compatível com o nosso tipo de surf”, caracterizou o atleta que, por força da concentração de quatro baterias numa só dia, vestiu quatro vezes a licra de competição.
“Estou bem cansado. Se tivesse que ir mais uma, não sei o que ia acontecer. Mas consegui ter energia suficiente para o dia inteiro, surfar o meu melhor o dia inteiro, dei o gás até o final e dei o meu máximo até ao final da remada que tinha que tentar alcançar o Italo, estava disparando para longe. Tirei a energia lá da alma mesmo para dar o meu melhor”, finalizou o vencedor da 16.ª edição do MEO Rip Curl Pro Portugal, 3.ª etapa do Championship Tour.
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